Por que tão longe de mim? - eu tinha razões suficientes para acreditar que quatro dias foram assim suficientes; uma viagem de não demarcações e despretensão extraterritorial. Como se não bastasse o abismo entre mim - há uma rodovia para marcar quilômetros sem eixo - e um sorriso novo de novo. Das maneiras mais assertivas de um contato físico somado a horas de prosa além do que não se conhece bem e o desejo de conhecer alguém... Perdi o medo, olha só! Aquele medo de passar por idas e vindas, altos e baixos, opostos e, porque ela sempre vem, despedida.
Não tive desgosto, afinal, foi pouco, e foi tanto quanto precisei para ver além da zona confortável de uma sequidão na garganta e nos olhos. Não queria olhar mais para além, nem usar a força das minhas palavras em vão. Sabe que nada foi em vão? Sabe que não posso esperar mais que aquilo! Mas aquilo foi tudo e foi bom. Não tivemos vergonha, a certo instante, de demonstrar o que já estava esperando algumas horas sair de dentro de nós e ter uma plateia para assistir. É... não foi tanto assim, não foi ilusão, não. Foi real quanto surreal.
Tempo para aguardar com uma pequena ansiedade o compromisso com os outros e depois o tempo só nosso, para que? Para estar. Estar é uma decisão. Quando um homem é livre para decidir onde quer estar, já é uma vantagem tão grande de liberdade num mundo preenchido de cercas. Imagine quando são dois por decidir... Estar preso é uma situação grave, pode ser agravada ainda mais quando se é livre e não se aproveita a liberdade, ademais, naquela do silêncio, que foi minha última forma de ser livre.
Amiúde, era divertimento e ele se esgotava numa só brincadeira, uma brincadeira de adulto, mas tão sem graça que dá vergonha ao ver crianças ensinando a adultos que brincadeira é coisa bem valiosa. Engraçado é sentir graça nisso tudo, que já disse, contudo, foi pouco e foi mais que isso por ir além.
A certo ponto, pergunto o que pode ser além quando determinado momento da vida já se acredita ir longe demais com tudo isso. Retorno ao começo, que já teve fim e, portanto, só ficam lembranças que pingam feito rejunte líquido quando esse cobre numa dança escorregadia as lacunas entre peças e cacos amontoados de uma pessoa que se via aos pedaços, sem saber, o pior, que era o porquê.
Agora parece um chão rejuntado para pisar firme e, o melhor, em pé, uma vez mais, com certeza de que há muito chão ainda a caminhar e descobrir que não há cacos se, aos pedaços, não se vê tal qual um objeto partido. O mais interessante dessa experiência - boa e - nova transcende o desvalor que se fora na última limpeza de casa.
Quando templo se fez para cultuar fantasma e obscurantismo, quando não se precisa de mitos para viver de verdade. É uma fórmula simples: não ter regras e não olhar demais para o que não existe, como quem procura algo que é, às vezes, imaginação pura, pois que é um culto.
Sou agnóstico e parecia mais um embriagado de fé alguma em mitos, pretextos e objetivo final sem saber que começo tinha nem me importar com meio, meios de justificar testemunhas de dogmas, ritos e velas acesas sob o sol. A razão ilumina a todo instante uma cabeça consciente de sua importância. Boas e novas lembranças são muito melhor do que o que caiu no esquecimento e me fazia me importar demais por achar o que estava perdido. Consciência danada esta de que se se perdeu é porque não precisa, mesmo, ser achado. Ou leve demais que o vento levou. Ou pesado demais que não sai do lugar onde ficou bem lá atrás, onde não sei, onde talvez nem precise voltar.
A mente que perdeu a memória pode, enfim, celebrar um intervalo singelo de beleza: agora já não esquece enquanto nem podia se lembrar.
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