1 de outubro de 2009

Os últimos batuques daquela canção

Tão difícil acostumar-se com o fim do carnaval. Canção que não entoa, gera silêncio. Sombrinha colorida abandonada ao chão, sinalizando o adeus do passista. Armas de defesa largadas, enfim. A música ligeira que não deixou rastros de velocidade; simplesmente parou num tempo que por dias retardou minhas manhãs momescas, de alegria e morfina.

A efervecência ficou numa manhã dessas, perdida num mês qualquer; não lembro com exatidão, porque tudo pareceu inexato - mas não é. Tampouco o Galo da Madrugada preservou seu som a fim de que possa me acordar, desejando o vaivem das massas, como num passo mágico a me ensinar o ritmo de comemorar os sensores que nada ficaram intactos. Não se traspassa uma quarta-feira de cinzas impunemente, mas a esperança ressurgente é a lição que vulgarizaram da pobre Fênix.

Quem não tem Fênix canta com Galo. Quem não tem Galo perde o gosto animal e ergue ode à flora. A começar com as orquídeas, eu vou construindo um novo jardim, a encobrir a calçada inóspita que abriga sobrinhas largadas desse frevo que não toca mais o coração.

Sim, estou passando as Vassouras, no solo da memória, porque a vida desabrigou a crença no amor à canção. Ao passo, o céu sumia, posto o teto que encobria abrigo, impossibilitando de ver estrelas. Perdeu-se o calor, a sombra em dias tórridos, a música ligeira... Veio à noite, o antigo prazer de contar estrelas cadentes. Mais uma.

Madalena, tropical, que eu cantei seu amor, agora estou aqui, a escrever em tua Vila, fria, calando os versos e os cento e vinte passos com ironia.



Imagem caputada de Pedra de Ajuda

2 comentários:

  1. assim como são as cores primárias que acompanham o frevo são as linhas excretadas em sua casa.
    te amo.
    lu

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  2. não seria sombrinha ao invés de sobrinha?

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