Inauguro meu olhar mais simples sobre a sofisticação humana, com todos os adornos que, desde o nascente sol, reluzem a presunção de um bom dia e, à noite, choram as pitangas porque as horas legadas ofereceram outros sabores de fruta. Nesta geração de dissabores que roga cada poente, a noite parece a mais profana das mentiras inventadas pelo dia, que amanheceu com o peito inflado de vigor e obrigação de luta e, no fim da tarde, faltou-lhe fôlego para um suspiro de dizer apenas 'obrigado'. E quem agradece, sem a culpa, por sentir-se obrigado a não hesitar a contramão? Entre as queixas e a feitura, o que tem pesado na balança é a dor de cada folha do calendário arrancada sem a mínima pena do legado.
A omissão de casos passados e a corrente positiva de olhar à frente e cantarolar projetos não me trouxe sequer a matéria-prima de sonhos adolescentes, esses que as rugas escondem: sentir-se velho demais não é atestado de insanidade ou ficha de inscrição na caravana do rejuvenescimento. Tanta gente a combater os sinais da vida e eu insistindo na posição contrária a saber que envelhecer não é apenas um dom do tempo, senão um compêndio de futuros incertos que já passaram do prazo de solicitação. Há ainda os que repetem o diálogo dos eternos dissidentes da fugacidade: a morte é certa, o futuro é incerto e 'somos os mesmo e vivemos como os nossos pais.'
Já produzi todo meu repertório de novidades, não as tenho mais. Para que inovar se existe um baú de coisas em desuso que jamais eu poderia negar?
Quando eu cheguei aqui, nesta etapa que, ora fenecia por falência, ora teimava como uma criança que não descansaria por vê-la... Descobri que eu ainda tenho muito da criança que... ainda tenho a idade em que me encontro em alforria e ainda tenho salto ao tempo em que saltar será uma atividade proibida pelos geriatras.
Imagem: capturada de open4group.com