26 de fevereiro de 2020

Templo da língua muda

Uma literatura absurda; não apenas pela forma. Continha versos, versus recorrente, pois sempre. Parece que me coloco como oposto de tudo aquilo que parece ser eu numa espécie mais sofisticada da língua na vida. Com brio nas arestas, até; polimento das coisas para luzir no alto das suas procurações. Diz-se procurado, acha-se no seu predicativo, um sujeito estranho; menos mal: existente! Conteúdo, meu caro esquisito verbo de ligação, talvez comece no sujeito elíptico. Por que ele se esconde nas suas desinências? Não, não sei o porquê.
Artimanhas da língua, uma sintaxe onde me perco em análises das próprias produções, uma autocrítica com status de análise. Difícil compreender o que se diz; mais difícil depreender a função de desdizer, beirando à semântica da insuficiência. Uma análise sintática, quase psicanalítica: ficar interpretando o dito pelo não dito.
Escrever conteúdo de forma frenética para encontrar deus no altar, nas substantivas subjetivas, encher de oferendas e orações lacunas de não dizeres. E, depois, no que está dado, no seu veredito, desinfetar o predicativo do sujeito com água benta da saliva que pinga da língua muda..

17 de fevereiro de 2020

Duplo ego

Eu tenho vontade de escrever um texto lindo para você. Sabe, ultimamente tenho essa vontade; mas estou inseguro quanto às palavras a usar, e se elas não forem lindas o suficiente?
Novamente, tenho aquela ideia vaga e a ansiedade da manhã, faz tempo que acordava às manhãs sem saber nem de mim. E se você me perguntar "o que é isso?", eu não vou saber lhe responder, eu nem estaria apto a achar umas palavras tão bonitas no meu baú fechado há tanto tempo, pois esta vontade - tanto a de escrever a você quanto a de achar as palavras mais bonitas - não passa, e não é uma caixa onde guardo coisas bonitas mas velhas que lhe dissesse sobre o entusiasmo, o sorriso dos novos planos, a outra vontade de ter planos e os novos caminhos me chamando. Você consegue perceber que tenho planos? Havia um tempo não planejado, mas sabia que ele se perdeu ali noutro tempo que não havia você, e não havia coisa alguma. E, de repente, eu acho suficiente ter esta vontade de escrever um texto lindo para você... E também eu já vou me esquecendo do baú desde que eu consegui perceber que também tenho uma coleção de palavras bonitas que também você anda me dizendo. Quem sabe a gente tenha essa parceria de escrever um ao outro e até a palavra mais doída, que esteja solta ou já guardada, ou qualquer palavra, ou nem importa a qualidade da palavra... Se ontem a palavra doída machucou um pedaço do dia, veio a palavra bonita e soprou onde ardia.
Agora até o silêncio anda dizendo coisas; o silêncio como intervalo das palavras escritas, esse mesmo para ouvir outras formas de expressão como o traço que se inicia.