23 de outubro de 2009

Croqui de Mim

Eu preciso explodir uma bomba no Sul do meu corpo
Ou implodir o sistema central
Que não se orienta pelas setas traiçoeiras.

Meu norte não é a sorte
De quem já não mais acredita
Nesse blá blá blá de direções favoráveis.


Eu preciso visitar Recife,
Acolher Maceió que me acolhe tão bem.
Eu preciso detonar São Paulo e as cidades vizinhas.

Pelo território do meu corpo e por onde andei,
Acho que minha próxima parada é outro mundo
- não foi Curitiba -,
Mas como ele é improvável,
Deixe-me desbravar cada avenida
E cada pedacinho da terra e corpo alheios.

Eu preciso esquecer a puta vida
Que me apresentam em cada esquina de cá.
Ler o que tem de ser lido,
Escrever o que tem de ser escrito,
Ganhar o que há tempo foi perdido.
Será preciso?

Meu mal necessário é a dinamite.
Ela está em minhas mãos.
Peça a Deus para eu não me converter ao islã.
Porque Alá, só há lá.
Há Alagoas, de onde vim, sem paz,
Mas achei paz necessária
A fim de que eu possa me ocupar
Em ser feliz,
Em reconstruir o mundo que você implodiu em mim.



Imagem capturada de http://arenaarquitetos.files.wordpress.com/2009/04/adega-mza-croquis-de-cava.jpg

17 de outubro de 2009

Outra Linha

Hoje, uma gargalhada gratuita.
Não vou cobrar o estrago que me causaste.
Não sou de pedir esmola a pobre pessoa.
Não vou mendigar a impossível coisa boa.

Olha quanta riqueza concreta desta janela:
O amanhecer minutos depois que viste o sol!
Por onde olhas, neste rumo, covardemente?
Não me interessa nenhum pouco do teu sereno.

Quantas linhas pretas desperdicei nesta vida
A descrever futuros imprevisíveis diante de tua amplitude:
Limitava cada centímetro que pudeste ousar
Eu abrangia a semântica entre tuas vírgulas ausentes.

Minha mãe me viu chorar pela única pessoa
Que ela soube nome e sobrenome
Ela não se importa com assinatura que levas em teus documentos.
Eu não me preocupo mais com o teu silêncio.
É outra...

Outra forma de ver o céu daqui debaixo
Onde já cantadas leis distintas
Não me resumem a Zé Ninguém.
Apenas o peito que abriga o mundo de marcas
E feridas cicatrizadas que eu mesmo fui buscar anti-inflamatórios.

Linhas brancas, estas novas sementes de nenhuma teoria.
O mesmo repeteco de uva passa, passatempo e tudo passa.
Eu só não fui covarde como me foste um dia..
E quem diria?
Eu descubro sozinho todo chão não mapeado que estou pisando.
É mania!

Eu poderia cantar Trocando Miúdos,
Mas não dá para equiparar nada tão singular que foi.
Só que de novo a gente só conhece uma vez
E se torna antigo, peça de coleção para quem queira
Ou doação à museu de peças raras ou usina de reciclagem:
Sabe-se lá!

Há coisa maior no mundo para perder o sono,
Para contar gotas de rivotril e acalmar mentiras.
Há pessoas e pessoas circulando na Glicério esta hora da manhã..
Bater um papo sobre o tempo na padaria da esquina.
Porém, esquinas não são lugares apreciáveis para o amanhecer.

O que eu faço com a lembrança:
Embrulho e lhe dou laço de fita, demarcando vaidade
Ou queimo e dou aos viciados em crack daquele viaduto?
Ai, eu nem sei mais o que fazer com nada que ficou de ti.
Dá preguiça achar o que fazer e melhor vomitar aqui,
Em linhas brancas, não indiferentes, mas sem muito significado.

Eu perco apenas alguns minutos torcendo os últimos pingos
De uma história ousada, maculada, testemunhada
Por Lucianas, Sônias, Paulos, santos e paus ocos.
Não há mais nada o que extrair desse pano sujo de nanquim.

Será melhor escrever por propriedade sem arrepedimento,
Sentindo-me limpo, alvo, mais branco que alvejante ajuda a compor
Talvez eu escreva mais duas linhas,
Ou simplemente acabe uma linha sem dizer por que.
Não tenho mais nada a dizer senão algo novo.

Aí, serão outras linhas.
Novas linhas que desperdiçaria
Recentes panoramas, coisas caras, valores
Cá entre todos nós:
Coisas de dividir com amigos
O que nem conseguiste fincar.
Enfim... outra linha.


Imagem capturada de https://www.naturaljoias.com.br/images/fios_cordes_e_correntes/linhas_para_pedras_e_prolas/linha%20forte%20branca.jpg

13 de outubro de 2009

Trincheira Campineira de Tragos e Tiros


Amor anormal de um vocativo temporário que me chama à guerra.

Há duas forças opostas dispurando a vitória? O buraco que chama a cair e minha mão que lhe ofereço a sair e andar.

Os revólveres, as metralhadoras, as dinamites ou a bomba atômica... meu medo é muito maior que as armas que um homem pode usar, é pior que destruição em massa.

Fim de semana de ver os tiros que lhe dessem prazer em morrer mais um pouco: letárgico solvente, dissipando flores brancas, cheirosas ou fedidas. Eu não sei!

Eu só sei que eu vi. Vi uma guerra imperceptível a olho nu. Eu me vi no meio de uma trincheira e permaneci inabalável a cada estrondo dos sussuros ou gritos de quem se entrega à batalha por prazer e fraqueza.

Nossos tragos,
los tragos de buen amigo... seus tiros e as lembranças do sofá. Em casa ou na rua; naquela praça de guerra, não da paz celestial, eu não via general, tampouco hierarquia. Todos iguais e cada um optando pela marcha de seu rumo.

Eu quero trago, o aceno do lenço branco, e você insistirá com seus tiros? Não seremos inimigos, não seremos semente de discórdia alguma.


Sei que viemos do pó e ao pó voltaremos, mas eu só esperei a poeira baixar
e ver que, sobre esta terra, eu quero a paz.


Imagem capturada de http://www.brasilescola.com/imagens/historia/segundaguerra.JPG

1 de outubro de 2009

Os últimos batuques daquela canção

Tão difícil acostumar-se com o fim do carnaval. Canção que não entoa, gera silêncio. Sombrinha colorida abandonada ao chão, sinalizando o adeus do passista. Armas de defesa largadas, enfim. A música ligeira que não deixou rastros de velocidade; simplesmente parou num tempo que por dias retardou minhas manhãs momescas, de alegria e morfina.

A efervecência ficou numa manhã dessas, perdida num mês qualquer; não lembro com exatidão, porque tudo pareceu inexato - mas não é. Tampouco o Galo da Madrugada preservou seu som a fim de que possa me acordar, desejando o vaivem das massas, como num passo mágico a me ensinar o ritmo de comemorar os sensores que nada ficaram intactos. Não se traspassa uma quarta-feira de cinzas impunemente, mas a esperança ressurgente é a lição que vulgarizaram da pobre Fênix.

Quem não tem Fênix canta com Galo. Quem não tem Galo perde o gosto animal e ergue ode à flora. A começar com as orquídeas, eu vou construindo um novo jardim, a encobrir a calçada inóspita que abriga sobrinhas largadas desse frevo que não toca mais o coração.

Sim, estou passando as Vassouras, no solo da memória, porque a vida desabrigou a crença no amor à canção. Ao passo, o céu sumia, posto o teto que encobria abrigo, impossibilitando de ver estrelas. Perdeu-se o calor, a sombra em dias tórridos, a música ligeira... Veio à noite, o antigo prazer de contar estrelas cadentes. Mais uma.

Madalena, tropical, que eu cantei seu amor, agora estou aqui, a escrever em tua Vila, fria, calando os versos e os cento e vinte passos com ironia.



Imagem caputada de Pedra de Ajuda