O Brasil parou, numa terça-feira santa, na semana de nossos mais medíocres pudores, diante de milhões de televisores e um só canal dominante. Nesses 59 anos de história da TV no país, nove entre dez casas possuem um aparelho televisor. Há, nesta nação, uma grande audiência, uma grande ambição corporativa, uma grande mídia e um pequeno avanço sócio-cultural: todos de olho no Big Brother Brasil.
A competente equipe da TV Globo caprichou no desfecho de seu maior sucesso de audiência, em sua ousadia trimestral de 2010. Houve grandes patrocínios, grande atração musical - cantora de muito sucesso popular(esco) - e nós, os receptores de suas ideias comerciais. No entanto, há muito foi quebrado o paradigma da relação emissor-receptor, porque hoje o conceito de interatividade, com ajuda da chamada telefônica, do Serviço de Mensagens Curtas (SMS) e a internet, possibilita que façamos parte das ínfimas decisões nos programas de TV. Eles, atualmente, refletem nossos anseios, fala por nós, fala de nós; falamos para ele, ainda que não se ouça a voz da minoria, no caso de algumas queixas nossas que não podem ser escutadas pelo Brasil. O microfone ainda está na mão do apresentador, que media nossa vontade.
Na noite dessa terça-feira, através do mais famoso reality show do país, quiçá do mundo - já que a Endemol, empresa holandesa, é dona dos direitos do programa e os vende pelo mundo afora -, escolhemos a nossa mais curiosa cara e nosso 'cara', a quem se pode chamar de herói (mesmo?), porque este é o adjetivo que o cerimonioso Pedro Bial dá à cada fantoche do tendencioso entretenimento em formato televisivo.
O Brasil escolheu a ignorância, a brutalidade, o grotesco, a falta de educação e respeito, que reflete o que é sua gente; o que, infelizmente, somos nós.
Foto: globo.com