5 de julho de 2017

Amanhã-passageiro

Tenho uma coleções de papéis num envelope plástico.
São memórias de quem já dedicou a mim algumas palavras.
De vez em quando volto a elas.
Releio para não esquecer com o passar do tempo tudo aquilo.
Como em outras vezes, papéis me deixaram lágrimas de um tempo bom que não volta.
As lembranças têm este poder: tentativa fracassada de viajar;
Na verdade, a viagem fica presa dentro de mim.
O veículo que locomove no tempo sem sair do lugar;
Combustível  que vaza lento e doloroso
Engrenagem que se move incansavelmente;
Movimento não acelera nem para frente nem para trás.
O movimento em si.
Eu não sou condutor.
Eu não sou veículo.
Eu não sou trajeto.
Eu não sou...
Fiquei ali mesmo no que fui, esta viagem parada ali.
Ali é o lugar que não alcanço.
Meus braços não se deixam mais enganar.
Pedem descanso.
Assim como a cabeça precisa descansar.
Não há mais surpresas nem na pele nem por baixo da pele.
Não há meio do caminho, interrupção.
Há em mim uma estação de serviços às palavras.
Porque neste ir e vir só quem transitou foram elas.
O combustível acabou, a última gota acabou de cair.
A máquina finalmente para.
Dorme, agora!
Amanhã será ontem.
Hoje passa...
Amanhã quem sabe serei passageiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário