30 de agosto de 2010

Tic-tac do relógio

A ansiedade em contagem regressiva nesta semana. Quantos dias faltam para eu ver minha mãe e minha irmã? São duas mulheres com quem dividi o mesmo teto, sozinhos, durante aproximadamente uma década. Hoje, cada um está sob um teto diferente; e eu fui mais longe de casa.
Esses dias de distância (cerca de 10 meses que não as vejo de perto) foram aliviados pelos e-mails, pelos telefonemas, pelas redes sociais, etc. Falamo-nos sempre que podemos e tentamos suprir os quilômetros que nos separam, contando, cada um, sobre a vida que leva nesses dias longos.
Ao menos uma vez ao dia, minha mãe liga para meu celular: às vezes, sem assunto, até, e pergunta como está a temperatura e se estou bem agasalhado. É uma preocupação, um amor, uma dor, uma palavra e intervalos de nossos silêncios.
Hoje, vendo o Twitter do candidato José Serra, ele comentava:"pedi aos nordestinos que vivem em SP e que me conhecem que enviem cartas aos parentes do Nordeste contando do meu governo.E q peçam voto!"
Puxa, não há nada como um comentário simples, mas que reflete a ideia que se têm da gente! Acham que somos um povo desinformado, sem acesso às tecnologias e sem consciência crítica para conhecer e saber quem bem governa?
A partir daquele comentário, lembrei-me muito da minha família, cuja maioria tem preferência política que está distante de candidatos tucanos e que não usa mais cartas para se comunicar (com exceção de duas que minha mãe me enviou por conta de documentos que precisavam ser mandados). Nossa família, felizmente, levanta outra bandeira, mais soberana. E daqui, onde estou, "não quero medir a altura do tombo, nem passar agosto esperando setembro..."
Fim de semana quando chegar. não estarei em casa, mas meus dois maiores amores estarão, aqui comigo, na minha nova casa. Não vejo o tempo passar.

Imagem: http://ultradownloads.uol.com.br

20 de agosto de 2010

Sobre a flor na boa hora

Eu poderia escolher uma homenagem personalizada e enviar diretamente ao destinatário do meu texto, deste momento. No entanto, aqui na minha casa, não poderia excluir - sem limitar exceções - a mais nobre das visitantes e incentivadoras do meu intento literário: minha amada mãe, de quem eu herdei o gosto pela redação.
Hoje, no dia de seu aniversário, pela sua simplicidade e nobreza concomitantes, eu erraria em dizer que é uma homenagem, mesmo que adjetivasse singelamente meu propósito, porém não cairia num abismo onde o simplório cava para se esconder dos holofotes sociais, negligenciando o alicerce de nossa casa.
Se há alguém para quem eu deva vida, em terra, esta pessoa seria D. Sônia, então ela merece a proeza do meu esforço, ainda que com os olhos e outros sentidos cansados da dinâmica semanal, em final de expediente de pálpebras e olho nu.
Este é o segundo ano em que eu não posso dar-lhe grandes abraço e beijo, comemorando consigo a data em que tantos de nós reservam um tempo para saudar, com alegria, o dom da vida e contabilizar mais um ano de existência.
Lembro-me do meu poema, ainda na adolescência, que escrevi, evocando seu nome, com rimas pobres, mas a riqueza estava na minha intenção. Infelizmente, as palavras não estão aqui, comigo, para eu reproduzir no meu intuito de agrado.
Quão são memoráveis todas as ocasiões em que eu posso lembrar de seu sorriso envergonhado, reclamações que lhe são peculiares e o mesmo pensamento, parecendo um disco riscado, sobre o melhor presente que lhe seria agradável!
Ah, minha mãe possui uma inteligência floral, dessa que desabrocha com o tempo e incrivelmente sensibiliza pela sua imagem colorida e seu odor materno de proteção, onde vejo que um jardim não seria tão bonito se aquela flor faltasse em um de seus canteiros. E eu me desculpo pelo cansaço que me impede de buscar a melhor metáfora, a fim de remeter à tamanha beleza, que as fotos, que os sons, que o abraço e o beijo, os quais impedidos, hoje, estão, mas que o palpite da minha memória sempre acertará e combinará com o amor ovacionado, em múltiplas formas de dizê-lo.
E no mais, a boa hora é sempre a que precisamos um do outro e podemos encontrar a maneira mais fiel de fazermo-nos presentes, do lado de dentro.

Imagem: divulgação

9 de agosto de 2010

Esmagado pela segunda-feira

Eu pedi um cheese burger e um suco de laranja numa padaria qualquer, que eu só havia entrado uma vez. Era a minha segunda passagem por lá; desta vez, para uma refeição. Meu jantar teve a cara da atendente. Enquanto ela preparava meu lanche, eu tive uma ligação - que foi motivada pela minha saudade - rejeitada. Parecia tudo bem normal para uma segunda-feira como tantas outras.
A moça pálida que, friamente, preparou aquele sanduíche sem graça, e espremia com pressa as laranjas no aparelho industrial, e ela parecia querer ir embora o mais rápido possível. Resultado: a falta de prazer em seu trabalho refletiu naquilo que eu comia.
Um começo de semana, para tanta gente, não tem o sabor de um sábado. Realmente, hoje eu fiz parte desse todo que menciono. Foi tudo com sabor que deixou a desejar, no entanto não foi pior do que o mal gosto do sábado, o qual refletia o ápice da 'tranqueira botafoguense' (neste caso, substantivo e adjetivo, referindo à pessoa e bairro campineiros), do que não vale a pena lembrar-me tanto, tampouco escrever demais qualificações.
Acho que apenas, a mim, devo minhas exageradas qualificações, correlatas ao meu intuito de ser bom, de estar bem e de preservar comigo, ainda, valores imateriais, instruídos no seio familiar e desenvolvidos na perspectiva de que se eu for pior do que os ambíguos e proferir maledicência, certamente, estranharia meu próprio ser. Portanto, a estranha sensação é a que prevalece: ter uma ligação rejeitada, esperar a promessa de uma dívida a ser paga no fim de semana - que já passou -, acreditar que tudo está bem e ter a certeza de que segunda-feira, realmente, não é um dia tão legal.

Imagem: Era uma laranja (retirada de Flickr privado)

2 de agosto de 2010

Ano novo

Preciso tirar férias da solidão. Ontem, dia primeiro de agosto, passou-se um ano em terras distantes do berço caetés. A quantidade de proponentes não fora surpreende: sazonalidade de emoção, breve e insignificante. Absurdamente, uma lista desclassificada, como atividade laboral das sensações, para avaliar mentiras, descartar rituais mal intencionados e elencar vários graus de semântica pomposa, mas jamais profunda - por ser tão superficial, como o suor da pele que precisa ser lavado no final de cada dia e não acumular excreções mal-vindas.
Há o que celebrar, entretanto, além da esfera do que passou a ser periférico aos meus olhos: este amor-simulacro que tanto se diz e nada convence. Há, por ora, rejeição do óbvio, porque não se esforçam em metáforas, pois que o conteúdo é sempre o mesmo e não penetra 1cm além da superfície da minha ilusão. Cansaço paulista e mil perdões...
Eu tenho um albúm de recordações e nenhum duodécimo de substância íntegra, presenteada.
Meu trabalho não é aquilo que planejei, mas é o que posso esperar de cegos e decaídos. Eu trabalho em equipe e finjo que a união faz a força, ainda que não deixe me derrubar - ela tenta todos os dias.
Eu tenho um diário sem espelhos para não refletir prantos. Existe apenas um lenço azul, que minha mãe não se esqueceu de pôr na bagagem, para que eu pudesse enxugar meu suor: transferi utilidade (o de tom pastel, reserva, limpou meus pincéis, nas aulas de abordagem e procedimentos plásticos).
Eu tenho um novo número telefônico, para quem quiser me achar por entre essas ondas celulares, para desviar mágoas e, quando quiser, evitar chamadas de consolo.
Apenas uma agenda, na memória, para anotar os antídotos, riscar os antigos e prescever um futuro, com certo dom de acreditar.

Imagem: UOL