22 de janeiro de 2021

Viver é melhor que sonhar

Alguém que me escuta, que se importa. 
Alguém que me disse uma grande verdade,
Não de satisfação;
Aliás, bem pelo contrário. 
Verdade é a de cada um: 
Engraçado é que a nossa foi parecida. 
Que sorte. 
Estamos vivendo esta verdade.
E é só mais uma, mas é nossa.

15 de janeiro de 2021

Nanopsiqué: 2021

Estou cansado das minhas convicções. Nunca estive tão cansado delas quanto no tempo de hoje. Elas têm me restringido a este mundinho absorto que me faz distrair quando mais preciso ser atencioso - com o outro, sobretudo. Estive tão empolgado com o meu jantar que muitas vezes me esqueci de quem tem fome. Estive tão imerso na minha insônia diária que me esqueci de quem estava dormindo e incomodei com agonias minhas. Sim, foram minhas convicções, os pensamentos - muitos disfuncionais - que me jogaram num comportamento incansável de ser eu mesmo e esquecer-me de quem ao lado esteve. E do lado da lembrança muito mais do outro do que de mim, foi na minha dúvida, esta incerteza que me fazia buscar, portanto, certificar-me da minha ignorância. Eu odeio permanecer na ignorância, no entanto as minhas convicções foram danosas; necessito atualizar todas elas. 

Fui convicto e nunca venci. Seria vaidade estar invicto, mas por quê? Tantas perdas, materiais, por minha mente cansada da convicção e outras questões mais graves: o vírus, o diabo que a gente cria como quiser para ter medo e se esconder debaixo da coberta escura que transfere a escuridão onde fica mais fácil justificar de não ter visto, de não ter mais opções do que sentar ou deitar e corroer até o fim do drama. É finalidade, pois, coerente transmitida pela culpa, um antígeno plausível e mais justificação, e mais, até nos encontrarmos doentes. 

Estou doente faz alguns dias. Mais perdas. Tem a pressão de aqui e de acolá, onde dirija o olhar, os ouvidos para ouvir mais cobrança: um cacho de uva, um casco de cera, um copo de água, uma vela para iluminar o buraco onde vou me meter, cansado, e comer e beber, derreter com o calor do momento e me arrastar pelo chão como lava de parafina que se deslancha no mais ridículo material que resseca e se desfaz com qualquer intempérie. A convicção não me fez forte. É verdade.

Estou com o rei na barriga e falta tanta coisa que nem uma coroa de espinho, nem um trono de folhas secas e armação de gravetos. Nada da natureza eu tenho conseguido reaproveitar para criar um império fajuto, para destronar culpa, segredo, mito ou essas metáforas que vão nos colocando num cercadinho e nos empilhando como discípulos de submissão e temor. A convicção não me fez sábio. 

Agora preciso sanar tantas dúvidas: reavaliar esses dias, essas palavras, essa correria. Tudo escolha minha, tudo, convicção em xeque. Agora ficar uma pulga atrás da orelha, coçar para achar a necessidade vital; e na hora que vencer o cansaço: vem o sono e, ao acordar, arrumar esta bagunça até aqui. 

Obrigado pela tua parceria; e a gente ter se encontrado, convictos, no que restou: novas ideias para novos rumos, bem longe das convicções que nos passou rasteira. A convicção que sobreviveu, que me fez prescrever o remédio para minha cura. Como quem escreve, curado. Será o texto mais importante do que essas lamentações que andei a escrever. Já fechamos uma boa parceira para uma história nova (nem melhor nem pior: nova; basta).