Uma vez soube que - não lembro quem me disse - a paixão durava três meses. Caso evoluísse, passaria daquele fervor apaixonante para um status mais sóbrio. Eu deduzo, hoje, que a coisa há de ser contínua, sem intervalos, seguindo a normalidade (nem sei se existe neste caso) dos dias de paixão até o sentimento em solidez e sobriedade, após quase noventa dias.
Nesta fase, imagino, posso até compartilhar a experiência que tive, toda reação irracional é deliberada, em hormônios - não se pode esquecer o que é orgânico - a partir de choques psicológicos daquele calor, daquele frio, daquele calor intenso, aquele frio na barriga... Tudo vai oscilando e o corpo responde da forma mais diversa, até quando chega à boca, às mãos, e se exterioriza. Pronto, aí que está um grande desafio!
Exteriorizar de forma intensa, pode causar danos irreversíveis. Quem se preocupa com eles, nos atos do tempo 'durante'?
Existe um julgamento absurdo dessas demonstrações 'públicas' que a paixão nos incumbe fazer que, mediante à coisa exteriorizada, 'a ficha cai' e a preocupação é óbvia: seus amigos, sua família, o leitor do seu blog, etc., muita gente pode perceber que você está apaixonado(a) e aí começam os contrapontos, até o ponto que a pessoa por quem você se apaixona (e você, obviamente) estão expostos(as) à racionalidade medíocre dos não-apaixonados. Então, surgem os diversos adjetivos, muitos deles sequer têm relação com o que você considera nobre ou mesmo não tem considerações racionais.
Relaxe, deixe passar os três meses e verá.
Por que o significado e a razão das coisas ficam, em nós, imbuídas, por todas as ocasiões dessa passagem breve, até na parcela circunstancial de três meses, apenas? Não sei. Sei que permanece em mim, e me machuca muito.
Para mim, os últimos três meses foram de solidão absoluta, neste quesito de paixão. Não havia nada que trouxesse aquele contraste de frio/calor, medo/coragem, etc. Nada me surgiu para que eu pudesse ter uma preocupação banal ou pôr tudo a perder, por não me preocupar com nada que a exterioridade julgasse.
No entanto, o trimestre anterior à fase do sigilo urgentíssimo, diante da falta de boa taquicardia e inexistência da capacidade de me apaixonar foi derrota, a partir do momento que eu comecei a me preocupar com os três meses, aqueles onde eu poderia me libertar da racionalidade e me entregar totalmente à isenção de projetos a dois. Neguei-me o prazer de dar bom dia, todo dia, porque tinha medo de ser julgado como... ah, sei lá! Neguei-me o prazer de mandar mais de um SMS diário só para dizer que o pensamento estava dominado, permanente em... Na verdade, é improvável que essas atitudes fossem diferentes, porque eu estou a todo tempo com uma mordaça, para usá-la, quando os sintomas da paixão começassem a liberar vontade de sorrir com a voz, só por acordar pensando em quem não sai um minuto do pensamento: isso é uma sabotagem das maiores. É loucura maior do que a loucura que a paixão nos causa por meses consecutivos (aqueles três que me disseram, outra vez).
O pior de tudo, os três meses iniciais passaram, eu não aproveite sem a prudência, não deixei que a poesia piegas transitasse, livremente. Amordacei-me. Pensei quinhentas vezes antes de falar uma simples frase ao telefone. Joguei água fria quando me corpo se sentia em brasas. Foi uma grande besteira.
O tempo, senhor da razão que não foi necessária naquela época, ironicamente, parece dar-me outra chance para o mesmo caso, como quem permite consertar meu erro.
Agora, além da mordaça, a qual é preciso arrancar da minha boca, há uma algema desumana a prender minhas mãos. Então, hoje, só meus olhos estão possibilitados de tamanha isenção - de segunda vez.
Pena que meus olhos estão pouco longe de quem quero ver.
Imagem adaptada: Banco de Olhos do Amazonas