23 de dezembro de 2013

Chronos para encerrar

Ontem, domingo, fui à casa do meu tio para celebrar, junto aos meus familiares, seus sessenta e poucos anos. Ele, solteirão, frustrado na vida (qualidade de ser humano que me persegue também), mora sozinho, na casa da minha avó, que nos deixou em vida em 2011. Entre risos e aquela comilança toda de irmãos, primos, tias, filhos, ficamos revendo as fotos de arquivo. E entre elas, tinha uma da minha avó, quando jovem, posando em frente a um muro de uma casa. Foto comum de quem, como ela, vaidosa, adorava imagens. No verso da foto em preto e branco, havia um escrito quase apagado, de caneta vermelha, que ela fez em já idosa. No que consegui ler, ela relatava quanto era interessante ser jovem e bonita, uma época bem mais prazerosa do que a velhice, que era triste
Por causa daquele adjetivo que ela deu à vida, parei para pensar na velhice. 
Eu, hoje, a dois dias de fazer trinta e dois anos, decidi escrever o último texto do ano, e quiçá o último deste blog. Assunto: velhice.
Longe de estar velho, mas já tendo passado pela juventude chego à mesma conclusão que minha avó. É chato mesmo envelhecer. No entanto, inevitável, ainda que alguns nem consigam chegar a isso, a carga de experiência de vida e reverência à cronologia, com orgulho para tantos, é o peso implacável a suportar-se seja com qualquer expressão momentânea que uma fotografia possa registrar e remeter. 
Não sei nem se envelhecerei, mas já passei dos melhores anos da vida. Quando decidi ser jornalista. estudei e me graduei para isso e, finalmente, frustrei-me com a profissão, que pouco exerci e não faço ideia se volta a tê-la, nem em sonho. 
Agora que passei de algumas etapas escolares que minha falecida avó sequer chegou, reflito suas palavras no verso de uma fotografia sobre sua juventude. O amadurecimento chegou com a idade e o respectivo tempo, mas me esfriou de uma forma a desacreditar em sonhos. Cheguei ao tempo de acreditar na realidade que, para muitos, é cruel e, para outros, é despercebida, apenas.
Sinto que o emaranhado vocabulário que só se ganha com o tempo, hoje, eu perdi no jogo de arrumá-lo, de torná-lo mais legível, de dar gosto em dizê-lo. E como o texto, antes-sonho, sempre foi meu objetivo profissional, digeri-lo se fez amargo e no finalzinho o dissabor de recorrer a trabalhar só para sobreviver. Como recompensa, além do enobrecimento já crivado na poesia, corporativamente o retorno financeiro, como para alguém como eu, deixar de reclamar na prosa e gastar todos os vinténs na distração medíocre que uma agência de viagem pode proporcionar. Usar o tempo das férias, como exemplo, para esquecer o cotidiano da labuta, mergulhando em uma praia que ainda não se conheça ou cruzando o oceano para requisitar felicidade momentânea em alguma cenário urbano que aquela mesma agência de viagem - seguindo a lógica do mercado - ofertou como pacote perfeito para dias de repouso e... solidão. Sim, solidão porque as cidades estão cada vez maiores, caras e poluídas. Sim, porque as pessoas interagem para fazer o mundo acender suas luzes, gastar sua energia, produzir matéria e a maior parte, quando sim, espreitar-se nos menores cômodos de um apartamento.
O tempo me cansou... mas já? É que meu pessimismo espirituoso, ainda bem, faz-me ver o relógio e dar conta da tarefa que tenho que cumprir, o prazo que foi estabelecido, a fim de terminar tudo bem ou bem aos olhos de outrem. 

De todos os lados tem alguém me cobrando e do lado de dentro tem a minha cobrança maior, essa corrosiva, legado cronológico.
Envelheci, ó, a ponto de, na consciência, pesar que escrever por prazer é só mais um desabafo, ruína do eu exposto ou somente uma perda de tempo.
Os velhos são os mais lindos, enfim. Mas só os jovens gostam de si nas fotos... Eu gostava de mim antes, novo e disposto a escrever.
Até que gostava de ler o que eu mesmo escrevia.
Acho que chegou a vez de escutar...


Imagem: Jorge