15 de abril de 2018

Curriculum vitæ

Enquanto um governo golpista acaba com as esperanças da população brasileira a cada canetada que dá; decreta o infortúnio na vida das minorias que sempre alimentam as estatísticas favorável e desfavoravelmente neste solo fértil que se degrada a cada pilastra que se levanta em nome da fortuna de bem poucos, eu jamais desisti do caminho mais justo, para mim e para seguir a regra que determinei para minha passagem por este terreno com muita injustiça. Frequentei faculdade, não foi uma apenas, não foi fácil, mas foi meritocracia. Consegui concluir uma faculdade há uma década, frustrei-me na profissão que um dia sonhei para mim. Escrevo cada vez pior, escrevo mal, eu tenho motivos para me desmotivar com o jornalismo de caras lindas, de bons contatos, como se chama fontes, mas das que envelhecem e apodrecem uma desvergonha que não me permiti: escrever mentiras ou dizer por alguém sob a cara-e-pau que se chama imparcialidade da mídia. Sou um jornalista fraco, apenas tenho um registro do ministério do trabalho que me deu um carimbo na carteira, mas nunca consegui assinatura para trabalhar para homens de bens, políticos com seus muitos bens: Mercedes-Benz e coisinhas, mimos acumulativos angariados com muita publicidade e sangre alheio.
Então tentei provocar em mim um novo desejo, o de me tornar parte da mão de obra da população economicamente ativa do Brasil, fazer algo por mim e pelo mercado, e mais uma vez me profissionalizei no nicho do Turismo, no qual em pouco tempo estarei graduado, e já alcancei algumas metas no País que há pouco tempo parecia andar por caminhos mais gentis. Capacitei-me ali, nas cadeiras e estrutura ruindo de uma universidade pública, tentei e consegui ter o melhor coeficiente de rendimento do corpo discente; com isso tive oportunidade, que muito podem julgar sortilégio, privilégio, mas eu me dou por satisfeito de conseguir por métrica curricular: as chamadas notas. Em primeiro lugar, em 2016, logrei uma bolsa de estudos para cursar um semestre fora do Brasil, fui com muito medo e com aquela expectativa de adolescente sonhando com eiras e beiras mais ornamentadas. Nem tudo foi de graça, mas foi com a graça de permanecer com meus valores intactos que frequentei cadeiras mais confortáveis e entendi o quão meu país segue aquém da qualificação necessária neste globo bem globalizado; só tentei acompanhar. Consegui um estágio depois de voltar, mas não foi fácil, mesmo primando o currículo, só três meses depois do meu retorno do velho mundo cheio de coisas novas, como sempre europeizadas, fiquei nove meses servindo ao patrimônio dos outros e aprendi o máximo que pude, ao custo de tão pouco pela minha capacitação: uma bolsa, um almoço muitas vezes mal cozido, até podre (tive infecção intestinal, inclusive), um auxílio para transporte. Eu aprendi tanto e fui algumas vezes desmotivado, mas fui. Fui cansado, choroso, medonho, irritado, mas fui. Voltei mais entristecido com a desesperança que até ofuscou o que aprendi de novo, por dia, e pela noite, muita insônia e mais choro. Acabou, e onde estava o reconhecimento por tudo que deixei em troca de aprender e dominar a técnica? Estava apenas num "obrigado" bem formal como se formalizam as relações de trabalho. Saí reclamando, eu sou de reclamar, ao passo que procurava uma oportunidade, mesmo que de peão fosse para servir, porque minha casta só é de serventia quando se tem saúde e disposição.
Então...
Consegui que assinassem minha carteira de trabalho, passo a semana atrás de um balcão, com a mesma dignidade de sempre e o desejo incansável de mais aprender e servir, e tentar melhorar tanto para mim quanto para a quem precisa de melhoria em serviços.
Ontem, estava indo trabalhar e, no caminho, algumas lágrimas que eu derramava por algumas questões que ainda persistem na minha rotina de pensamento, sonhando com o dia em que essas, por esses motivos, não mais haja, em toda a qualidade do verbo "haver", embora o sentido de existir não tenha um efeito sequer na existência. Debrucei-me no labor com uma satisfação incrível de mente ocupada por algumas horas boas. No final da jornada, ao contrário do choro da ida ao trabalho, um sorriso por saber que, honestamente, consegui mais um passo à frente, enquanto o governo golpista acaba com as esperanças. Eu só tinha gratidão dentro de mim, por ser honesto, por estar ocupado, por não chorar na volta a casa por motivos banais, que definham no caminho de volta, diminuindo constantemente e dando espaço a novos projetos.
Este texto é de gratidão. Acho que viver com gratidão tem me ajudado a encontrar uma resposta satisfatória para todas as indagações que tenho quando me deparo com injustiça. Grato e satisfeito é melhor do que o estado vulnerável das coisas e das pessoas inúteis que nutrem sensação de mal-estar.
Tenho todos os nomes na memória, e um dia escreverei nominalmente a cada um deles que ajudaram nesta sensação. Ainda que eu escreva cada vez pior, mas não carrego mais a culpa de ser jornalista.

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