22 de maio de 2012

Uma ridícula samambaia

Já havia pouco mais de uma hora que eu estava deitado e tinha uma outra trincheira dentro de mim a acometer sentimentos revisitados, depois de alguns meses esperando um recomeço com o relógio do avesso na mão. É o primeiro, e eu pensaria, o primeiro, enfatizo, após os últimos instantes que admirei uma ideia similar àquelas as quais discorri em outros intervalos da culpa. 
Quando não sentir culpado significa apoiar-se em partícipe é bem gostoso. Um crime doloso é, que a Globo já repetiu quinhentas vezes, quando há intenção de matar. Um dano comissivo para acabar de vez com a opressão das indagações com ausência de interlocução. Revolta, mesmo, dessa de querer assassinar as dúvidas infiltradas no intestino grosso e por todo resto do de comer para sobreviver, alimentar-se de ares frios da Campinas que nunca minha foi. 
Se você perguntar a um assaltante de geladeira qual a melhor hora de cometer seu crime, certamente, responderá que a madrugada, calada da noite. É que os desejos insalubres parecem brotar quando há silêncio na rua, quando dormem inocentes e quando criminosos, os rivais, também deitam-se na cama das mulheres, dos homens, das crianças, invariáveis gêneros de fantasia ilegal. É o caos!
Não consegui pregar os olhos porque a genética predispõe minha violência. Deu vontade de comer, de beber meus goles de rum doado, de vinho mais velho que eu, qualquer bebida que aqueça... Deu vontade de fumar, até me masturbar pensando em contos eróticos dos meus vinte e poucos anos que precisam (façam o favor!) invadir essa realidade em que hoje me encontro, querendo comparsa pra minha ira cuspir mais uma tragédia, a quem, carinhosamente, não chamo porque me escondo nos outros contos eróticos dos vinte e poucos anos. Contudo, o resultado foi a falta do que fazer, falta do que dizer e a ganância interminável de devorar dois artigos para falar bem sobre outro assunto que, também, faz meu coração pulsar, minhas mãos suarem, e me encolher nos desvãos das minhas particularidades. E tudo que consegui até o momento foi a parceria constante de confidente, a me incentivar em escrever uma agonia, a fim de despertá-la pro êxodo de mim. Há quem lhe queira bem e espere em você o melhor que se possa fazer pra não esquecer que as horas passam e há necessidade de se fazer algum útil por quem quer que seja, sobretudo pra você mesmo. 
Dois sachês de camomila garganta adentro, papos infelizes e felizes também, comentários de fim de semana, de cardápio casual, de doença, de maldade, do medo que me remete a este canto pra catequizar toda minha instituição laica.
Acredito que noventa e nove por cento da minha honestidade está bem resolvida, mas tem uma lacuna percentual que faz da hipocrisia - quando desconverso o centro do meu fractal - o melhor escudo e negação de poder aquém da similaridade que estou buscando.

20 de maio de 2012

Um canavial com um espantalho no meio

Eu não conseguia mais me reconhecer nas abstrações, até o conteúdo das minhas metáforas - jeito gostoso de falar, acompanhado por um tom mais brando de voz - não pareciam mais com aquele homem que germinou e foi cuidado como a relíquia do canteiro. Um caule cansado de sustentar as folhas murchas e sem um pingo de água pra beber, desde quando descobri que as águas, de janeiro, fevereiro ou março, qualquer estação, fizeram-me um ser com vida, mas sem brilho. Estou tão inerte que até me confundo com um vegetal. Consegui amar (o começo gostoso) de novo e, olha, não consegui nem as palavras mais bonitas que estudei por toda a vida. Não sei mais o que dizer.
Não dedico mais música em um só nome, como também não escrevo mais poemas e exalo minha pieguice pelos quatro cantos de uma vez, nem na quarta tentativa. Não sei acordar mais com um bom dia depois de uma noite maravilhosa de dizer coisas raras que parecem textos repetidos... Eu não consigo mais ouvir. E se escuto, não consigo responder que meu objetivo é o amor, porque passaram, muito tempo, dizendo-me que a si próprio é o melhor, mas nem esse, ainda. 
Vontade até tenho, sabe, de dizer mais, mas não consigo outra vez. Trava na garganta e o que assumo de risco é muito pouco pra convencer o outro do entendimento de que eu não sei de nada, mas adoraria aprender junto. Perdi muito tempo olhando pro nada, pensando em falar aquilo e aquilo ficava lá entre as garras de cimento que escondi no meio das minhas vísceras pra me proteger do caos. Vivemos calculando a entropia, no entanto não movemos um desgaste, o último suspiro por acreditar em ninguém, só nos lamentamos e o lugar permanece o mesmo: o não lugar. Dane-se o campo, a cidade, a cosmopolita satanização de todos os rurais que um dia desejaram ser cidadãos embaixo da sombra dos edifícios que arruínam! Nada desse projeto, essa análise das pessoas serviu pra construir um lugar comum: o nosso. Mas, desculpe-me mais ainda, eu não tenho espaço algum para oferecer. Acho que precisamos fugir daquela gente pra... eu não sei pra quê, mas a intenção é sempre ficar, quando está bom; fugir é verbo constante. 
E quando vem me falar do amor, da vontade de amar, da necessidade de encontrar-se no outro, eu nem consigo dar risada, não acho graça, não acho nada, está perdido, avalio. 
Sobra gente demais pra cuidar de mim em duas horas, um fim de semana, uma caminhada até os íntimos tetos e paredes que poderiam acolher cemitérios. até o significado das coisas usuais mudou, mas nada em mim continuou o mesmo, porque nunca foi nada mais do que a coisa mudada, alternada entre certo e avesso, sempre pelos outros olhares. Contudo de mim, só ficou o lado bom de ser fiel à vantagem, a minha, claro, de ser profundo conhecedor das angústias e parecer ter nas mãos o antígeno para produzir minha própria vacina. Mas, espantado com isso, eu não atraio uma infecção além da minha sinceridade recoberta de palavras que não são aquelas que um dia cultivei em papéis de lembranças das coisas bonitas. Não tenho a quem dizê-las e todas as vezes sempre fui mal entendido. Calado, um amigo me disse e eu concluo: quero a paz interior, algum valor, pra chamar de meu e não reconhecer-me no outro, jamais.
Sabe por que de tudo isso? Só fui reconhecido como o vilão ou a mocinha. Ninguém conseguiu me ver como aquele que passa tranquilo na calçada, como figurante dessa cambada de loucos cujo emprego em atuar precisa sempre de uma luz, de uma câmera e sua ação ensaiada, como quem fica em casa ou vai ao trabalho cumprindo o roteiro de um filme banal. 
Quer saber mais, tudo o que eu tinha de esperança no romance, eu perdi, não sei ser mais romântico. Assim, fica o penoso, o que conta decréscimos, o alimento de um animal não estimado. Tendo ainda já me candidatado a cãozinho qualquer e reprodutor das coisas pueris, até já brincando de ser dono da situação pra enfatizar domínios, eu só resumo proezas daquilo que somente eu vi e foi muita criatividade minha.
Quando tento evitar o olhar, o cheiro e o prazer de estar junto de quem eu quero para sucumbir essa vontade insaciável de ser mais do que eu fui pra mim e que lhe foram, também, eu consigo esquecer tudo, mas o danado do ciúme que eu tenho, preso e bem caladinho, fica me espetando os poros da solidão pra favorecer ainda mais a excreção dos meus transtornos, coisa necessária, mas que dói; bastante. Eu só preciso apagar esse ciúme de quem se aproxima de você, de quando você fala das possibilidades além de mim e daquilo que nunca lhe propus, mas que você já sabe, porquanto exatos foram meus verbos, mesmo atropelados pelos meus advérbios para engordar meu texto e eu ficar mais tempo perto de você, ouvindo tudo aquilo que você diz, mas que nunca foi, exatamente, o que eu queria ouvir. Não é. 
Eu não posso deixar que fique essa ideia enganosa de que meus outros dias com outras circunstâncias faz de você a mesma coisa que todo mundo pede e que eu pedi de todo mundo também e é, inclusive, o que você já tanto teve. Só não posso ir mais além porque tudo o que me resta ainda é o ciúme. E se ele for, vai ficar apenas a minha humildade. Com essa, eu vou alcançar meu horizonte cinzento, sozinho. E não vou dividir com você nem com ninguém qualquer mérito que possa ser mais bonito se motivado pelo afeto. 
Eu tenho uma semana, sei lá, para acabar com o meu ciúme. Mas, sinceramente, não é o que deixaria feito presa de caça aleatória, é mais bonito, eu não consegui lhe dizer, é que eu só vejo beleza em você e, todos os defeitos, converti num espelho parecido com o que sou.
Se eu conseguisse voltar uns anos só pra buscar a coragem de endereçar isso em uma carta, em uma semana, tempo-limite, pro meu ciúme pendurar suas botas, você saberia que se engana muito achando que o que eu quero de você é... Na verdade, eu quero tudo e até me mudo para o endereço onde possamos nos achar, felizes, mas ainda estou aqui com meu ciúme e a necessidade de abandoná-lo; acostumar-me com o que vem daqui pra frente, quer você veja ou não, sempre estarei deste lado aqui, porque esse é meu único lugar... desconfortável, pode ser, mas meu. 
Mudando de assunto... nesses arredores, quanta cana-de-açúcar e a vida não está doce!