7 de março de 2013

Eduardo Galeano: A demonização de Chávez



Senti muitíssimo a partida de Hugo Chávez, porque, ademais de um grande presidente para a Venezuela, pude me corresponder, durante quase uma década, com uma senhora venezuelana sobre a vida e, sobretudo, a vida em seu país. Portanto, sei, como testemunha distante, o quanto pessoas inteligentes e sonhadoras por uma nação melhor - assim como conheço diversos brasileiros - que atrás de uma pressão internacional muito cruel, há indivíduos que nos trazem a verdade à tona. E por ter esse olhar privilegiado, transcrevo, aqui, o texto do jornalista uruguaio Eduardo Galeano.

Hugo Chávez é um demônio. Por quê? Porque alfabetizou 2 milhões de venezuelanos que não sabiam ler nem escrever, mesmo vivendo em um país detentor da riqueza natural mais importante do mundo, o petróleo.
Eu morei nesse país alguns anos e conheci muito bem o que ele era. O chamavam de “Venezuela Saudita” por causa do petróleo. Havia 2 milhões de crianças que não podiam ir à escola porque não tinham documentos… Então, chegou um governo, esse governo diabólico, demoníaco, que faz coisas elementares, como dizer: “As crianças devem ser aceitas nas escolas com ou sem documentos”.
Aí, caiu o mundo: isso é a prova de que Chávez é um malvado malvadíssimo. Já que ele detém essa riqueza, e com a subida do preço do petróleo graças à guerra do Iraque, ele quer usá-la para a solidariedade. Quer ajudar os países sul-americanos, e especialmente Cuba.
Cuba envia médicos, ele paga com petróleo. Mas esses médicos também foram fonte de escândalo. Dizem que os médicos venezuelanos estavam furiosos com a presença desses intrusos trabalhando nos bairros mais pobres. Na época que eu morava lá como correspondente da Prensa Latina, nunca vi um médico.
Agora sim há médicos. A presença dos médicos cubanos é outra evidência de que Chávez está na Terra só de visita, porque ele pertence ao inferno. Então, quando for ler uma notícia, você deve traduzir tudo.
O demonismo tem essa origem, para justificar a diabólica máquina da morte.
Foto: Aporrea.org

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