5 de outubro de 2017

Diz que Santa Luzia protege

Não é meu dom de ser sozinho, de me sentir rodeado de vinte e nove subterfúgios sorridentes e um pouco mais de arrependimentos instantâneos que me farão aplaudir a derrocada de trinta e cinco tentativas estúpidas de querer-bem-e-maldizer.
Tenho aprendido bastante a cada olhar lançado ao joelho esculhambado de tanto ir ao chão com a a gravidade que me lançaram com a força motriz de jogar três partidas de indecisões. Já estou velho o suficiente para saber que as coisas andam, como as coisas mudam de lugar, enquanto eu me desloco entre sentir a falta de alguém e tentar alcançar o resto de mim que espalhei nas terras que plantei sementes de felicidade. A tristeza passa, sempre, algum dia; a alegria volta pela manhã quando acordo querendo beijar o meu travesseiro que na última noite foi meu inimigo mais cruel. Eu faço as pazes com lençóis encharcados de suor e sonhos bonitos que acalentaram o espaço vazio que separa, de mim, o resto de tudo. Vou jogando dentro dele pétalas secas do verão que nunca vi ao lado do meu... nada.
Quando à míngua em desertores dias, que ficam incompletos: falta o ar rarefeito que foi prenda, que foi peça pregada em sentido contrário a tudo o que ia numa direção só num dia desses em que o tempo nem era assíduo nem era sumido.
Tantas desculpas para sufocar. Tantas mentiras para sobreviver e depois assassinar numas meias palavras... Era o prenúncio para insinuar e depois se esconder nos vãos do muro que se levantou entre o dia de hoje e o dia em que o mar se abriu e mostrou o penhasco onde uma mão me empurrou e me disse gestualmente: aguenta esta que a culpa é tua. Foi ali embaixo que meu joelho me fez sentir mais uma dor, que me fez lembrar que estava vivo, mesmo todo esculhambado de sangue e um texto abandonado ao critério de alguma arrogância.
Houve uma carta que tarde chegou, nem sei se ela partiu com verdade de lá; algum remetente no mundo há de dizer que havia, mas custa lê-la. Algum escritor há de dizer que escrevia, mas nunca li. Algum viajante há de dizer que o destino está elaborado, um roteiro que passa por rincões de sempre, oportunos, repetitivos, mas nunca fui anfitrião. Algum filme pode entrar em cartaz, mas já estarei cego outra vez.

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