Gostaria de ter o poder de decifrar todas as evidências; acertar em cheio nas conclusões e certezas que esta vida questiona, sem pena de réu algum. Ninguém tem este dom, infelizmente. Há, no entanto, a certidão expressa num olhar, que atesta a verdade, ainda que uma pessoa mire o lado oposto, disfarçando a clareza e o brilho incontestáveis. Ainda assim, é tão difícil nomear as coisas. Então, fico com a solidez das palavras, subtraindo as omissões, sob os gestos apontadores de caminho em comum, embutido no desejo expresso da experiência compartilhada e na perspectiva assumida nas entrelinhas.
Um cruzamento de estradas não é à toa. Certamente, hei de optar pela cessão de um ou outro atalho, e, em companhia, pelo menos eu, sinto necessidade de andar. Lá na frente, posso até encontrar uma bifurcação e ter de decidir entre o andar junto e a descoberta de outra direção mais atraente, caso tenha de andar sozinho por ela.
Há, ainda, a intervenção urbana – um poder adquirido – para construir túneis, pontes, elevados ou retornos. Contudo, nenhum desses tem a marca de um percurso natural e sempre causam rupturas por mudança de trajeto. Eu, diante deste caso, vejo, por longo tempo, lacunas nesta estrada, como buracos que impedem maior velocidade numa viagem, e me torno um condutor mais atento, indisposto, até o próximo trevo (da sorte?) a seguir prazerosamente a condução do meu caminho.
Um dia desses eu vinha numa rodovia confusa, mas obstinado apenas a chegar ao trabalho. Os condutores vinham me ultrapassando em alta velocidade. A cada ultrapassagem, eu pensava, comigo mesmo, sobre o porquê de tanta pressa e como eles conseguiam guiar-se numa estrada tão perigosa. Até hoje, não cheguei à resposta, mas os fiscais talvez estejam observando direções de risco e infrações. Então... um semáforo vermelho à minha frente me obrigou a parar e foi quando encontrei alguém que parecia ver o trânsito com as mesmas cautelas. Assim, discutimos, por alguns dias, as leis que regem o ir e vir de condutores, passageiros e pedestres; e respeitamos os limites de velocidade, sempre, também, atentos às sinalizações. Foi aí que me esbarrei, mais uma vez, na interpretação dos sinais. Portanto, atualmente, ando devagar, preocupado com o que eles querem me dizer.
Não quero parar, porque a estrada na qual me encontro parece mais segura. E segurança, em dias de chuva como esses, é escassa. Tento prestar atenção permanentemente ao asfalto, com luz alta para não perder de vista o trajeto, às vezes, tomado por névoa.
Por enquanto, estou conduzindo. Na verdade, não sei mais quem conduz. Sei que, mais cedo ou mais tarde, teremos de parar para abastecer o veículo. Neste momento, terei certeza, pelo pedido, de qual combustível necessário para o melhor desempenho na estrada, então me virá clara evidência com qual motor estou lidando.
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