2 de abril de 2018

As palavras que eu coloquei em tua boca

Estou percorrendo quase 160 km em busca de um caminho onde desconsidero todo o percurso. Até aqui, foram alguns minutos e algumas desculpas. Mais de uma hora e meia no trajeto, tudo o que vi era a merda do caminho que eu não tenho em outras vias. E volto, com a sensação de que me enganei por muito pouco, com mais mas dezenas de quilômetros à frente para o meu porto seguro, minha caixinha confortável e sossegada. Minha paz reina ali, no meu império dos sentidos de até-aqui-o-suficiente. Um mimo, uma vida animal na bagagem, uma lembrança para alguns anos posteriores, e mais uma série de equívocos e... lá estou eu de volta à caixinha segura e confortável.
Melhor esquecer e disfarçar a realidade desses tempo ruim, de muitas nuvens e ventos gelados; chuva, agora que choveu, eu me embalo ao som das águas sobre as coisas para não ouvir as demais vozes.
Quando me apetece ser desta forma que venho sendo ao longo de muitos tempo, eu viajo a destinos incansáveis, chegadas e partidas, e nenhuma oportunidade de... sei lá, eu sair daqui de dentro deste box de silêncios e alguns sons da natureza ou da intervenção humana. Pode ser a chuva a molhar o chão, pode ser a neve para esfriar minha cabeça quente, um miado de um gato, um motor de uns carros de aventura ou a torcida inteira vibrando ao canto de uma vitória no campeonato. Qualquer ruído que passe à frente da minha miséria de homem. ´
Se calhar, meu destino nunca será numa nação-irmã, num abraço-irmão, num aconchego familiar, porque os pilares que me sustentam, apesar de familiares, apesar de metáforas de sangue, são fibras de fácil rompimento, porque a verdade que tenho ocultado de mim mesmo e aos meus, são garantias de uma paz interior dissimulada. O sangue se espalha sobre as coisas, as pessoas e as cartas. Está tudo melado de vermelho intenso, mas, eu sei que brando é o meu limite. Não há fronteiras a ultrapassar porque, simplesmente, meu lugar sempre será um só no universo. Talvez isso diga muito de onde escolhi por terra e não foi o lugar onde nasci. Eu sempre fui um estrangeiro dentro de mim e jamais consigo admitir que tenho vínculos com terras além de um céu azul em que acredito ser o lugar de deus. É, portanto, uma outras mentira bem assimilada para não temer tanto esforço de me olhar no espelho e ver como sou.
Eu não tenho coragem de dizer essas coisas de mim, assim, tem uma incerta tempestade que possui nome e sobrenome, para derramar todas as verdades que, no fundo, é apenas um ponto de vista. Estou cego, enfim, não olhe para mim e esqueça quem sou. É melhor para você, sobretudo nesta etapa que você precisa olhar para o seu destino e não o meu. Faça bem mais de seu caminho do que se limitar esperar pelo cruzamento das nossas vias.

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