29 de janeiro de 2010

Força Motriz

Gostaria de ter o poder de decifrar todas as evidências; acertar em cheio nas conclusões e certezas que esta vida questiona, sem pena de réu algum. Ninguém tem este dom, infelizmente. Há, no entanto, a certidão expressa num olhar, que atesta a verdade, ainda que uma pessoa mire o lado oposto, disfarçando a clareza e o brilho incontestáveis. Ainda assim, é tão difícil nomear as coisas. Então, fico com a solidez das palavras, subtraindo as omissões, sob os gestos apontadores de caminho em comum, embutido no desejo expresso da experiência compartilhada e na perspectiva assumida nas entrelinhas.
Um cruzamento de estradas não é à toa. Certamente, hei de optar pela cessão de um ou outro atalho, e, em companhia, pelo menos eu, sinto necessidade de andar. Lá na frente, posso até encontrar uma bifurcação e ter de decidir entre o andar junto e a descoberta de outra direção mais atraente, caso tenha de andar sozinho por ela.
Há, ainda, a intervenção urbana – um poder adquirido – para construir túneis, pontes, elevados ou retornos. Contudo, nenhum desses tem a marca de um percurso natural e sempre causam rupturas por mudança de trajeto. Eu, diante deste caso, vejo, por longo tempo, lacunas nesta estrada, como buracos que impedem maior velocidade numa viagem, e me torno um condutor mais atento, indisposto, até o próximo trevo (da sorte?) a seguir prazerosamente a condução do meu caminho.
Um dia desses eu vinha numa rodovia confusa, mas obstinado apenas a chegar ao trabalho. Os condutores vinham me ultrapassando em alta velocidade. A cada ultrapassagem, eu pensava, comigo mesmo, sobre o porquê de tanta pressa e como eles conseguiam guiar-se numa estrada tão perigosa. Até hoje, não cheguei à resposta, mas os fiscais talvez estejam observando direções de risco e infrações. Então... um semáforo vermelho à minha frente me obrigou a parar e foi quando encontrei alguém que parecia ver o trânsito com as mesmas cautelas. Assim, discutimos, por alguns dias, as leis que regem o ir e vir de condutores, passageiros e pedestres; e respeitamos os limites de velocidade, sempre, também, atentos às sinalizações. Foi aí que me esbarrei, mais uma vez, na interpretação dos sinais. Portanto, atualmente, ando devagar, preocupado com o que eles querem me dizer.
Não quero parar, porque a estrada na qual me encontro parece mais segura. E segurança, em dias de chuva como esses, é escassa. Tento prestar atenção permanentemente ao asfalto, com luz alta para não perder de vista o trajeto, às vezes, tomado por névoa.
Por enquanto, estou conduzindo. Na verdade, não sei mais quem conduz. Sei que, mais cedo ou mais tarde, teremos de parar para abastecer o veículo. Neste momento, terei certeza, pelo pedido, de qual combustível necessário para o melhor desempenho na estrada, então me virá clara evidência com qual motor estou lidando.

27 de janeiro de 2010

Em busca do Sim (Ou, Respeitável Público)

'Não, não foi dessa vez.' Todas as minhas argumentações parecem convergir ao substrato negativo de perspectiva por uma emoção pequena, mas plausível de remuneração. “Qualquer coisa que se sinta; com tanto 'sentimento', deve ter algum que sirva”? Cantaria ao necessitado labor? Até que ponto eu chegarei para reunir todos os meus talentos e papéis acumulados e esbarraria na insuficiência verbal? Logo eu que amo os verbos e os permito acompanhar-me aos insinuantes e devassos gabinetes de autoridade e subserviência, em níveis hierárquicos!
Não posso servir a dois senhores. Contudo há opções de escolha. Há? Ah, há sim. Há em mim, sobretudo, a opção de questionar o não, assim como fiz, hoje, com a maior cara lavada, e como taco encerado... na soleira da porta onde tropecei e caí. E ela bateu. Aliás, bateram-na, com a poesia licenciada de rima fácil, antiafirmação.
Os sábios miolos mentais confundem-se nesta hora vaga que se estende até não sei quando, ora. Os medianos me ultrapassam com vontade e os tolos facilitam tudo no cenário itinerante para eu poder atuar, onde eu vejo mestres e doutores: pobre figurantes. Assim, fico sem saber discernir coeficiente de inteligência nem classificar sapiens... É muita mistura, portanto é melhor relativizar e enlouquecer um bocadinho, embora eu não saiba quem chamar para sê-lo comigo. E quem se arrisca? Arrisca? Pode dizer não, será mais um para coleção de rimas, de fatos, de laços e inabilitação.
A porta da rua é serventia da casa e a janela para o terraço é mais uma brincadeira de mau gosto que me pregaram para rir neste estado de pão e circo. Cadê o palhaço, ômi?! Talvez ele esteja por aí fazendo o lanche ou sentado à mesma mesa espelhada, cujo reflexo eu tenho medo de ratificar.

Imagem capturada de http://www.crunchgear.com/2009/11/30/why-the-crunchpad-mattered

21 de janeiro de 2010

Olhando assim, até quando?

Meu corpo pede mais do que minhas mãos. Eu suplico mais do que mãos, ainda. As tuas mãos vão me descobrindo nos intervalos de tua vida. E eu fico pensando até quando eu terei de esperar intervalos, recreio, diversão, apenas. Já me divertir demais. Tolero as distrações humanas, embora não conceba a maior parte delas para meu projeto de longa estada. Sinto-me mal por me perder de vista, sobretudo, dentre os que perdi em terras mais quentes que fui incitado a deixar. Aqui, faz um calorzinho, por enquanto.
Em se tratando de conveniência, eu omito. Não dá para mentir, não faz parte do meu projeto. Verdade incessante é apenas uma: eu quero vencer de alguma forma; de preferência, a mais honesta. E o projeto que insisto em dizer é completo, inclui até o amor Eros. Só que as coisas estão concatenadas permanentemente. Eu não posso amar sem ter como sustentar a palavra Amor, sem ter como saber pilotar veículo movido ao que ultrapassa o sonho.
As estradas que tenho visto só levam à fugacidade incoerente de causar arrepios e provocar hormônios. Tão só. Dessas estradas, eu faço desgosto, com cara de abuso, porque faço ideia de onde estão as carcaças, ferro velho e veículos abandonados pelo antiprazer em certa idade.
Podem me recomendar a calma, podem até receitar antidepressivo, calmante, diamante, tenente ou qualquer rima para fugir da prosa mental que termina breve, sem gozo. Eu vou preferir tua prudência, a minha inocência, sangrando, parida de tanto renascer em cinzas paulistas, tal qual suas nuvens preceptoras de arrogância em 'terra boa'. Infelizmente, tenho pressa, não dá para esperar ficar calmo, pensar, agir e esperar uns meses onde tudo pareça ser resolvido - as agonias atuais - e eu me tornaria o mesmo, cópia de muitos homens que palatalizam seus fonemas, orgulhosos, e acumulam fortunas, em número de Produto Interno Bruto, que pouco interessa a quem enxerga e sobrevive com renda per capita de sua realidade genuína.
Eu já estou sem finanças equilibradas; devo minha vida em dias de ansiedade aos fiadores da minha estada, que estão nervosos - até cobram sem ganância. Eu não tenho muito dinheiro no bolso; não tenho como pagar uma bebida para quem me daria prazer em ser voyeur de uma sessão embevecida de alguma gaseificada (que seja!). Eu só queria ver...
Por enquanto, eu só queria ver. O prazer que está em meus olhos é tão inabalável que, de verde como a esperança popular, chama sem voz, nutre-se da vista de quem não se vê por dias. Então, persisto nos primordiais projetos e depois, creio, clamará um nome só...Teu nome? Muito franco (,) este nome, por ora e oportunamente, eu prefiro não eleger, mas apenas esperar. É como manda a regra. Estou aprendendo a obedecê-la.

15 de janeiro de 2010

Temporários

Hoje uma voz me fez falta. Eu já estou me acostumando com seu timbre, com a distração que me oferta nestes dias cruéis. É quase um abrigo ao sem-teto. A hora de folga de um trabalhador de caminhos quilométricos percorridos. A sola para um andante cansado. Mas ela não é nada disso; não é tudo isso. É a pena não poder escutar a voz que soa educadamente através de perspectivas comuns, implícitas nessa atmosfera de sedução que nos traz entusiasmo cavado no chão de marasmos e agonias.
Eu não posso suportar todas as manias alheias, nem ler contos do que passou, tampouco confiar nas expectativas de um grande valor a ser acordado entre o mão individual e a mão de quem lhe estende e permite sonhar. Laços bilaterais são improváveis sem que haja um pouco mais àquela alma menos frágil, máquina de poder ou mando. Tudo é força e disputa sem equidade. Então, quão bom é imaginar a voz! Parece-me lembrar que haverá as cantigas que a mãe, já cansada do dia, embala, à noite, seu bebê que não quer dormir. Algo incondicional, mas não é. Ao menos, eu duvido que seja.
Ó, patamar ruim que delineia a vida, sempre apresentando camadas! Aí, vem à lembrança tal voz, a qual não é minha. Antes fosse, de mais segurança que faria. Segurança de projéteis sem necessidade de defesa, mas de situação ofensiva porque o tempo parece incitar-me a mudar táticas e não esperar apenas reagir. Aí, vem a voz... A voz não é minha.

[silêncio semanal]

Eu estou metido num albergue provisório, olhares novatos entre veteranos igualmente observadores de fragilidades e esperança na mobilidade lenta de uma camada para outra. Nós poderíamos querer um milhão de dólares para nos divertir. Mas não sabemos muito bem o que queremos; a certeza é apenas o que não se quer. Eu, mesmo, sei apenas aonde vou, mas não arrisco dizer onde fico. Permanência é solúvel em água lacrimal e cansaço total que se aproxima. Eu escuto as “mulheres”, as “senhoras” sem intimidade, participando apenas da nossa única afinidade. Aí, eu vou escavando, procurando e, por insistência, vou percebendo conexões. E, no mais, estão as afinidades primárias. Elas não transcendem, apenas ligam. Ligação é o que foi preciso apenas para eu dizer: vim de longe e pouco tempo estarei. Construímos diplomacia, delimitamos solidariedade apenas com um pronome possessivo, em tempos egoístas que até um verbo é raro acompanhá-lo.

[gritos diários]

Sejam vozes, de tantos lugares que vieram cantar o mesmo hino de alforria. Premiação: um sorriso e um convalescente olhar para o prazer no mesmo foco, que some na esquina. Meus gritos foram dissipados para não haver maiores ruídos, não incomodar. Pedacinhos de “ah”, “ai” e “ui” separados com intervalos de 'cala-boca' para não confundir. Eu vou prender mais um grito e libertá-lo em um quarto e sala incomuns, um dia em que gritos diários sejam apenas escutados por quem será fiel ouvinte. E desabafarei, pois. O dia não chegou, todavia.

[dia santo]

A voz chega ao meu ouvido.

[dia mórbido]

Os tolos tentam me fazer alguns gracejos e mesmo assim... que merda! Um agradecimento em poucas linhas e uma estúpida esperança semestral. Foda-se! (menos um)

[amanhã]

Um segredo guardado entre dois amigos. Uma ajuda financeira para prosperar, Carolina! Uma esperança que não é estúpida mas tem prazo de estupidez. Assim, amanhã é mais improvável do que astrologia para um cientista convicto. Amanhã, “responda quem puder".


Imagem capturada de http://www.lostdesign.net/glossario/ampulheta.jpg

7 de janeiro de 2010

Conta-me além do que eu faço de conta


Cento e quatro voltas,
O mesmo lugar.
Cento e quatro sóis,
O dia de hoje é mais um.
O lugar é mais um.
O mesmo é o dia de hoje.
O dia, mesmo, de hoje é mais um?
Some-se o tédio.
Subtraia as voltas
Eu não sei mais calcular.
Alguém tem uma tabuada?
Alguém queime o calendário!
Cento e quatro motivos pra dizer
Um a mais não faz diferença
Toda diferença, onde faz?
Eu sei contar, apenas.
Eu estou contando os dias,
Estou contando com Deus.
Ah, conte-me outra que não seja mais uma ou a mesma!

6 de janeiro de 2010

Por hoje, uma boa noite!

Se a força das minhas ideias pudessem converter-se em espaços protegidos, com teto de solidariedade, eu daria a minha vida a ajudar à mendicância, provocada por todas as fomes da existência humana. No entanto, ela não é suficiente nem para aliviar algumas questões pessoais, tampouco vejo tanta crença das pessoas no poder da palavra. Às vezes, perco-me na dúvida se eu escrevo para mim ou para alguém que me leia com fé.
Sei que escrita não é dom nato; no meu caso, amador e pouco embasado. Contudo, precisei me ater a alguns valores sobre os quais me debrucei a entender ou consumir como quem sente fome de ler, ouvir e ver, brotando sensações incríveis, que despejei numa página de acesso público, a fim de realizar prática espontânea de divulgar textos, sem receber um centavo por isso. Assim, é o prazer e o caminho que escolhi, em escrever para dar sentido a muita coisa ou acreditar que ele nasça na próxima linha de um parágrafo.
Nunca fui fiel a um só caminho. Os ventos sopram em direções diversas e eu sempre sou seduzido por slogans pretensiosos, que a cada sopro meus cílios hão de confidenciar, caso me interroguem.
Sou prisioneiro de uma ou outra publicidade. Palavras, imagens, sons... um efeito especial de última geração é capaz de lançar sua rede e aprisionar minha mente. Fico dias pensando numa só coisa; depois, como tudo, passa para dar lugar ao próximo merchandising, e mais uma vez me legar seu cárcere.
Permiti-me ser prisioneiro da comunicação; sem ela, eu seria o mais grave dos inválidos, não reproduziria pensamentos, não transformaria matéria-prima em caracteres sob a semântica que rege tanta confusão. Uma necessidade que rasga meu sono em duas metades: ideias que não param de borbulhar na cabeça e vontade louca de escrever, para, assim, poder dormir tranquilamente, num tempo em que tranquilidade jaz apenas na vitrina de uma loja de colchões.
Há um bom tempo estou doente de distúrbio do sono. Os sintomas são visíveis porque os olhos não fecham para nada ver. Eu vejo a solidão dentro de um lar, onde apenas as companhias são duas orquídeas presenteadas há alguns meses e um lap top que facilita minha comunicação com quem tenho saudade, com quem tenho afinidade ou com quem eu aposto a diplomacia.
Dormir é o meu maior prazer, embora eu tenha sonos intercalados ou horas essenciais de descanso que não conseguem ser nada além de essenciais, teoricamente. Eu me deitei com tanta gente, mas, meu sono, mesmo assim, ainda não achou a melhor companhia. E quando me deito só, é o último desejo que pediria a um sonífero. Entretanto, descanso um pouco. Pior é ter de acordar, sabendo que terei de, instantaneamente, cicatrizar orgulho, engolir drágeas de falta de vergonha na cara, xarope de pressão psicológica, para, então, passar o dia entorpecido e aguentar mais uma folha de calendário.
Viver anestesiado das dores da rotina, pelo efeito colateral da ironia não é meu maior desejo, hoje em dia.
Eu preciso desta noite como se fosse o efeito que se tem na virada de ano: contemplar o novo. Que sejam significados que se cansa de saber que vale mais ao comércio do que o ato de levantar como pessoa comum e acreditar que o dia nasceu feliz! Mas vale. Preciso dormir para acordar, acreditando que, amanhã, vou encontrar um bom emprego, vou me apresentar ao meu grande amor na esquina daquela rua ou vou, sabe-se lá, desistir de procurar sentido para uma vida toda ou decidir que um sentido por dia é suficiente, numa encruzilhada onde os espiritualistas recessivos ofertam sua maiores crenças.
Boa noite!