20 de junho de 2013

Protesto em Campinas

Pouco antes do sol se pôr, neste 20 de junho de 2013, as ruas centrais de Campinas estavam tomadas por uma multidão que segue reivindicando seus direitos. Jovens, crianças, idosos, gays, mulheres, negros, trabalhadores, desempregados, estudantes, todos a fim de protestar contra a banalização que viraram as decisões políticas no país. Pessoas fantasias, vestindo verde e amarelo, branco, azul, portando bandeiras e faixas em tom de manifestação contra tarifas de transporte público, corrupção, investimentos direcionados a eventos em detrimento da educação e saúde, tão deficientes no Brasil. O povo campineiro e quem se radicou na cidade, formava um coro que cantava palavras de revolta e consciência da necessidade de mudança.
A passeata seguiu pelas principais avenidas do Centro da cidade, até a Avenida Anchieta, onde fica o Palácio dos Jequitibás, sede da Prefeitura de Campinas. Ali, uma barreira policial intimidava os ânimos mais acalentados, revoltosos, com todo equipamento bélico para conter a multidão. Ainda assim, nós seguíamos até à porta do paço municipal para gritar nossos lemas de ordem e mudança. Entre os milhares que sacudiam vozes e corpos contra um sistema que privilegia alguns, deixando a mercê a maioria da população, havia um pequeno grupo, formado por umas dezenas de adolescentes e adultos que distavam dos propósitos desse movimento em favor da democracia e respeito aos nossos direitos.
O pequeno grupo, em discrepância com a ideia central do nosso protesto, começou a depredar as paradas de ônibus, quebrando seus vidros, depois jogavam pedras, pau, garrafas de bebida nas vidraças da Prefeitura, causando um grande quebra-quebra.
Em contrapartida ao vandalismo, as vozes que protestavam, também pedia para que esse pequeno grupo não depredasse o patrimônio público, que também é nosso. Entre todos, havia uma resistência dos menores em ouvir, e continuavam a quebrar tudo o que podiam à frente.
Para conter o frisson de vândalos, a Polícia Militar, que estava aparentemente com um déficit de pessoal, um contingente muito pequeno para conter a grande massa, começou a lançar suas bombas de efeito moral, assim o gás lacrimogênio se espalhou pelo ar naquelas ruas entorno à Prefeitura e todo mundo sofria com seus efeitos. O cheiro insuportável descia à garganta, as vias respiratórias, fazia-nos chorar. Eram lágrimas junto ao ódio à repressão que nós sofríamos por responsabilidade do pequeno grupo, cuja luta era inconsciente e mais parecia estar em plena festa do horror.
Pessoas corriam, caíam, machucavam-se, enquanto o tumulto no meio do que se tornou  na verdadeira praça de guerra, comprometendo a mobilização da maioria. Nós não desistíamos, e voltávamos a gritar os nossos direitos, a reclamar as nossas angústias por sermos tão explorados e enganados pelos que nos representam nos poderes que demos a eles um dia.
Mais uma vez, entre nós, a maioria pacífica que apenas se revolta contra a banalização política em que se encontra nosso país, também existiam os vândalos persistentes nas depredações. A repressão continuava e todos sofriam os impactos do gás lacrimogênio e spray de pimenta.
Enquanto eu estive no meio da multidão, presenciei aproximadamente uns dez momentos de tumulto pela ação policial mais severa. Às vezes, até distante 500m a 1km dali, ainda sentia o cheiro forte do gás, como também escutava o estouro das bombas que a PM jogava no meio do povo. Uma cena terrível, uma trincheira que ora revoltava grande parte de nós pela repressão milica, ora pelo descomprometimento dos maloqueiros que prejudicavam a visibilidade da nossa luta.
Já era quase 21h quando presenciei um grupo de saqueadores arrombando um supermercado na Av. Anchieta. Vi que alguns homens e mulheres carregavam salgados, refrigerantes e cerveja. Faziam a festa, como se a luta desses fosse por uma comida gratuita, pela subversão de invadir uma propriedade privada que em tempos normais é tão vigiadas por homens e câmeras. Assim, entendi que a luta deles é por muito pouco, é inconsciente, sem motivação política, sem desejo coletivo de mudança. Lutam, pra não dizer que vandalizam, por conta de bebidas e comidas, que não podem comprar. Entendi, também, que são infiltrados, pela falta de formação política, vítimas de um sistema que os marginalizam há décadas, portanto compreende que a situação vem a favorecer uma ação criminosa pelas leis que nos regem. Aproveitam o foco do poder que nos controla em cima de conter nossos ânimos por uma mudança histórica e, assim, saqueiam estabelecimentos comerciais, igualando-se a tantos outros ladrões que estão ornados de representantes do povo.
Infelizmente, tive de abandonar o protesto porque não quis correr tanto da PM, respirar seus gases repressores porque o vandalismo pequeno, mas destruidor, incumbe o movimento pacífico de pagar por esses atos contrários ao nosso bem maior. Acredito que esses poucos homens e mulheres sempre estarão entre nós, prejudicando mobilização, mas devo confessar que uma das sensações mais bonitas e saber que estamos reconhecendo equívocos e temos urgência em mudar a conjuntura social.

Atraso

Talvez esteja faltando repertório para prosseguir com um sonho que tive desde criança. Sonhei um dia em escrever exaustivamente e que isso trouxesse um ganha-pão para eu não precisar de pensão. Sinto-me desatualizado com o mundo. Esse em trânsito frenético e eu em desistência de acompanhá-lo. Um amigo agora há pouco me falou que é como cozinhar feijão, uma prática diária, escrever sem tempero não dá. Eu estou insistentemente em um dissabor, esqueço do sal e destempero minha culinária, ela é ruim. Não cozinho só pra mim, já tive vontade de alimentar o mundo.
Desprendi-me das ocasiões oportunas: podia ela ser um curso de gastronomia ou uma realização técnica em construção civil. Não edifico nem a calçada que piso. Fico sem chão a maior parte das vezes. Olho pra trás e percebo que eu deixei de mim todo aquele gosto de café da manhã pra começar o dia. Procuro açúcar em vão, confiando na minha doçura. E me sobra o amargo da tarde e a noite sem cheiro de sono. Passo os dias assim, desqualificando qualquer período.
Comecei a tomar consciência do meu atraso quando não sabia mais o que dizer quando alguém me perguntava sobre algo que no passado eu defendia com vigor. Tornei-me o acaso de todas as coisas, por acaso, porque olho pra os lados e só espero que esses não se tornem mais uma prisão para mim. Estou em dívida comigo faz meses. Não sei o saldo negativo dessa porra toda, portanto é fácil xingar de tudo quanto é baixo calão, meus verbetes de quem resmunga.
Assim, decidi retornar para onde vim. Porque quem sabe ali comece tudo de novo e reconheça o repertório de quem está aprendendo a falar, andar, sorrir... Um bebê chorão que verbaliza em sons abertos, os gritos, a exprimir a dor, a vontade de comer ou a necessidade de chamar atenção.
Já é a hora de partir pro começo; quando se diz recomeçar, minhas mãos tremem de medo. Minhas pernas acompanham, bambas, o temor de ver tudo outra vez para reaprender a se reconhecer entre o mesmo sotaque, sob o mesmo calor, os costumes familiares e a exatidão repetida de aprendiz que insiste a falar seus primeiros monossílabos. Ah, presumo que gente parecida dá mesmo medo do que gigante numa terra de pé de feijão, esse que já não sei mais cozinhar. Não é à toa que a todo instante me pego olhando o relógio pra saber que horas são. Almoçar tem sido a melhor parte do meu dia.

14 de junho de 2013

Manipulação midiática no trato de notícias sobre protestos em São Paulo

Até que ponto chega a manipulação do debate, a exemplo da Globo News, no programa Entre Aspas, que está rolou nesta quinta-feira à noite. 
Repare, não desmerecendo instituições como o IBMEC/RJ e a Puc-SP, mas levar dois representantes de instituições privadas, de característica predominantemente elitizada, regidas sob o aval da igreja católica, para analisarem os protestos em São Paulo, é uma falta discrepante de diversificar opiniões.
Obviamente, com essas três vozes, a criminalização da manifestação é a via unilateral.
Primeiro, erram no que diz respeito a comparações entre gerações antes e pós-governo democrático. Seguido a isso, sinalizam de forma equivocada que antigamente não havia tanta violência e conseguiam mobilizar maior número de pessoas. Mas, de que violência eles falam? Claro, da parte da minoria fomentada: os manifestantes. Desde quando o período da ditadura militar teve menos danos à sociedade do que os protestos deste mês? E as torturas por parte dos militares? E ações dos grupos anti-golpe militar, como sequestros de embaixador, envolvendo grandes nomes da política nacional? E as invasões a casas e repressão até de livros marxistas sob pena de tortura e prisão?
Voltando aos convidados ao debate, representante da classe média alta, interessada no status quo, com seus lemas em direção à moral cristã e defesa da economia com menos intervenção do Estado...
Estão malhando as pessoas, dizendo que elas não representam os trabalhadores, que são estudantes de classe média. Mas qual o trabalhador tem tempo pra sair às ruas e protestarem, sob o risco de perderem seu emprego que mal dá pra pagar uma tarifa absurda, acima do índice da inflação?
Francamente, entendo toda a manifestação contrária ao repúdio ao aumento de tarifa por parte de alguns espectadores dessa violência urbana: são pessoas que prezam apenas pelo sossego da maior e mais rica cidade do País, sustentada por todos os brasileiros, não só o povo paulistano, porque querem se manter nesse patamar de "a" metrópole brasileira, de tão acostumados com a separação de classes, esse vício que privilegia apenas alguns, segundo o poder de consumo inconsciente.
Quebrou-se, sim, muito de São Paulo, essa cidade importantíssima, mas a capital paulista há muito tempo quebrou o sonho de tanta gente e concentrou olhares; o poder público em sua parceria com o privado, como sempre, não respeita todos os cidadãos brasileiros que ajudam a São Paulo ser a cidade que é.
O dano maior é ficar como estava: sociedade apática, apenas confiando no poder do voto e sendo a todo instante explorada pelos caciques do dinheiro.

6 de junho de 2013

Catástrofe

Um câncer em cada esquina.
O mundo é uma trincheira de quarteirões,
Cada um com sua gangue.
Hostilidade em nome da superioridade
Do seu Deus, seus guardiões .
Que Deus destrua Campinas,
São Paulo, Quixeramobim, Tel Aviv,
Sodoma, Nova Iorque e Gomorra;
Que o terreno de todos se afogue
Em um dilúvio de porra!