8 de abril de 2018

Usuário em defeito

Esquece o dia de ontem,
Anteontem e todas as semanas atrás.
Perde-te de mim nas horas das tuas fraquezas;
Esquece a franqueza com que eu sorri com força
Mesmo com o pranto entalado no cerne da minha metástase.

Tua doença não é mais minha, 
Não posso absorver angústias pessoais
E saudações impessoais depois de ter sido pessoa,
Casa, pilar, terreno e raiz concretada.
Minha cura vem por minha dúvida,
Minha palavra jamais será equivocada.

Desvios de sentidos, força esvaída no caos da Revolução
Patos amarelos em meio ao fogo de artifício
E bons dias artificiais, praxe dos covardes de plantão,
Etiqueta e opinião brandas como ondas de mar sereno,
Como dívidas a longo prazo e, custe o que custar,
Saberás, assim, o valor de uma demolição.

Esquece rotas e ruturas, de supetão, tuas
Tontas passagens por lado qualquer, lado a lado
Ponte entre mim e coisa nenhuma, unha encravada,
Dedo doído de apontar para o horizonte
Em que uma linha escura abastece o transtorno.

Deita-te ao som da fúria das gaivotas,
Cortando o silêncio de um ecrã frio e dissimulado, 
À palma da tua mão gélida sem saber por onde começar,
Emudeço num clique obstinado por novo lar.

Estou calado; saio lesado; caio caiado; marco ousado
De quem está em pé para sorrir novamente a quem estiver à frente.
- Bom dia, senhora. Seja bem-vinda... 
Gastei todo meu dicionário por um doentio e supeito
Utente de um hospital onde nem são nem salvo
Adoece completamente para remédio nenhum fazer efeito.

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