3 de abril de 2013
Bem-me-quer mal me coloriu
Dia de insônia é tudo igual. É claro o suficiente pra incomodar os olhos que anseiam dormir. É escuro o bastante pra não ver nada além do que a preocupação de sempre: o dia seguinte.
Eu planejei uma viagem sob desculpas pra vida inquieta. Inventei uma paisagem de concreto e muita tinta sobre os muros pra colorir minha passagem em terras que poderiam revelar um futuro brilhante. As cores verdadeiras não são, ao menos, acetinadas. Eu vi no fosco da ocasião um brilho que não existe. E cair em si é a melhor tintura pra o pensamento. Então pensei em desistir, não colorir mais nada, não acreditar em gentileza, e não precisar de favor. Venho vivendo de favores...
Caí na noite que não enxerga o sono. Pensei em tudo antes de ir, na lembrança a regalar, na vontade de chegar, sobretudo, onde não é meu lugar, nem nunca será, o fosco não me agrada. Escuro o bastante pra não ver o dia posterior, pois ele não existirá da forma que eu imaginei. Imaginação vai além, mesmo, a única coisa e é à toa.
Ir armado de bom moço que sou não é a melhor fantasia, porque nem mais preciso me fantasiar, nem mais preciso ter medo. Vivido o necessário pra saber que vida mais que a minha só importa se for a ela se fundir ou, como legado mínimo, compartilhar, daqui e de lá, um pouco de cada nuança. Essas cores do dia seguinte só não me fazem acreditar que monocromia hoje está aquilo que pensei diversificar.
Assim tem uma aquarela, uma possibilidade real, e ela não parte da ausência de cores; jamais um branco faria tão interessante o que a demão dos dias, ultimamente, faz-me perceber que escureceu o bastante pra não me preocupar com o de sempre. Quem sabe um dia seja mais claro, mas não em razão de uma insônia, senão pelo trato de uns dias de sol do lado de cá, que eu sempre quis pra mim.
Imagem: Aquarela de Gabriela Seltz
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