24 de fevereiro de 2010

O amor é importante, porra!

Estava pensando a respeito de nunca ter escrito sobre o amor, explicitamente. Nunca fiz um texto, anteriormente, que levasse o título com a palavra amor, que eu dedicasse ao substantivo, também, a totalidade das minhas linhas... então cheguei à conclusão de que o fato de não ter escrito, explicitamente, sobre ele não é outro motivo senão o temor de cair no argumento clichê, derramar adjetivos piegas e terminar o texto com a ideia de que o amor é importante.
Pois eu vou de encontro ao meu receio de cair na mesmice e deixar o amor protagonizar escancarado, sem a maquilagem de afluentes nem a coadjuvância que o abafa, mas no frigir dos ovos, o amor centraliza como a gema amarela no meio de sua clara desbotada, sem graça.
Acho que se eu não amasse nada talvez nem conseguisse ver motivo algum para poder deixar as pernas rentes e erguidas e, de pé, permanecer encarando a vida como quem a desafia, heroicamente.
Tem outra coisa importante que eu preciso dizer do amor, além dessa coisa de achar que ele é instrumento vital, arma, gole de água, entorpecente, página de livro, livro todo, tudo. Preciso dizer que o amor é nada. Sim, ele é nada, quando permito que o seja, porque tamanha é sua importância que quando eu não queira mais absorver a energia que flui entre mim e o meio, que me conecta à necessidade de amar, há, então, um espécie de tomada ligada a um interruptor, a qual eu puxaria e desligaria o amor. Ele ficaria apagadinho; o breu tomaria conta da situação. E digo que não há, somente, uma dessas conexões, na vida toda. São muitas, como essas que estão espalhadas em nossas casas, em cada pavimento, que nós ligamos e desligamos, quando bem quisermos (exceto nos casos de acidente). Eu posso confessar que eu já desliguei várias delas. Na verdade, melhor dizendo, eu lacrei a conexão; e hoje há ambientes interditados, onde o amor não ilumina canto algum.
No entanto, eu já disse que estou aqui para falar do amor; assim, não vou ficar perdendo tempo para falar de ele não mais existir.
Ah, tenho mais uma confissão: nunca vou conseguir falar do amor sem ser piegas... eu até tentei.
Nunca vou deixar de cair na mesmice que se fala do amor, na praxe de suas qualidades, porque ele é unânime ainda que em casos de desconexão. É impossível, também, não terminar a minha frustração de querer falar algo novo do amor, porque ele é retrô e usual.
Não me frustro ainda mais porque apesar de não ter conseguido falar algo absolutamente novo, eu sei e quero dar o recado mais redundante que conheço: o amor é importante, porra!

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23 de fevereiro de 2010

A jovem senhora de Itabuna

Fazia nove anos que ela não pisava na terra de seus sonhos, desde que deixou o Estado de São Paulo e deu novo rumo à sua vida na Bahia.
Quase uma década passou, e lá estava ela, novamente, em solo que ela deposita seus sonhos. Desta vez, a jovem senhora trazia seus três filhos, de olhos arregalados da genética e favorecimento da surpresa, para um recomeço e perspectiva melhores.
Sozinha, mas acompanhada do tríplice futuro de baixas estaturas, ela não sonhava tão alto além da Serra de Itapecirica, para conhecer a central de distribuição da empresa de grande porte para qual ela revende cosméticos, a fim fomentar o quimérico e não tão incomum destino de sobrevivência de uma mãe e sua cria.
A quem é cabível o sonho? São milhões iguais a ela a crer na promessa embutida no histórico status de território acolhedor dos migrantes que esperam um pouco mais da vida além daquilo que se tem. Ninguém iria eliminar seu intuito nem importunar seu objetivo. Entretanto, seus olhos marejados pelo desespero, desnorteamento e medo me incomodavam, parecendo que ela não sabia onde ir exatamente. “Eu vou ficar este ano em São José do Rio Preto e no fim do ano venho para Campinas”, profetizava a serva cristã – perceptível pelos vocativos santos que entre vírgulas ela clamava, constantemente. O Senhor do Bonfim poderia abençoar a outra metade de sua vida para que seu fim possa ser, de fato, bom? Três bençãos já a acompanhavam aos trinta e um anos de idade, naquele momento, na Rodovia dos Bandeirantes. Dali por diante, só a rodoviária a poucos metros de vista e o outro trajeto que o Oeste testemunharia.
A jovem senhora de Itabuna, do corpo esguio e do desespero preocupante, talvez seja uma pauta para uma mente sem criatividade, há tempos desmotivada a redigir. Talvez ela seja tema de um poema porvir – que talvez nem inspire sequer um verso. De fato, ela foi uma tragédia para achar graça da minha vida.

Imagem capturada de http://www.mototour.com.br/vector/roteiros/mapas/mapa_707.jpg

19 de fevereiro de 2010

Vida Que Voa

Todo meu rosto despenca fibra por fibra;
Óptica perdida, fora de foco.
Inócuo, eu, molhado, anormal de pingos,
Não sei bem para onde olhar.
E há sempre um contraponto,
Quando me engano da forma mais ingênua...
É lento o bastante tempo que conto.

Apago o mundo, que me resta, em caracteres:
Apagado.
Depois disso, um lapso no tempo.
Um intento alheio de boa vontade,
Porém a verdade é que eu insisto.
Depois disso, eu canso, e o vento
Leva toda a louca insistência.
Então, vem a curva; ela volta.

Eu sangro muito sangue de pingos;
Goteja o tempo de contrapontos...
Ai, curva que leva amargura, some de foco!
Porém a verdade é que acabo insistindo
E sigo a caminho da fibra bandida,
Que um dia eu deixei por conta das horas.
Porém, só a minha vontade é boa
Porque a verdade que, pra mim, mente,
Pelo lapso, parece que voa.

Eu estanco pingos ao meio-dia.
Não vaza um milímetro cúbico de dor à luz solar.
Porém, a verdade que é minha e boa,
Mais ingênua que o enfoque,
Que volta na curva que a vida voa
Para reabilitar a fibra, via vento,
Que despenca no meu rosto sangrento.

Onde o vento faz a curva?
Lá, vou eu criar uma muralha imensa.
Muro das lamentações e crença.
Assim, em aprumo, fechar os olhos e crer
Que perene é o olhar no foco:
Contraponto do rio de lágrimas que corre à toa.
E secará no tempo em pedaços miúdos
A dissipar esta vida que voa.


Imagem capturada de http://downloads.open4group.com/wallpapers/estrada-curva-a2311.jpg

18 de fevereiro de 2010

Dura Lex Sed Lex

Uma pessoa não deveria sumir impunemente da vida da outra.
A justiça poderia ser mais contundente a um crime inafiançável, justamente pelo fato de abrirmos o espaço do pensamento, e darmos todo direito de ir e vir, quando alguém decide sumir e não ter a mínima pena a cumprir no cárcere da memória.
A quem cabe o pensamento contínuo, o sonho fortuito e o cumprimento das leis gravitacionais da lembrança em altos e baixos, teria a incumbência de ajuizar e punir da forma conveniente.
Como juiz, a pessoa eleita haveria de aplicar a pena ao réu que, pelo descumprimento da ordem memorável ou pelo abandono ilegal de atividade contínua de bem-querer e demonstração uniforme de permanência e apreço.
O réu poderia ir, também, ao júri popular. Absolutamente o tempo, que sempre esteve presente para presenciar cada atitude no cotidiano decidiria a punição. O tempo poderia dialogar com o juiz no fim do julgamento, em casos especiais, tal qual a extraterritorialidade. No entanto, como sempre, o tempo seria o senhor da razão, teria voz suprema.
Se o tempo, despercebido, não comparecesse ao tribunal, pelo tardar em se fazer justiça, seria o juiz quem decidiria, sozinho, a sanção, a pena ou a condenação.
Nas três hipóteses, cada uma seria correlata ao tempo de permanência e à forma de ausência. A saber:

- Sanção por dias ausentes na vida vitimada: pena branda, pagamento com serviços comunitários a ajudar na procura de desaparecidos;

- Abandono parcial, a longo prazo, na vida vitimada: pena moderada, reclusão noturna no pensamento inverso, entre três a quatro anos de solidão (em caso de réu primário, cumprimento em domicílio);

- Ausência total de espaço cativo: pena grave, com agravante de crime qualificado e motivo torpe, cabendo-lhe, assim, prisão perpétua, encarcerado entre paredes da indiferença.

Depois de condenado, com trânsito em julgado, o réu jamais poderia recorrer da sentença. Ainda assim, qualquer pena aplicada não condiz com a forma cruel de dilacerar um coração e persistir na memória da vida vitimada.

16 de fevereiro de 2010

Descompasso


Não tenho dúvidas de que este é um dos piores Carnavais da minha vida. Não há fantasia, atualmente, que me atraia, embora me resta, por ora, encarar o imaginário e, dele, fazer avenida ideal para desfilar meus sorrisos mascarados.
Quando chegar a quarta-feira, que antes eu cantava, conferindo-lhe qualidade de 'ingrata', agradecerei a tão esperado dia; e ela seria gratíssima.
Fora isso, tem a saudade momesca de um tempo onde eu sorria no compasso. Infelizmente - distante do frevo - só posso sentir a lembrança fiel aos meus passos que retrocederam em pensamento.
E fica, apenas, no meu peito, sentimento de um salão vazio, sem qualquer folião.

6 de fevereiro de 2010

Serviço de Mensagens Curtas

É teu 'oi?', chamando-me da distração com o tempo
Que rouba atenção dispersa nas coisas da vida.
É teu olhar pequeno que brilha,
pálpebras entreabertas, numa pequena frecha
Que parece iluminar todo o mundinho.
É teu sorriso esporádico,
Que vejo de acordo com a disponibilidade
A me satisfazer em horas intercaladas,
Entre os dias a se perder da conta
É não te ver...
Vontade que permanece saudosa dos beijos incontáveis
Que não ficam à deriva no passado,
Mas ancorados n'alma dum porto só.
É querer e não te poder cobrar
Ou não ter por que (os dias não nos permitem);
E por não pedir é que ganho dias perdidos, só;
E sóis a se ver só,
Porque talvez, à noite,
Seja notívago e sereno o encontro,
Quando surjas, vindo do teu momento,
A mim, imperceptível...
E chegar tua mensagem para saber se "tá dormindo?"-
Quando me roubas o sono,
Fazendo de uma noite em claro
Recompensa em sonho lindo.

2 de fevereiro de 2010

Vistas à gentileza banida

Estava aqui pensando com os meus pauzinhos: qual o nível exato da desconfiança? Por que a gente tem de desconfiar, em graus mínimos que sejam, da gentileza? O ato gratuito, desconectado das reações equivalentes, que dorme nas camas inimagináveis e não se vê a hora que ele acorda, até que apareça de rosto lavado, explicitando cada centímetro de seu crescimento.
Então descobri que não há ponto a se dormir, tranquilo, porque tranquilidade deve fazer virgília. Eu acordei sem saber onde estava a gentileza, ainda que haja receio de exposição de sua prevalência - até tal ponto aceitável.
Eu poderia pintar, sobre os muros, todos os meus argumentos e doações em palavras gentis, mas tudo apagariam, cobrindo-o com tinta fresca.
Podem passar tinta branca e aparentar limpeza e paz, quando na verdade nem podem eleger cor, porque há conceitos que não hão de merecer um risco que seja.
Neste embalo de furta-cor, a ilusão óptica decide qual dança de cores é possível enxergar. Antes do cinza, havia gentileza multicolorida, expressa na tonalidade que engana, mas mantém o convite ao remexido, ao passo que a luz que, agora, incide é quem decide o que a gente vê.


1 de fevereiro de 2010

Qualquer semellhança...

Sim, eu sei que ando meio musical este início de ano, indicando vídeos, músicas, compartilhando sons e imagens para quem costuma aparecer aqui na minha casa. Esta semana parece que começa com uma trilha sonora para cada sentimento. Numa ligação telefônica, "como vai?" é praxe para uma conversa que inicia de forma educada. Caetano Veloso canta minha resposta. Fica a dica com a poesia baiana, brasileira e minha, para os dias brancos da semana.

Fevereiro chegou



Eita, a sonoridade nordestina mais uma vez me prega umas boas lembranças!
Os carnavais de Recife e Olinda nos quais pulei à juventude como devoto folião, com um olhar que surge da alma sobre os índices catastróficos da festa da carne. Há uma saudade momesca de amores que Pernambuco me concedia em dias de graça laica. Paixões coloridas tais quais sobrinhas alegóricas de frevo. Há marcas de um povo em mim.
Uma das coisas mais marcantes que lembrei, hoje, tem o gosto da canção de Geraldo Azevedo, "Chorando e Cantando", quando o vi em sua apresentação em 2007, na Praça do Arsenal, no bairro do Recife Antigo: uma chuva gostosa, um palco colorido, amigos queridos e uma grande surpresa. Aquele show marcou a história dos meus carnavais. Infelizmente, este ano, creio eu, não prestigiarei a festa pernambucana. No entanto, fevereiro chegou e trouxe aquelas boas lembranças de carnavais passados, do lindo povo do Nordeste e do calor humano, reproduzido no coro de vozes anônimas que entoam as canções que me fazem lembrar, chorar e cantar novamente.