Estava pensando a respeito de nunca ter escrito sobre o amor, explicitamente. Nunca fiz um texto, anteriormente, que levasse o título com a palavra amor, que eu dedicasse ao substantivo, também, a totalidade das minhas linhas... então cheguei à conclusão de que o fato de não ter escrito, explicitamente, sobre ele não é outro motivo senão o temor de cair no argumento clichê, derramar adjetivos piegas e terminar o texto com a ideia de que o amor é importante.
Pois eu vou de encontro ao meu receio de cair na mesmice e deixar o amor protagonizar escancarado, sem a maquilagem de afluentes nem a coadjuvância que o abafa, mas no frigir dos ovos, o amor centraliza como a gema amarela no meio de sua clara desbotada, sem graça.
Acho que se eu não amasse nada talvez nem conseguisse ver motivo algum para poder deixar as pernas rentes e erguidas e, de pé, permanecer encarando a vida como quem a desafia, heroicamente.
Tem outra coisa importante que eu preciso dizer do amor, além dessa coisa de achar que ele é instrumento vital, arma, gole de água, entorpecente, página de livro, livro todo, tudo. Preciso dizer que o amor é nada. Sim, ele é nada, quando permito que o seja, porque tamanha é sua importância que quando eu não queira mais absorver a energia que flui entre mim e o meio, que me conecta à necessidade de amar, há, então, um espécie de tomada ligada a um interruptor, a qual eu puxaria e desligaria o amor. Ele ficaria apagadinho; o breu tomaria conta da situação. E digo que não há, somente, uma dessas conexões, na vida toda. São muitas, como essas que estão espalhadas em nossas casas, em cada pavimento, que nós ligamos e desligamos, quando bem quisermos (exceto nos casos de acidente). Eu posso confessar que eu já desliguei várias delas. Na verdade, melhor dizendo, eu lacrei a conexão; e hoje há ambientes interditados, onde o amor não ilumina canto algum.
No entanto, eu já disse que estou aqui para falar do amor; assim, não vou ficar perdendo tempo para falar de ele não mais existir.
Ah, tenho mais uma confissão: nunca vou conseguir falar do amor sem ser piegas... eu até tentei.
Nunca vou deixar de cair na mesmice que se fala do amor, na praxe de suas qualidades, porque ele é unânime ainda que em casos de desconexão. É impossível, também, não terminar a minha frustração de querer falar algo novo do amor, porque ele é retrô e usual.
Não me frustro ainda mais porque apesar de não ter conseguido falar algo absolutamente novo, eu sei e quero dar o recado mais redundante que conheço: o amor é importante, porra!
Imagem capturada de http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/foto/0,,16199533-EX,00.jpg