4 de dezembro de 2017

Café das pazes

Eu não consigo lembrar que estação do ano era aquela, pois realmente ela não importava. Se estava frio ou se estava calor era o de menos. Sei que fiz aquela viagem e, de repente, eu me encontraria naquele lugar outra vez, cheio de lembranças, medo e alguma coisa mal resolvida. A sensação era esta. Comigo estavam pessoas simpáticas falando de coisas que eu sequer sabia o nome. Enquanto eles falavam, eu observava aquelas casinhas charmosas e as ruas antigas construídas a um tempo que estava distante de tudo que eu imaginava e vivia. Fui. Fui àquela praça e o único rosto conhecido era de um colega que parecia sempre tramar uma armadilha, uma surpresa. "Que tipo de teste era aquele?", foi o que pensei à partida. Mas depois não me preocupei mais com isso, apenas andei. E foi, então, que me convidaram para o café mais fino da cidade. Só consigo me recordar da fachada em madeira escura com detalhes rococó. Do lado de fora, na esplanada, havia umas três ou quatro mesas juntas onde um pequeno grupo de jovens senhores e senhoras, sentados, riam de alguma situação que meu ouvido não conseguiu desvendar. Eu me aproximava daquela mesa e, de longe, já te avistei voltando de dentro do recinto para o lado de fora, e sentando na ponta sul da mesa, como uma cadeira de anfitrião. De costas para mim, eu ainda no movimento de aproximação. Fazia mais de um ano que não nos víamos e eu, preocupado com o movimento daquela cena, tentando imaginar quem dali poderia ser a primeira pessoa da qual eu tinha que me aproximar, puxar um assunto qualquer, talvez a viagem tão longa que eu tinha feito e, de repente, ter ali chegado como quem chegou sem mais nem porque. Cada passo que eu dava, e tu, de costas, sem me ver chegar... era o teu novo corte de cabelo que eu analisava e gostava. Achei moderno e queria que teus fios me dissessem que realmente que o tempo passou e era novo. Uma sensação sobressaltante! Foi quando cheguei, mesmo, à mesa e cumprimentei como uma pessoa estranha cumprimenta e tratei logo de procurar saber em qual lugar da mesa iria sentar: o mais distante possível de ti, era ameaça que meu coração, à medida que batia mais forte, codificava a mensagem, a informalidade e a estranheza do momento. Foi então que vi a oportunidade de sentar ao lado daquela menina, mas foi quando o rapaz disse: "há três cadeiras aqui para vocês sentarem". E ficavam na lateral bem próxima à ponta sul, em que estavas... Sem cerimônia, aproximei-me dali. Sentei. De toda maneira, por sorte, não ficaria inevitável o contato olho a olho, e eu fugiria de qualquer situação constrangedora de ter que olhar acidentalmente em direção ao teu rosto. Sentei-me na cadeira mais distante que encontrei, observando o rosto do rapaz que estava ao teu lado, observando o movimento de vocês dois... Quando te levantaste da ponta sul da mesa, foste para a lateral oposta a mim, onde havia uma cadeira vazia bem à frente da minha e te sentaste como quem resgatava o tempo e a intimidade só em olhar. Chamava meu nome da maneira mais informal para contradizer toda aquela situação. Olhaste nos meus olhos e...
Descobri que sonhar contigo ainda me deixa sem entender o significado deste novo tempo, sem perceber o que de verdade seria um reencontro fortuito e fazendo-me perder meu sono.
Levantei-me da cama para ver que a realidade pode ser diferente e perdi completamente as horas de descanso que ainda me restavam.
Paz para nós!

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