25 de setembro de 2018

"Isso poderia ser o final de tudo." Ainda não é.

Comigo estavam pai, mãe e minhas duas tias. Estávamos sentados lado a lado naquela fileira de cadeiras diante de uma cerimônia sóbria demais, demagógica demais, mas com um significado pessoal para cada uma das vidas que estava ali.
Meio desalentado, eu estava com sintomas da falta de expectativas que um sistema me presentou. O mercado que me empurrou de um lado para o outro; sacudiu em mim promessas e ao mesmo tempo migalhas condecorativas, eu cansei, poucos compreenderam, e eu apenas larguei as mãos que apertam com crueldade: bolsos, estômago e até sonhos. Elas estrangulam. Tinha um peso, uma medida; dois pesos e duas medidas; eu tinha o equilíbrio distante de onde eu nunca pude chegar.
Cheguei ali com a força de umas palavras, umas agonias, textos, livros, trabalho, crença e mais uma vez descrenças. Cheguei porque me vinham da boca pra fora um hálito reforçado de praxe, de boa educação ou de cumprimento de agenda. Vinham também do lugar mais verdadeiro que só bastou eu olhar para trás e perceber que eu não estava sozinho. À frente, na fileira de cadeiras verde-escuras, nem atrás com o sinal de força que recebia com um silencioso "presente" e um sorriso desfechado. Muitos dos meus. Os mais verdadeiros, talvez. E depois tive a certeza.
Obrigado.
Eu não estava feliz, eu estava só neutro. Acho que neutralidade foi uma das maneiras mais estúpida e corajosa que consegui sobrepor à luta que não acabou, mas após minha última derrota, tantas possibilidades ficaram turvas. Escurece o amor, depois do espaço que dei para que mentiras me descreditassem como amigo, como amante, como qualquer ser humano verdadeiro que pudesse exercer uma atitude responsiva e vice-versa.
Eu não acredito mais em vice-versa.
Contudo há coisas para acreditar. Essas são bem melhores, valiosas.
Quem sabe estou aqui para ser o primeiro a discorrer sobre o pódio, seja o melhor ou o pior índice. Onde quer que eu esteja, estarei verdadeiro. E posso olhar para trás e ver aquela pessoa maravilhosa que a vida me apresentou. Que depois que eu fiz um monte de coisas desagradáveis e é possível que nos desagrademos. E depois nos perdoamos porque sabemos que em nenhum momento deixamos de ser verdadeiros um ao outro. Aliás, da minha parte sei que sempre agi em sua direção com a verdade, mesmo que ela fosse má. E sei que a sua verdade foi tão dolorosa quanto importante para eu entender o espaço que se criou entre o que um ou outro acreditou ser e não era.
Estas palavras não falam de amor eros. Eros não convém. Teve seu tempo numa mitologia, no Lácio.
As palavras que eu gostaria de dirigir àquele ser humano que estava encostado na porta com um sorriso, porque dos poucos amigos que tenho foi o que me deu prestígio. É o que nunca mediu nenhum abuso meu para determinar que estou certo ou errado. É o que o tempo já se vai em alguns anos e eu um dia fiz questão de quebrar o silêncio de um ano para agradecer por estar em outro lugar e estar ali com a oportunidade que sempre sonhei e consegui, a contrapartida de hoje em dia.
É bom sabermos que protestamos pelas mesma causas, lutamos cada qual à sua maneira, combinamos um tempo desses, sei lá, uma tequila para ver como mexicanos veem também a morte e saber que tempo é significados.
Obrigado novamente.
Nunca um capricho ultrapassou nossa amizade. Não seria uma parede mofada, uma cadeira velha, onde eu sento e caio. Tampouco um quadro com pintura estragada, um restauro de Cecilia Gimenez... E quando você aprendeu a lidar com meu pessimismo espirituoso e a também não retaliar meu timing. E aprendi que, sob quaisquer circunstâncias, nossa amizade é um lugar muito bonito "and if you have a minute, why don't we go? Talk about it somewhere only we know."
Obrigado, por fim.

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