1 de fevereiro de 2012

BUHR, Karina


A grande vantagem da música brasileira é que ela se renova e, sempre, sonora e muito bem apresentável, simplesmente encanta seus compatriotas, como também faz seu som apreciado nas terras forasteiras. Há uns pares de ano, no entanto, parecíamos entrar num ostracismo de produções musicais renovadas, nada aparecia que não fosse já visto, apenas com algum requinte de inovação na genuinidade vocal. E ponto. Vozes surpreendem, mas elas precisam de um acompanhamento tão importante quanto, para, juntos, fazerem o que, de fato, chamamos de música. E esse conjunto de propriedades que, unidas, causam sensações boas aos ouvintes; é o que faz vender - porque o mercado fonográfico como qualquer outro precisa sobreviver - e, quando tem um plus, seu valor agregado é o diferencial naquele produto. Sobre um novo produto é que rendo minhas linhas: Karina Buhr.
Eu falava da repetição, das novas vozes até muito boas, deslumbrantes, de arrepiar... Mas elas se perdiam nas entranhas de outros sons tão comuns, repetitivos - nada a ver com minimalismo -, mas... sabe os hambúrgueres dos fast foods multiplicados nas esquinas de cidade grande? Sabor-comum. A música precisa de vivacidade e não somente sobrevivência, precisa viver, até renascida, reencarnada, como queiram, mas com uma roupagem nova, uma pele diferente, um tempero diferente e bom, para aguçar sentidos, fazer-nos procurar ter outras novas e maravilhosas sensações sem assimilar à corriqueira semelhança: a nova Gal, nova Bethânia, nova Tetê... Que venha o novo, então, mas que não necessitemos dele como adjetivo. Que seja substância, substantivo, e até que seja composto, por nome e sobrenome. Que até assuste... Bu! Buhr, Karina
Tomei um susto quando vi Karina Buhr no palco pela primeira vez, em Campinas. Uma figuração sombria, escura, vestida de cor negra que engana, mas que à luz incidente sobre ela, o brilho de lantejoulas, tal qual a cortina do fundo que se misturava num delicioso sobressalto para poucas pessoas, pouquíssimas, diria umas cinquenta, que saíram de suas casas numa quinta-feira chuvosa, dia 8 de dezembro, para ver aquela baiana de sotaque e espírito pernambucano. E ela cantou... houve, então, nossa intimidade. É bom assim, quando a música parece íntima, mesmo sendo nunca antes vista igual. Esta antítese pode ser a fórmula do sucesso. No caso de Karina, sim.
Entendi então na intimidade do som com minha audição que a alma é profundamente tocada pela sua antítese, porque suas composições mostram a vítima e a vilã numa só mulher, pessoa que mente pra você, que morre depois de tanto verbo, que deseja que a ame, mas não tanto. É uma carência de pouco, é pedir pouco, porque muito é sobra demais para quem tem a suficiência, sob a ameaça de ir pro lixo. 
Entendi também de seu abuso da sonoridade, da confusão de palavras, às quais não encontrei figura de linguagem que alcançasse seu ineditismo; junta duas, forma um som esquisito, confrontador, resultante da verdade, apenas, e isso faz música, aliás, faz-se música. É a boa maldade esfregada na cara, letras pontiagudas, perfurocortantes, incisiva na pele e, continuadamente, provocando aquelas sensações como a água e sal, tempero simples, na carne viva; de provocar sensações incríveis e para não esquecer de repetir a música que não se repete entre todas as novas da história brasileira das músicas bem semelhantes. "E ganha um signovosignificado para mim"
Parabéns, Karina Buhr, pela sua inovação com muito boa qualidade! 




Para quem não a conhece e quem conhece e precisa saber onde encontrar um pouco mais: www.karinabuhr.com.br

Imagens: divulgação (site da artista)

Um comentário:

  1. Olá, um belo texto sobre Karina Buhr, essa baiana-pernambucana. Muito bom! Abraço.

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