14 de dezembro de 2009

Mutilação N°62

Primeiro, você mutilou meu braço, quando eu tinha lhe dado minha mão. Eu aprendi na falta de um membro, achando que diante de quem eu tinha, tão pouco seria ausente. Depois você quis meu pensamento e, de uma forma peculiar, possuiu-o de maneira que não me fazia mal não pensar em outra coisa. Então, vieram (da forma que foram) os ossos do ofício, e você adquiriu minha literatura ocasional. Assim, com o tempo, foram-se de mim, o átrio, o olfato, o paladar e meus olhos sombrios. Pude ver que só havia ganhado um sorriso, quando você fazia um gracejo ou passava a língua no meu pescoço. Muito pouco para o que você já havia tomado para si. E conservou tudo no frio do refrigerador: pedaços de mim. No dia em que a ausência de minhas partes gritou, chamando-me à integração, eu decidi largar tudo e buscar próteses. Nesta noite, você me liga se desculpando, devolvendo meus pertecences gélidos, mas eles não serão os mesmos quando forem implantados. Não há corpo retalhado que seja próximo ao original. Pode ficar com os meus pedaços, repartidos, pois isso é tudo o que você conseguiu, mas nada, agora, para mim. Pegue a minha escova de dentes e jogue no lixo. Meus sorrisos emergem de uma outra fonte, meus dentes me pertence e eu ainda posso sorrir.

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