17 de julho de 2009

O Alagoano do Mundo


Não se sabe, ao certo, o que vale mais nesse jogo de valores. Eu tenho batido na mesma tecla durante vários anos de busca incessante por alguns bons momentos coletivos, onde dois são suficientes para interpretar. Eu saio apostando as cartas que tenho nas mangas, nos limões azedinhos que eu provei com sabor de melancias, doces e suaves. É como cantou Cazuza sobre a sorte de tal amor, com o sabor que a fruta oferece ao mordê-la para saciar fomes mais profundas.

No começo do pesado ano de decisões e sensações de últimas cartadas, eu vi tanto exemplo de coisas ausentes em mim. Eu queria aquelas que não eram minhas, eu pedia um pouco de doação. Eu doava meu cesto frutífero e ouvi dizer que eu não era um ovo a se misturar em cesto tão nobre para não quebrar os outros, tão frágeis. Então, indaguei a fragilidade de um sentimento. E as respostas vieram em safras pequenas, sazonais e eu via, assim, um pomar se transformar em objeto de coacla, onde soava um "vai tomar..." bem educadamente. Não, não era uma crise existencial minha! Era 'sei lá o quê!' que me fez ressurgir no poleiro alheio, com a impetulância de me achar 'o de ouro', quando não era.

Amigos 'mais ou menos', com suas aspas circunstanciadas me fizeram valer em um consumo que eu não mais queria. Amigos oniscientes da minha repetitiva prosódia, lamentosa e lamentável, ouviram, às vezes, calados e outras tantas, incisivos e incertos do terreno da incerteza. Ai, o mesmo cara com seus dramas e sua mania incansável de acolher o primeiro fruto tirado da árvore pecaminosa! Ai, ais de tramas e traumas! Aí, eu vi o tempo correr e as linhas do meu Trabalho de Conclusão de Curso percorrer por outro caminho que eu inventei para protelar mais uma vez sabedoria que os mestres e doutores leem tese. Síntese de alguns anos graduados na academia de poucos alunos. Antítese que veio no final do percurso, com uma decisão de um Supremo Tribunal que acolheu os bons dotes, em forma de lobbies, reduzindo o valor de um papel proficiente da sonhada mobilidade social.

Seriam vãos os anos se eu não acreditasse que a melhor ciência aprendi com a soma de tudo: o Marcinho a falar de sexo no intervalo da aula, a garota insuportável cujo nome mantenho em sigilo para não polemizar - mas ela ainda deseja acumular seus diplomas... para exibir suas belas formas em classe? Onde está seu cérebro, uai?! Os amigos que deixei na lembrança de trabalhos em grupos e os que levei para as atividades extracurriculares, bem pessoais a discutir o amor, o sexo, a música e brindarmos pedacinhos de nossa história em qualquer banco que não seja da Universidade Federal de Alagoas. Renatinha, agregada à Comunicação Social, exercida lato sensu e em senso comum... das Letras para nosso ciclo de comunicadores de enredos próprios e polivalentes. Quantos talentos descubri nas faces de muitas cores, no arraso da beleza de Luciana, no quintal de Déa Elena e Oliver para juntar os pedacinhos de acadêmicos e formar o nossa universalidade, a tonfa do Gabriel que virou piada minha no aniversário de sua dama... ILBS, que virou sigla para alegorizar nossos sorrisos descontraídos! Olha, a Sandra eu vi ontem para matar saudade de suas mil e umas dúvidas e tormentos; ela me pareceu muito bem, obrigada!

Fora essas recordações, têm as novas experiências para agregar à minha futura lembrança dos últimos dias na terra natal. Eu volto, talvez brevemente, quem sabe demore mais, quem sabe, quem sabe me diga?!

Esse último mês para esquecer trincheiras do norte mais leste, de povos e invasores, de tanta cana-de-açúcar, meu Deus! Os latifúndios que eu sempre recordo, associando às minhas viagens a Recife dos canais e rios, de outro amor, de outra dor, de alguns amigos que ali reconheci. Ah, esse julho próspero, tão nervoso, doloroso e ensurdecedor dos gritos que só eu escuto nas batidas do coração que reclama uma paixão fervorosa, talvez caprichosa para ocultar outro discurso e enveredar pela mesma semântica, como quem passeia pelo canaviais a fim de lembrar que há doçura em matéria prima, e revelar a Cazuza que amor tranquilo pode ser saboreado no caule, sem mesmo alcançar à altura onde está a fruta que a vida colocou mais alta para selecionar espécies.

Julho que me trouxe a pancada no ego inflado que subestimou uma nobre figura, de álbum novo. Eu vi a carne tentar o fraco. Eu ainda assim subestimei a carne, reduzindo-a à carne e só. Carne do corpo que comovia minha testosterona, como apelo ao último prazer com nome e sobrenome nesta terra onde minha mãe gerou seu fruto.

Aqueles olhos desejosos passaram a ser o olhar e desejo de olhar mais vezes. Aquele tronco virou o cheiro lembrado pela cama que denuncia e intima a memória a funcionar. Aquele beijo parece, agora, o gosto que eu subestimei sentir por mais de uma semana até que enjoasse. Mas não. Dei-me conta de que minha satisfação começa na matéria, mas sempre termina no epicentro das minhas sinapses, causando turbilhão de sensações muito além (leia-se profundo) da epiderme. Minha vocação, assim, é essa mesma, de acumular os talentos descobertos e abarrotá-los na cavidade mais preciosa do meu peito canalha.

Aí eu cuspo a nicotina para que meus beijos sejam bem mais saborosos como quem acabou de comer cajá e pé-de-moleque. Diga-se de passagem, que um dia alguém falou que tinha gosto de tapioca recheada da orla da Jatiúca, bem próximo à Praça Vera Arruda, criminosa, dos nossos atentados ao moral dos mirins que ali circulam e brincam entre os narcóticos que aproveitam o policiamento escasso e suas liberdades acorrentadas a alucinógenos.

Eu só queria ver mais uma apresentação de coco-de-roda, escutar o máximo que posso o sotaque dos meus afins, porque hei de ouvir novas variações linguísticas, de me aprisionar no trânsito mais louco, e ver um azul mais cinzento, de olhar o relógio com mais pressa, entre tanto concreto e garoa cotidiana até que eu apague a luz de onde dormirei e volte a sonhar com meu lar materno, a ouvir as queixas de D. Sônia, a receber as ligações do Leandro (aproveitando a promoção da Tim), a ver o brilho nos olhos de minha irmã ao requintar seu novo e conjugal patrimônio, a descobrir as coisas em comum com o amigo Roosevelt, e todas as outras possibilidades que eu tenho dentro do meu mundinho cheio de olhares críticos e meus monólogos reclamantes do baú que um certo mané me intitulou musicalmente.

Não estou abdicando meus desafetos nem meus laços de fraternidade. Vou priorizar uma tema que há muito tempo deveria ser mais importante em detrimento da vida mansa, da fala mansa, do 'bem ali' que eu chego logo. Fazer meu nome, como dizem os egocêntricos - sim, eu tenho minha parcela de culpa! -, cogitar novos odores de metrópole, vivenciar oportunidade de visionário retirante, construir paredes mais fortes para que o lobo ocioso não desmanche com seu sopro, cavar, alicerçar e levantar vigas de profissionalismo, aprender com os privilegiados do 'melhor mercado', ensinar gírias das Alagoas e o que acreditarem ser comum de qualquer habitante do planeta. Enfim, quero voltar com o sentimento de saudade da terra onde se pisa com mais firmeza e certeza de amiga mão à queda e, sobretudo, voltar para encher o peito do ar que o amor de muito tempo já é solidificado, para gozar das minhas férias já sonhadas no seio e celeiro de meus primordiais ensinamentos.

Um comentário:

  1. Cris, torço por você na realização desta nova empreitada em sua vida. Ficarei eternamente grato pela sua receptividade e pelo carinho que tivemos neste pouco, mas intenso mês. Quero agradecer pela lembrança da NOSSA amizade neste teu texto fantástico e dizer como EMOCIONADO fiquei com a homenagem. Sentirei bastante sua falta que será aplacada pelos recursos tecnológicos disponíveis. OBS.: Gostaria de lembrar que ficamos de nos comunicar também por aquele sistema antigo que você sabe qual é. Um abraço bem apertado e cheio de saudades do seu amigo ROOSEVELT.

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