26 de julho de 2011

Lar de lá


Seguro é o berço, cercado por todos os lados e olhos atentos a qualquer movimento do ser que se instiga a sair correndo a qualquer momento por uma desatenção que não reprima. Determinado dia, aquele lugar seguro não condiz com o tamanho da nossa vontade. Há tantos espaços no mundo para desbravar: ida e volta, ida sem volta, demora, espera ou outro sentimento e atitude que despertem no envolvimento dos que estão laçados pelas razões de berçário a horizontes inimagináveis.
Voltei ao lar de sempre, o qual escolhi como causa da minha ideia central, podendo circular por aí, mas o centro é sempre o ponto nada trivial, para abastecer-me de energia, amor de verdade, absoluto prazer que até me torna um pouco mais limpo do que costumeiramente podem encontrar-me aos trapos e sarjetas.
Eu sempre soube deste amor que parece infinito, ainda que eu contasse, cansaria antes de chegar ao fim; e um dia a vida há de pontuar nosso território que já não tem mais cercas e, acerca deste tempo que nunca saberemos quando chegará, existe o que me move de certezas e dúvidas infindas, de querer correr pro abraço e sentir-me tal qual um bebê em berço seguro, ainda na ânsia de partir novamente.
Voltei para casa. Encontrei meu quarto limpo, encontrei o olhar mais lindo de todos que já vi, da mulher mais descrente do mundo, mas com um repertório absoluto de preces e crenças em algo maior, em nosso amor inexplicável e na proteção que todas as forças que puder angariar. Há um homem, não menos importante, de olhos descrentes, maculado pela negação constante desta vida que dos seus sins diz-se de seus sinais como quem nega possibilidades. Esse homem é meu pai, inseguro e amoroso, de poucas palavras, mas ansioso por dizer sempre alguma coisa. Aquela mulher, minha mãe, de palavras disparadas na velocidade do seu bem-querer constante e intenso, sempre dizendo algo a mais, mas normalmente, querendo achar a direção exata.
Havia minha avó, a que tinha mais tempo de passagem por este mundo, a que da vida se despediu exatamente há um mês, e ela também teria coisas a dizer, e eu não pude escutar dessa vez.
Há minha querida irmã, sempre com as regalias de conforto e bom grado, paparicando com seus mimos materiais, porém é de querer materializar seu afeto imenso. Todos os mimos sentidos e saudosos, alguns de lembrança e ausência, outros de não perder de vista em pouco tempo - os únicos poucos dias divididos entre outros afetos e o centro, sempre foco.
Um amor que não está dissipado, não tem agrado que nestas terras de cá indique o igualitário, são pedaços de mimos que me acometem, mimado, a sentir vazio o leito em que durmo, mesmo estando pronto apenas pra mim, como sempre, mas falta o cheiro da família, que nem o orvalho da manhã repentina, todo dia, igualar-se-ia ao lar de lá... esse olfato alegre dos dias nas campinas.
Os amigos marcaram presença em eventos de alegria, na parte lhe cabem. Os entes, consanguíneos, participaram de algumas horas de restabelecimento de sobriedade, compartilhando dias ausentes, atualizando. Eles também puderam ouvir minhas verdades limitadas que oscilam entre minha felicidade e dor de estar aqui, não para sempre, mas com vontade sempre de um pouco mais ficar.
Se me deve muita coisa, o mundo, já pagou sua parcela mais primorosa. O resto da dívida, vou vivendo cada ocasião, que no calendário se conta pelo tamanho da minha razão e o prazo de minha próxima meta.

Imagem capturada de Bordados LS

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