Se a força das minhas ideias pudessem converter-se em espaços protegidos, com teto de solidariedade, eu daria a minha vida a ajudar à mendicância, provocada por todas as fomes da existência humana. No entanto, ela não é suficiente nem para aliviar algumas questões pessoais, tampouco vejo tanta crença das pessoas no poder da palavra. Às vezes, perco-me na dúvida se eu escrevo para mim ou para alguém que me leia com fé.
Sei que escrita não é dom nato; no meu caso, amador e pouco embasado. Contudo, precisei me ater a alguns valores sobre os quais me debrucei a entender ou consumir como quem sente fome de ler, ouvir e ver, brotando sensações incríveis, que despejei numa página de acesso público, a fim de realizar prática espontânea de divulgar textos, sem receber um centavo por isso. Assim, é o prazer e o caminho que escolhi, em escrever para dar sentido a muita coisa ou acreditar que ele nasça na próxima linha de um parágrafo.
Nunca fui fiel a um só caminho. Os ventos sopram em direções diversas e eu sempre sou seduzido por slogans pretensiosos, que a cada sopro meus cílios hão de confidenciar, caso me interroguem.
Sou prisioneiro de uma ou outra publicidade. Palavras, imagens, sons... um efeito especial de última geração é capaz de lançar sua rede e aprisionar minha mente. Fico dias pensando numa só coisa; depois, como tudo, passa para dar lugar ao próximo merchandising, e mais uma vez me legar seu cárcere.
Permiti-me ser prisioneiro da comunicação; sem ela, eu seria o mais grave dos inválidos, não reproduziria pensamentos, não transformaria matéria-prima em caracteres sob a semântica que rege tanta confusão. Uma necessidade que rasga meu sono em duas metades: ideias que não param de borbulhar na cabeça e vontade louca de escrever, para, assim, poder dormir tranquilamente, num tempo em que tranquilidade jaz apenas na vitrina de uma loja de colchões.
Há um bom tempo estou doente de distúrbio do sono. Os sintomas são visíveis porque os olhos não fecham para nada ver. Eu vejo a solidão dentro de um lar, onde apenas as companhias são duas orquídeas presenteadas há alguns meses e um lap top que facilita minha comunicação com quem tenho saudade, com quem tenho afinidade ou com quem eu aposto a diplomacia.
Dormir é o meu maior prazer, embora eu tenha sonos intercalados ou horas essenciais de descanso que não conseguem ser nada além de essenciais, teoricamente. Eu me deitei com tanta gente, mas, meu sono, mesmo assim, ainda não achou a melhor companhia. E quando me deito só, é o último desejo que pediria a um sonífero. Entretanto, descanso um pouco. Pior é ter de acordar, sabendo que terei de, instantaneamente, cicatrizar orgulho, engolir drágeas de falta de vergonha na cara, xarope de pressão psicológica, para, então, passar o dia entorpecido e aguentar mais uma folha de calendário.
Viver anestesiado das dores da rotina, pelo efeito colateral da ironia não é meu maior desejo, hoje em dia.
Eu preciso desta noite como se fosse o efeito que se tem na virada de ano: contemplar o novo. Que sejam significados que se cansa de saber que vale mais ao comércio do que o ato de levantar como pessoa comum e acreditar que o dia nasceu feliz! Mas vale. Preciso dormir para acordar, acreditando que, amanhã, vou encontrar um bom emprego, vou me apresentar ao meu grande amor na esquina daquela rua ou vou, sabe-se lá, desistir de procurar sentido para uma vida toda ou decidir que um sentido por dia é suficiente, numa encruzilhada onde os espiritualistas recessivos ofertam sua maiores crenças.
Boa noite!
Imagem capturada de: http://blog4.opovo.com.br/gol/wp-content/uploads/2009/05/noite.jpg
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