26 de julho de 2020

cálice da indigestão

se há um porquê das circunstâncias
a cada dia, uma instância de exasperar,
vai no todo-meu:
circunstância outra, outra margem,
o fio oculto, a palavra maldita -
outra vez não dita -
o curto-circuito naquela energia,
a noite que se faz dia: e escura
e o desmantelo de andar.
que covardia!

é, por fim, o tamanho do alvo
e o respaldo da referência,
onde brincam nos abrigos de enfermos
respostas tolhidas sob subterfúgio,
esta cera quente enrijecendo mãos.
que não saram até o sol nascer de novo.
derretam-se móveis do cheiro longe
das folhas de chá que secaram na pia!

agora estou na sala
de espera, com exaspero;
gritam antifascistas sei lá onde...
não escuto, há silêncio ou ditadura?
quem dita porquês e dita entre dedos
que não toco, que não me tocam -
formato inválido! -
toco então calcanhar no chão
e meu joelho sinaliza
noventa graus da canela à coxa...
poxa, que agonia!

cantaram esses dias:
chico.
milton.
pediam para afastar o cálice.
eu, órfão de deus
e órfão de crença;
do céu até aqui tudo demora:
subterfúgio, fadiga e doença...
"pai, afasta de mim esse cálice!"
cale-se, pai, mas o silêncio apavora!

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