1 de maio de 2010

A sinfonia das armas e a projeção do silêncio criminoso



Não vou levantar aqui uma discussão materialista. Quero apenas opinar sobre o impacto das imagens com obviedade e a inerência da violência nas relações humanas, onde a digestão é completa e passa desapercebida por tamanha sutilidade.
Assisti ao videoclipe de M.I.A, cantora britânica que, há poucos dias, lançou seu video (acima) com cenas fortes, de causar impacto a ponto de retirarem o seu trabalho de circulação na grande mídia. Recebi a sugestão do vídeo por e-mail. E assim que o vi, pude perceber que realmente as imagens chocam por tamanha violência que trazem tão escancarada.
Acho que essas produções audiovisuais devem ser veiculadas, sim, da forma mais aberta possível. Se se trata de um conteúdo austero e de provocação intensa, ainda que seja no cenário musical, a sociedade precisa de choques com apelo visual fortíssimo para, no mínimo, acordar à possível reflexão.
Entretanto, o trabalho árduo é fazer com que as pessoas, cada vez mais alienadas, entendam as metáforas que, normalmente, os artistas politicamente engajados apresentam em seus trabalhos. A sociedade perdeu acuidade dos sentidos; apenas consome tudo que é jogado, como se vivesse em mendicância e aceitasse qualquer alimento que lhe pareça, a priori, comestível.
Eu fico pensando por que será que as pessoas não se chocam com esses programas sensacionalistas? Eles agridem a dignidade humana, de forma a tornar afetação de trejeitos de homossexual, ou a embriaguez, ou drogadição, ou intempéries emocionais num grande circo televisionado para se fazer risos e piada da insensatez de gente desfavorecida de, sobretudo, interpretação da comicidade beirando ao ridículo. E essas pessoas menos favorecidas são as que, pelo andar da carruagem, jamais perceberiam a metáfora da crítica, diante do sistema capitalista (ratificando que não me firmo como materialista) que acentua a violência nas relações humanas, onde, por exemplo, as relações trabalhistas, tantas vezes exercem a faceta da violência, a oprimir os que não detém o poder e a autoridade.
Então, essas visualidades que chacoalham opiniões e causam horror ao público terminam por se tornar evidências fortes ao despertar de mentes; ganham espaço (ou perdem pelo forte conteúdo e atentado à moral vigente) e se consagram como frenética comoção popular, abrindo discussão para as demais vertentes dentro desse contexto.
Eu só tenho a agradecer à vida por essa vocação artística que ela me deu...
Não me considero um artista, porque tenho pouco talento para isso, no entanto, a minha afinidade com as abordagens, as discussões e perspectiva de resultados é bastante prazerosa. E, agradecer, também a esses artistas os quais levam às telas, aos quadros, às plataformas que sustentam o toque artístico, para trazer à tona questões que precisam provocar, nessa massa apática, o incômodo por estar tudo fora de ordem, ainda que se tente maquiar, por diversos interesses imperialistas.
Meu intuito é compartilhar minha noção sobre essa tonalidade sangrenta que diferencia a violência manifesta da silenciosa; esta última, tanto quanto cruel, perceptível apenas a quem tem o privilégio de notar a hábil maquilagem de uma minoria, que está longe de sofrer exclusão, e que detém autoridade para perpetuar a covardia que a legislação discriminatória lhe confere impunidade.

Born Free por M.I.A.
Diretor : Romain Gavras
Diretor de Fotografia: André Chemetoff
Produtor : Mourad Belkeddar
Produção Executiva : Gaetan Rousseau / Paradoxal

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