17 de setembro de 2010

A verdade

A verdade é uma só. Ela não precisa de disfarces nem facetas, porque o único intuito dela é ser ela mesma, e por isso reina, sem absolutez, porque é despretensiosa. A mentira é quem se apresenta de diversas formas, porque ela tem inveja de ser verdade e faz de tudo para se parecer com ela. No entanto, ninguém reina, tentando ocupar o lugar do outro por muito tempo. Uma hora, a semelhança é descoberta pela veracidade, ou a própria mentira, que é dissimulada, não se sustenta com identidade falsa (confunde-se).
Semana passada eu disse algumas verdades que precisavam ser escutadas. Minha familia veio me visitar em Campinas, porque a saudade já prorrogava, cansada, o tempo de se manter ausente do lado a lado. Houve drama. Eu estava empregado irregularmente num estabelecimento que não fazia de mim um sonhador, apenas supria o cotidiano de obrigação e necessidades triviais: comer, transitar, ser, com um pouco de dignidade. E no ápice da falta de dignidade, percebida de antemão, mas levada à parcimônia por acreditar que um dia tudo se ajeita, pedi minha demissão. Foram-me podados os direitos trabalhistas mínimos. Eu não exigi regalias, apenas o que foi estabelecido em convenções muito antes de estar nascido. Eu não quis me vingar; poderia aproveitar meus espaços de reinvindicação e liberdade, publicando meus desafetos profissionais, mas é muito pouco ainda para uma revanche proletária. Não iria ficar bonito, também, cometer terrorismo literário por um passado na vida onde a busca de respeito e credibilidade foi desrespeitada: algo que me importa esquecer ou apenas desclassificar no rol da lembrança, em nível mínimo de estrelas. Quem tiver de ser estrela, nascer para isso, terá seu brilho percebido mais cedo ou mais tarde. Quero eu ser estrela? Sei lá. Quero apenas constar na constelação dos meus sonhos. A minha cabeça sabe bem separar o real do universo criativo e me fazer sentir mais vivo do que estrelas mortas que têm seu brilho visto por nós mesmo depois de seu tempo vivo.
A semana de choques emocionais e térmicos, de tempo seco e cruel, de despedidas, encerramentos e abertura para novos projetos, com semeadura depois de colheita de frutos bons e maus, passou. Quando a sala de embarque de Viracopos testemunhou o amor que lágrimas corridas expressaram os próximos dias de saudade, o acúmulo de fatores meteorológicos e emocionais me legaram gripe, e minha mãe partiu com o multiplicado vírus, que invadiu tanto meu organismo quanto o dela: adoecemos no mesmo dia.
Eu jamais omitiria a minha fraqueza orgânica, porque tudo o que valha toda importância para alimentar de luz minha pequena (ou grande) estrela terá de ser real e pública, não podendo ser apenas semelhança. Minha meta-mor é a verdade, ante às aparências do cotidiano.


Imagem: por René Magritte (reprodução capturada da web)

Um comentário:

  1. Eu não sei o que seria da vida sem transparências...
    Dizer verdades pode ser dolorido, mas deve ser feito!

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