20 de fevereiro de 2011

O homem e uma maçã

Um homem fica na dúvida ao escolher o fruto que simboliza o pecado. Pecado é não escolher, é salivar de vontade e desprezar as opções numa cesta qualquer. Escolha uma, talvez a que aparenta maior beleza, a mais vermelha ou a mais próxima à sua posição. Distância, substância, apreensão ao que visualmente o atrai. O sabor é o mesmo, maçãs são elas mesmas e, propriedades à parte, é um alimento.
Podem lhe oferecer uma maçã argentina... Você vai conversar com ela? Não importa seu nível de fluência num idioma, a língua, neste caso, terá a função literal, apenas. Coma maçã, não hesite. Justifique depois, se tiver de prestar contas à sua tabela de calorias, mas coma.
Devem lhe oferecer variações da espécie: daquela mesma, serão tantas para escolher apenas uma, caso sua fome não seja tanta. Haverá muitas delas, mas você só quer uma...
Faz tempo que você não come maçã? Bem, existe jejum de maçã, creio, e isso é opção de cada um, e o fato de optar não as comer é mais sofisticado do que escolher uma dentre tantas delas, e ingerir.
Em suma, não haverá muita confusão quando a fome vier; se vier com força, ou talvez brandamente...Estique sua mão, homem, recolha e coma a mais bonita, a mais vermelha, a mais próxima, mas não duvide para não deixar de comer quando seu corpo pedir, "porque quem gosta de maçã irá gostar de todas, porque todas são iguais."

Imagem: Instituto Agronômico do Paraná

11 de fevereiro de 2011

Lição enésima

Mais azul impossível para esses dias.
Não por completar a maldita felicidade que se joga no nosso destino como um suicida, desejando ser atropelado por um turbilhão de sensações difusas em cada sorriso dado à vida.
Assim me sinto, não por completude, mas pela perspectiva que veio tímida, mas, a curto prazo, não compromete mais a noção de rumo. Será que os dias de cão acabaram, tal qual ouvi numa música?
Eu não vou impor ao meu caminho que os resultados tenham prazos para ontem. Não é o lema de inimizade à perfeição, é apenas uma estratégia de gradação pela absoluta certeza de que o ancoradouro é seguro demais e, fincado, colherei os bons frutos de um planejamento que começou a ter intuito de sobriedade.
A ansiedade também é algo que preciso mencionar. Ela está em níveis colossais por uma nova função na vida, à qual fui atribuído recentemente: colaborar com o conhecimento de quem está em fase sedenta de aprendizado. Hoje, meu vocativo é professor, meu compromisso é com o ensino e o amor continua sob as rédeas sábias da fraternidade e, claro, daí tirar-se meu ganha-pão. Vem aos poucos, vem pouco, mas dele fazer muito é outra habilidade que o médio prazo costuma legar.
Existem, hoje, a tarde toda, a manhã toda e a noite, criança, para se aproveitar cada minuto e planejar, para sequer reclamar do pouco tempo, porque, faz tempo, a agenda é um auxílio essencial no cotidiano. Eu troquei um diário de queixas por um período de produção, com contribuição dada a mim e aos outros. Eu vou encarar esta jornada com coragem e sabedoria, porque sinto que enferrujaram, devido ao tempo dedicado aos sonhos secos. Há uma umidade incrível para a semeadura de projetos que incorporam outros protagonistas. E como não deixaria de citar Charles Chaplin, meu sonho, antes sozinho, ficou parado ali mesmo, mas a realidade é uma luz ao fim do túnel, posto que a etapa seguinte é o conjunto.

7 de fevereiro de 2011

Agora que estou velho.

Avião que não sai da sua rota
Quem é aqui passageiro?
Passagem: compro de ida e volta.
Eu ando passando mal por esses caminhos.

Carrego um excesso de bagagem
E isso não é vaidade, é precaução.
Levo toda a vida numa só viagem,
Porque onde for melhor, fico;
Porque se tiver silencioso, grito.
O barulho das turbinas não pode intimidar mais.

No saguão, há tantos que passam,
Que discursam e se enganam;
Eles enganam.
Ao embarque, somem.

De volta, sempre desembarco aqui.
Parecem não querer mais transeunte.
Mas se eu vim para ficar...
Como é difícil de entender?

Entendimento nunca foi anfitrião.
Forasteiro não tem espaço para confundir.
Se houvesse discernimento,
Se houvesse mais do que o talento de ser nato,
O fato seria abrir os olhos e receber
Com bom trato desde o portão de desembarque
Até pelos caminhos da cidade que quero dormir...
Em paz.

Imagem: Aeroporto Internacional de Viracopos/Campinas-SP