31 de janeiro de 2011

Três estados

Inauguro meu olhar mais simples sobre a sofisticação humana, com todos os adornos que, desde o nascente sol, reluzem a presunção de um bom dia e, à noite, choram as pitangas porque as horas legadas ofereceram outros sabores de fruta. Nesta geração de dissabores que roga cada poente, a noite parece a mais profana das mentiras inventadas pelo dia, que amanheceu com o peito inflado de vigor e obrigação de luta e, no fim da tarde, faltou-lhe fôlego para um suspiro de dizer apenas 'obrigado'. E quem agradece, sem a culpa, por sentir-se obrigado a não hesitar a contramão? Entre as queixas e a feitura, o que tem pesado na balança é a dor de cada folha do calendário arrancada sem a mínima pena do legado.
A omissão de casos passados e a corrente positiva de olhar à frente e cantarolar projetos não me trouxe sequer a matéria-prima de sonhos adolescentes, esses que as rugas escondem: sentir-se velho demais não é atestado de insanidade ou ficha de inscrição na caravana do rejuvenescimento. Tanta gente a combater os sinais da vida e eu insistindo na posição contrária a saber que envelhecer não é apenas um dom do tempo, senão um compêndio de futuros incertos que já passaram do prazo de solicitação. Há ainda os que repetem o diálogo dos eternos dissidentes da fugacidade: a morte é certa, o futuro é incerto e 'somos os mesmo e vivemos como os nossos pais.'
Já produzi todo meu repertório de novidades, não as tenho mais. Para que inovar se existe um baú de coisas em desuso que jamais eu poderia negar?
Quando eu cheguei aqui, nesta etapa que, ora fenecia por falência, ora teimava como uma criança que não descansaria por vê-la... Descobri que eu ainda tenho muito da criança que... ainda tenho a idade em que me encontro em alforria e ainda tenho salto ao tempo em que saltar será uma atividade proibida pelos geriatras.

Imagem: capturada de open4group.com

18 de janeiro de 2011

Última manhã

Eu entrei o ano com os dois pés de uma só vez, a bordo de uma aeronave Embraer - nada mais brasileiro - e, 2011, pisei o solo alagoano já nas primeiras horas do ano que começava. Eu me sentia feliz e não via a hora de ver todos e, sobretudo, minha amada mãe, que me proporcionou esta viagem.
Agora, estou em meu último dia desta passagem, que foi a mais longa a qual estive, desde que deixei minha terra em busca de alguns sonhos. O tempo passa tão rápido que, há uma boa parte dele, deixei mais de reclamar e decidi viver cada dia como se fosse ele mesmo, sem igual. E o mais prazeroso disso tudo foi poder assumir as minha vontade: beijar quem eu quis beijar, abraçar o que poderia ser abraçado voluntariamente, poder escolher e ainda não podendo, declarar guerra ao Plano B e insistir incansavelmente pelo foco nesta vida... Eu estou beirando os 30. Não tenho mais medo de me tornar velho; a maturidade vem incontavelmente a cada minuto, por que devo limitar este sabor de vida às contas anuais?
Hoje, deixo novamente minha querida Maceió, que já me maltratou com seu calor, com sua canção repetida e divulgada, que já me deu tudo que cria de seu potencial e, ainda assim, levo uma bagagem cheia de saudades.
Vou-me embora para Campinas, assumir meu novo plano, meu intuito de aprender e ensinar. Uma escola me espera, uma universidade me espera, uma TV me espera e poucos, mas bons, amigos me esperam. No entanto, não sei o que esperar deste ano, mas sei exatamente o que posso cobrar dele e mais da metade das coisas todas tem uma mão interligada ao pedir e doar que depende muito do meu querer. Eu não vou me esquecer da vontade, a saudade não me esquecerá - dia e noite, ela sempre aperta o peito.
Só não dá mais para ficar mais olhando trás e acreditando que muito se perdeu, porque, assim, não teria esta sensação maravilhosa de que eu conquistei tanto e o que déficit é coisa para o governo federal resolver.



11 de janeiro de 2011

Reduzindo para caber o mundo todo numa casa

Começa hoje um dos programas de maior audiência da televisão brasileira: Big Brother Brasil. Em sua décima primeira edição, o reality show é produzido pela Endemol e exibido pela Rede Globo, no país.
Ano passado, eu havia dito que o Brasil escolheu a ignorância, a brutalidade, o grotesco, a falta de educação e respeito, que reflete o que é sua gente; o que, infelizmente, somos nós. Este ano, provavelmente, não será diferente.
Sei que o programa de entretenimento exibido na TV aberta às noites, quando a maioria quer relaxar e esquecer o árduo dia em que suas mentes trabalharam muito a fim de alguma produção humana que lhe dê sustento nesta vida nada fácil, é intuito de descontração, no entanto ratifico que o mau gosto tem proliferado e arrebatado à divina decepção os mais tolerantes dos espectadores.
Quando digo tolerância, menciono o fruto desta liberdade conectada com amarras das produções televisivas, cheias de interesses mercadológicos e o bel prazer visual, proclamando, assim, a libido ditada, o ato bisbilhoteiro e o exercício do pleito vão. Sentimos que o poder de decisão está doado às nossas liberdades de sofá ou cama, diante de um aparelho televisor.
Somos de uma nação plural e nos limitamos a ser, involuntariamente, aquilo a que assistimos, como um grande projeto de fofoca plausível, sob este gostinho modista de promotores de uma ideologia veranista e acabamos nos identificando com personagens que carregam nossas bandeiras de obviedade - pelo menos não a minha. Então, entram no rol das conversas do almoço, do intervalo do trabalho e/ou das redes sociais as descartáveis declarações de amor a um ou a outro indivíduo que jamais conhecemos na vida, que em nada contribuiu para a evolução dos nossos sentimentos, e despejamos todo nosso afeto num ralo que representa muito bem quão perecível é nossa sensibilidade e que acolhe as celebridades mais toscas da história de um mundo não tão pequeno quanto pensamos. Quando pensamos, né?!

Imagem: http://globo.com/bbb