25 de maio de 2018

Terra adorada

Uma bala perdida. Uma pátria amada. Um peso, uma medida, um olho por olho, dente por dente; talvez um homem que plantou semente, semeou-a como quem pacientemente esperava que longos dias, estações adversas, várias delas, tudo sob a lei e a mais importante da honestidade: o fruto de sua semeadura. Justa. Correta. O que vem depois, será por lei, sempre, um filho.
O País que em pecado, no passado, herdou de si mesmo a terra roubada, há séculos, dos filhos que fogem a luta enquanto sofrem os que se armam de fé e remissão, dívida herdada por tabela, pisam forte o chão, uma vez que aperta o coração, e produz a lavoura para alimentar os mesmos caras-de-pau que cometem tudo que são de cometer por tempos, em tempos e tempos.
Filho órfão da União, do terceiro setor, de quaisquer adoções; são filhos cegos, geneticamente influenciados por estúpidas vezes que se deixaram, em nome deles, o pão ir-se esfarelando numa vitrina onde, aqueles que podem e não querem, aqueles que sofrem com fome e não podem, o ar seco e a luz que oscila degradar o alimento de quem plantou e não pôde escolher.
Estou vendo o Brasil há poucas décadas sentir coragem e travar escolhas mais certas, e voltam a repetir o mesmo erro com nuanças de uma moda que passa por colônia, império, república, ditadura e democracia, no pote de mistura, a batedeira faz da força colorida da nossa etnia uma lama escura e horripilante. Estou vendo há três décadas os erros se repetirem conforme minha leitura um dia me mostrou que toda aquela ganância só passar hereditariamente para uns nomes cuja bênção é promulgada por quem se levanta como sacerdote pronunciando seus ritos.
Faz algum tempo que quero, na agonia, partir, vejo mãos por aí, dadas furtivamente, das premeditadamente... vejo mãos separadas, não alcanço de tão longe que estejam aquelas em que um dia achei, por ingenuidade, querer com as minhas andar, dadas, em nossas forças. Faz algum tempo que olho minhas mãos trêmulas quererem apertar as mãos verdadeiras de homens íntegros, que queiram como eu, não fugir à luta, mas sentir um aperto de mão forte e digno. Faz algum tempo que perdi um pouco da memória de ir ou ficar, e permanecer entre aqui e acolá, ligado aos irmãos cujos nomes são tão simples como o meu. Foi na simplicidade que encontrei a solução: eu estendo a mão e a mão que, se a minha se junta, quer andar para onde for sem questões banais de terras em meu ou seu nome, porque a terra fica para todos, afinal. Todos terminam por escolher como tratar a terra sem perceber que a escolha tem feito, do chão, propriedade, sem jamais querer que outro semelhante, seja filho, seja irmão, seja amigo, seja querido ou não, tenha a mesma oportunidade de caminhar num lugar seguro, como um porto em que se lança e se volta, quantos homens passarem e quiserem desbravar. É aqui um lugar seguro? Temos aqui um porto para ancorar nossas barcas desbravadoras de bons corações? Não tenho a resposta, infelizmente, mas tenho um posto e nele aposto com um aperto de mão e, talvez, abraço sem patriotismo medíocre, sem a ganância por terra que o vento leva tão fácil quando poeira.

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