11 de abril de 2011

O novo ameaçado

Havia um sonho dourado, que brilhava sob o sol acentuado nas campinas. Uma cor que eu havia tempo não via, algo que quando acontece, parece que retorno sempre a um estado de euforia não habitual. Posso dizer que, ao surgirem essas novas direções em que a natureza dá sua contribuição essencial para ressurgentes metáforas, sinto que vivo os dias mais felizes da minha vida.
A natureza, ainda assim, tem seu percurso natural, quase duelar. Há dias em que a chuva vem, e o dia fica cinza. O pior é quando eles se repetem e contabilizo alguns outros dias. No entanto, gosto dos dias de chuva, feios, cinzas, mas também têm sua beleza. Acho que, chegando a minha terceira década de vida, aprendi a olhar as coisas naturais como meras coisas naturais, não há tanta divagação nesses casos. Sábado, chorei o infelicíssimo sabor de evidências. Mas eu chorei muito, como não havia chorado há muito tempo por tais questões. Como anéis perdidos, um rei sofrido, lamentando o acaso que tanta gente acredita que é mando do destino, esse filha da puta que, se existisse, seria responsável pelo meu primeiro crime hediondo: sua morte. Mata-lo-ia pelo despreparo e incoerência com que trata a vida alheia, legando infortúnio o tempo todo a quem apenas procura viver o bem e a utilidade. Menos mal que, pra mim, ele deixou de existir - se houve - antes da década de 1980.
Restam-me apenas as coincidências e o resultado de fatores trabalhados por determinado tempo, cumprindo seu prazo e apresentando os dados, ao passo que me doo a um 'deu tá dado', meio retardado, porque já estou acostumado a esperar por longo prazo da colheita de colaborações lentas minhas e correspondências outras. Bem, já se sabe que falo do afeto, não fujo de um teto utilíssimo para cobrir meus sonhos desses dias de chuva que insistem em molhar os meus papéis rabiscados e meus poemas de ex-visionários.
Chegaram os dias de chuva com toda força; houve relâmpagos - e seus clarões falsificados -, houve o barulho do céu rasgando e o vento que soprava todo material poético, espalhando o que eu estava começando a organizar desta bagunça que me tornei semanalmente, por dois anos inteiros, até o último dia de março, no qual esfaqueei qualquer projeto de destino que ousasse ameaçar o terreno que preparei com tanto carinho. Então me vi um criminoso, assassino de resquícios de possibilidades... Porque torcida contra já basta de tanta inveja a me chamar nas janelas, nas ligações perigosas, sempre tentando indagar se tudo que eu sou é real mesmo, como quem quer pôr em dúvida as poucas certezas que eu tenho na vida: esta apenas de ser quem sou, que é rara.
Se eu descobrir, ao acordar, que estou amando, mandem-me ao hospício: é loucura minha, certamente. Amarrem-me na camisa de força, deem-me os comprimidos necessários que tragam a lucidez, pois o amor é loucura, estou certo disso, é loucura daquelas que oprimem qualquer cidadão civilizado.
Se eu descobrir, ao acordar, que estou amando, liguem para minha mãe - a pessoa que mais me ama -, porque sei que ela já amou na vida, que ama e que amará sempre, portanto entenderá que seu filho tem, nas veias, a carga insana e virótica deste cúmplice no organismo, partícipe da chacina da razão. Minha mãe irá entender e, caso não entenda, saberá o que é melhor pra mim, até quando ela diz que a partir das minhas escolhas, os resultados são igualmente por ela sentidos.
Se eu descobrir, ao acordar, que estou amando, chamem meu amor, mas chame pelo nome, gritem, se for necessário. Não precisarei ser compreendido, aplaudido ou atestado de saúde mental... quero apenas minha mãe por perto, os sóbrios com seus mecanismos de controle a ditar umas regras e o amor que não fuja quando atestar que estou amando, debaixo de sol ou de chuva.
O amor ameaça o tempo inteiro e nem sempre estamos ligados à previsão do tempo. Chega sem avisar, inunda ou faz dias de altas temperaturas. Inevitável: é calamidade, devasta, é uma catástrofe para enlouquecer qualquer habitante, desabrigar e fazer tudo sair do curso normal, inclusive eu.

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