7 de janeiro de 2015

Sobre a paz daquela menina que me deixa intranquilo

Enxurrada de água
Lavou minha paz
Pra mim tanto faz
Ontem ou hoje:
Eu quero.
Amanhã.
Você.
Minha existência estendeu
O caminho dos sorrisos despretensiosos.
Ah, mas sou mais um descrente
Da paz no mundo!
Vi deus morrer num gole de ciência;
Nos olhos da inocência sua,
Vi o amor e o tamanho de tudo.
Quão grande,
Tão pouco tempo
Passando.
Passando a mão no seu cabelo;
Rindo dos primeiros verbetes
Pronúncia dos dias.
Prenúncio da contemplação,
Eterno:
Dura o tempo que juntos.
Seguro meu sermão de morte
Escondo meu templo da sorte
E acredito em quase tudo novamente.
A paz se foi?
A dor bateu quando me vi partir.
Dois anos de paz.
Jamais um dia após o outro.
Todos os dias,
Entre minhas metas,
Analgesia.
Dois anos: Bia.
Você vive no meu dia
De cada vez.

4 de janeiro de 2015

Nem Dice, nem Justiça, nem Xangô: pedimos justiça ao caso Gaia

Não quero depreciar a Justiça romana, tampouco a colaboração inegável do seu Direito ao qual o nosso se assemelha. Ajustamos tantos vereditos sob sua influência e convergência com nossos usos e costumes brasileiros. Temos diante da nossa instância máxima, sede do Poder Judiciário, a deusa Justiça (correspondente de Dice na mitologia grega) que simboliza prudentia. Ainda assim, não nos isenta de inclinação ao etnocentrismo e conservadorismo quanto as nossas origens mais reverenciadas, cujos olhares dirigem aos réus de cada dia sentença que, muitas vezes, não mantém tal equilíbrio, igualmente ao de nossa sociedade. Pois também temos dificuldade em aceitar todos os nossos genes inclinados, da república ao bacanal, advindos da mesma península.
Ironicamente, na mitologia greco-romana, a filha de Urano e Gaia está diante de uma nova vítima da península itálica: Gaia Barbara Molinari, italiana assassinada por asfixia e golpes de objeto cortante na praia de Jericoacoara, no Ceará. A este caso, coube-me algumas indagações atualizadas quanto ao andamento das investigações naquele Estado, obtendo informações mais diversificadas de sua repercussão na mídia nacional. Então, pergunto-me se Xangô, deus da justiça na mitologia iorubá, estaria de acordo com os desdobramentos do caso Gaia. No momento, autoridades condenaram uma filha negra e pobre à prisão, mesmo sendo Mirian, a suspeita do crime, portadora de direito à liberdade, habeas corpus. Ela não está indiciada e não precisa estar presa para responder pelas evidências que a polícia levantou. A estudante de doutorado da Universidade Federal do Rio de Janeiro tem emprego e endereço fixos, portanto não há motivo para deixá-la presa, bem como não houve flagrante. Conforme o jornal Extra apurou nessa investigação, há muita controvérsia apontada por amigos e a família de Mirian, analisando o perfil da estudante, e também pela mobilização que levanta provas de que ela estaria sofrendo racismo em face das situações as quais não estaria legalmente obrigada.
Não sou advogado de defesa ou acusação, mas procurando me informar do caso, entendi que não haveria necessidade da prisão, considerada duvidosa e preconceituosa por seus amigos e familiares. No momento, essas pessoas, que estão revoltadas, fazem protesto por meio de redes sociais, contra o tratamento diferenciado dado à estudante no sistema prisional.
Como observador do cotidiano em nosso País, suponho e me inclino a algumas indagações, ainda que não seja amigo ou parente de Miriam. Porém, não confiando plenamente, por razões históricas, nessa articulação entre ação policial e medidas judiciais, decidi engajar-me na causa. Faço isso não por acreditar na inocência da doutoranda carioca, mas por persistir e cobrar lisura e equilíbrio da justiça, sem que haja privilégios ou desvantagens a qualquer ser humano sujeito à legislação criminal vigente. E, creio eu, como a maioria das pessoas que deseja prudência, espero por justiça tanto a Gaia quanto a Miriam.
Que se respeitem suas honra, palavra e condição de mulheres, a fim de que não sejam apenas mais uma estatística dos desmandos que envergonham nossas origens (mestiças), o presente que nos deixa sempre duvidosos, para que amanhã não tenhamos de olhar para trás até para provar habitualmente o contrário, porque pode ser tarde demais.