Era uma ficção com pretensão de ser apenas bonita. Uma rede emaranhada de coisas pessoais daquele ser anônimo, que escrevia todo dia religiosamente para inventar mundos, quando na verdade as partes desalinhadas, caso fossem organizadas, daria certeza de que a ilusão e a revolta contra a realidade são somas perigosas na mão de um escritor.
Ele, - o dono das palavras - mesmo, estava confuso e confundia. Ninguém entendia nada. Mas ele continuava a falar de si e suas coisas: eram entrelinhas, verbos inofensivos, detalhes agressivos, o veneno das sílabas, separadas como se fossem gotas a contar. Pareciam medicamentosos discursos para um mundo que não conhecia as subdivisões de suas malícias, verdades teatrais, algo mimético para se esperar apenas os aplausos e provocações emotivas. Uns choravam, outros logo esqueciam. Ele dizia, outro lia, aquém dos segredos que, assim, iam-se, revelados, sob lúdico caminho de um labirinto literário.
Parecia cada corredor um mundo. Não era. Era tudo um mundo só. Fragmentos de verdade universal fundidos à ilusão do imaginário: um convidativo elixir para a vida. Escrever e ler, em sua experiência majestosa, possibilitava sempre um caminho de ida aos lados, sem saída, quiçá, mas que incentivava criações.
Criavam um vínculo de independência, nas dependências do mundo aos pedaços. Era quem lia que viajava por terrenos aleatórios, à primeira vista, e ele que escrevia; dizia de si e do mundo o que pensava, como quem coagia sutilmente para angariar forças leitoras a fazê-lo encontrar consigo mesmo. O resultado disso, não esquecendo as fraturas, era sempre o inteiro desconhecido, partes do pouco a pouco, todos vivenciando sem ainda ver desfecho.
Escreve-se por estar vivo, porque escrever é ato vital. Ao mundo de fora, um tanto do mundo de dentro, e volta para o mesmo lugar, como que saiu para buscar do outro lado o que faltava no seu avesso, ingerindo incontáveis drágeas de retorno.
Imagem capturada na web
Escrever e aprimorar o olhar. O mundo de cabeça pra baixo também é lindo.
ResponderExcluirReconvexo...
ResponderExcluirCris, você é de uma sensibilidade ímpar!