23 de março de 2012

Existência

Existe o risco iminente, no dedo calado que aponta segredo.
Existe o mito, o que não foi dito, paradigmático.
Uma ruptura cruel.
Ela vem em fases; ela não vem, às vezes.
Porvir sempre existirá.

Existe qualquer centelha de esperança, porque é viva.
Existe o absurdo viver, descrente,
Como "no creo en brujas pero que las hay las hay".

Existe a fé em alguma coisa que não existe,
Ou que já existe e é preciso crer pra fluir.
Existe fluido no sangue derramado.
Todo poder existente escorre, enfim.

Existe sua experiência e a minha
E a contradição das duas,
E a semelhança no horizonte que quatro olhos enxergam,
Como também dois corações que jamais serão um só.

Existe a repetição do verbo, o abrandado sujeito,
O objeto, de novo, a que se aspira.
Objetivo de vida, também existe.
Insiste a vida em querer continuar porque existe caminho.

Existe labirinto, e então a complicada orientação dos desejos.
Existem dois terços de qualquer podridão
Que não contamina tudo porque um terço insiste em não querer convergir.
Existem intersecções a clarear ideias ou esboços de comando novo.
Direções que surgem ao se revelar os rumos que o destino não disse antes.

Existe a necessidade de fundir,
Essa coisa linda que é unir esforços em torno de um prol só.
Mas há contrapartida toda vez que se lança um artefato de ação,
Pois se não reage é porque não existe vida,
E vida é o interesse comum.

Existe toda mistura
E um caldeirão imenso para despejar diferenças.
Existe, perene - mas existe -, liga de redundante ligar.

E para quando cozer o prazer em se deliciar,
Porque o sabor da vida está no que se prova dela.
Se se esquenta, se mexe, condensa
Quem pensa que alguma coisa mais lembra,
Tem o que se esquece no fogo,
Cozido no esquecimento...
Mas tudo, no calor da existência,
Uma hora, evapora.



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