12 de junho de 2009

Dia Comum


Eu diria que hoje é um dia incomum, se eu não visse tantos corações artificiais pulsando em vitrinas famintas por consumidores.

Eu diria que hoje é um dia incomum, se eu não passasse por essas vitrinas e não observasse o da celebração de tanto plástico.

Eu diria que hoje é um dia incomum, se eu não prestasse atenção nessa fortuna em movimento, alimento de cofres, equiparando amores.

Eu diria que hoje é um dia incomum, se eu não visse apenas uma data no calendário de dias comuns.

Eu jamais esperaria apenas um dia certo para dizer 'eu te amo'. Então, Jorge Luis Borges, sairia de minha boca se você viesse qualquer dia...

"É o amor. Terei de me esconder ou fugir. Crescem as paredes de seu cárcere, como em um sonho atroz.

A bela máscara mudou, mas como sempre é a única.

De que me servirão meus talismãs: o exercício das letras, a vaga erudição, o aprendizado das palavras que usou o vago norte para cantar seus mares e suas espadas, a serena amizade, as galerias da biblioteca, as coisas comuns, os hábitos, o jovem amor de minha mãe, a sombra militar de meus mortos, a noite intemporal, o gosto dos sonhos?

Estar ou não contigo é a medida do meu tempo. O cântaro já se quebra sobre a fonte, já se levanta o homem à voz da ave, já escureceram os que olham pelas janelas, mas a sombra não trouxe a paz.

É, eu sei, é o amor: a ansiedade e o alívio de ouvir tua voz, a espera e a memória, o horror de viver o sucessivo. é o amor com suas mitologias, com suas pequenas magias inúteis.

Há uma esquina pela qual não me atrevo a passar. agora os exércitos me cercam, as hordas. (este quarto é irreal; ela não o viu.)

O nome de uma mulher me delata.
doí-me uma mulher por todo o corpo. "



Poema Incidental: O Ameaçado de Jorge Luis Borges
Imagem: capturada de http://inoutyou.blogs.sapo.pt/101863.html

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