3 de maio de 2009

Lar Doce Lar

Inaugurar uma casa é sempre uma festa. No entanto, uma festa nunca agrada a todo mundo. Às vezes, até o anfritrião não se sente muito bem no dia de sua festa de inauguração. Claro que tem seus motivos para se sentir feliz; receber, com sorrisos largos, seus convidados: um perfeito cartão de visita. Neste dia, a visita é você! Não obstante, quando a festa acaba, fica o anfitrião e sua casa, e você, convidado, parte com suas impressões...

Bem-vindo(a) à minha casa! Talvez hoje não fosse um bom momento para inaugurá-la, mas eu preciso começar a viver neste lar: um dia sonhei com ele e, agora, ele é concreto. O que realmente importa é que aqui resido e agradeço por sua vinda.

Sinta-se à vontade! Veja o que trago para a mobília, eu jamais poderia esquecer de começar pela poesia!

Entre Um e Outro Trago

Trago comigo o desleixo de não acreditar em profecias
Nem nas conseqüências meramente casuais das respostas óbvias;
Trago também o espírito da inconsequência
Que coexiste com a responsabilidade vadia,
Ora receosa por não desejar sofrer,
Ora desvairada sem o aval da cautela.

Trago, em mim, o rosto dissimulado da infância perdida,
O disfarce maroto de um sorriso cínico, sereno por vaidade,
O simulacro de um olhar atônito por conhecer,
Conhecendo a frente e o verso do orgasmo, na teoria.

Trago na pele marcas da saudosa rebeldia
Que os sinais dos tempos e os hormônios já as ocultam.
Trago na alma um espaço em branco...
Trago na alma espaços.

Trago no peito a frustração do sentimento,
As boas-vindas do momento extinto pós-clímax.
Trago no peito a despedida da ocasião
E dos prospectos arquitetados nos sonhos,
Construídos nas entrelinhas da razão,
Mas demolidos na oportunidade mais próxima da outra vítima.

Trago comigo a decepção de crer em verdades instantâneas
E o arrependimento posterior à dissolução das máscaras.
Trago comigo, então, a razão da aresta das crenças
Que não desapercebe o ínfimo, o pouco e até o nada.

Trago cigarros por vício e fuga,
Complemento daqueles espaços vazios,
Confluência de substâncias danosas, letais às dores,
Fumaça transeunte no vão das vicissitudes.

Trago da vida a bagagem que está plena de controvérsia,
Diversa de sentimentos que se divergem, às vezes,
Porque é a vastidão da vida que acumula êxitos e perdas,
Mas pesa, em mim, o que levo dos ganhos
De muitos dos homens que me são intragáveis.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo home sweet home. "Entre Um e Outro Trago" é um belíssimo convite de boas vindas. Sem exageros, é uma pequena obra-prima dessa sua cabecinha brilhante. Certamente serei uma daquelas visitas que teimam em bater à porta com uma frequencia maior que o desejado, pois sempre reservo um naco de meu tempo para ler seus escritos, que agora têm endereço certo. Abração.

    P.S.: Dá pra fazer um "puxadinho" pra mim? kkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. Dá vontade de voltar muitas vezes a essa casa. Desfrutar de cada cantinho dela com toda intensidade possível.

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