27 de janeiro de 2017

Lei da Demarcação


De antemão, aviso:
As águas do Sousa serão testemunhas,
Espelho dos olhos.
Não te molhes antes que eu fale.
Antes que eu falhe, não te culpes.
Antes da diagonal, não morramos.
Quando eu morrer pela sétima vez,
Acredita em mim:
A oitava vida será, por duas, dividida;
Como o infinito oito, serei quatro,
Tais quais arcos de volta perfeita
A encobrir água de alma feita
Das lágrimas que lá retrato.
Brinda o quarto dia.
Bebe um gole daquele primeiro...
Esquece dias do meio, enfim.
Pois há tempo para beber tanto,
Para sonhar - quem sonharia?
Porque em mim, marco recanto
E desmarco, por lei, algum fim.

20 de janeiro de 2017

Rocha no tempo

Não sei quantas vezes serão necessárias repetições de um nome na tentativa desesperada de fixá-lo na vida, como se a memória suprisse toda existência de um ser em outro. Mesmo assim eu repito. É como um plano literário de fazer viver tal signo vitalício, uma súplica derradeira de cravar tal qual arte rupestre nesta rocha enorme que entendo por mim. Endureci-me para suportar as intempéries das Eras da minha oscilação de espaço-tempo e, quem sabe, encontrar-me em mim, tal força petrificada contra as águas e ventos que jorram e sopram dúvidas de como e onde vou parar assim... Eu, que não vario mais que duas constantes permanências de vida: em mim e para mim, os vestígios de existência.
Em mim, onde vive a ternura adentro, na camada mais profunda e mole à espera de solidificar minha passagem discreta e assumidamente tímida que os antropólogos um dia reconhecerão como firmeza de um ancestral.
Para mim, os templos a proteger e a reverenciar em cultos sem ousar ser deus ou tão homem, já que distante e dura a rocha se firma como matéria sem dor, fria por absorver o tempo e esquecida por procurar imaterialidades. 
Assim, quero deixar de mim apenas alguns símbolos de que passei por aqui, por ali sem saber com precisão onde tudo acaba para começar outra vez a brotar da semente um ramo de felicidade. 
Se for de querer, encho-me de ornamentos, desses que enfeitam rochas frias e cinzas, ou em qualquer outra cor sem importância, para distrair os olhos até que, em paz, o magma mais quente da ternura possa ter o seu tempo de endurecer e fazer de tudo uma coisa só, uma matéria só, sem divisões em cor, estado ou textura... sabe-se lá mais o quê! 
Se um dia descobrirem que esta rocha tem na superficialidade a arte de se arranhar a todo instante, sob o tempo, quer chova, quer seque de calor temporal, quero que continuem imaginando que ela é apenas o papel em branco onde homens só lhe tinham para escrever seus rastros de caminho, de orientação ou apenas de manifestação de algum sentimento, mas que ela continue insignificante em composição, em utilidade modificadora de população e, então, permaneça como coadjuvante peça na história de um povo. Eu não faço questão. Eu já fiz. Eu não preciso mais de um motivo para sentir-me o elenco dessa coisa toda. Hoje, meu tempo é outro. Meu nome é o mesmo. Eu vou continuar a repetir desesperadamente a variação do andros, pois que ele absoluto é toda a humanidade que tenho hoje a guardar naquela camada mais profunda que ainda continuo à espera da solidificação. Por enquanto ela está quente, mole e inquieta. É a parte de mim que aquece mais por existir vida, cor e calor. E o mais impressionante de tudo: esta parte não é só eu.