Não é porque minhas malas estão espalhadas pela sala que eu deva achar que sempre é hora de ir. Há um bom tempo não tenho estado permanentemente num lugar onde eu possa dizer: que bom lugar para ser meu e, oportunamente, julgar nosso, quando eu queira oferecer gentileza! As paredes têm sido companhia mais presente, no entanto minha relação com elas, sempre conturbada, impõe, a mim, o rigor da subserviência, obedecendo à ordem de silêncio. Então, não tenho como compartilhar uma palavra falada, presencial. Meus dedos, mediante o regime escravocrata da dor e, à soberania das divisórias concretas, ficam nervosos, sonhando com a alforria diante de uma página em branco. Então, sendo assim, tenho voz.
Sou escravo branco - dotô Emerson contestaria: "onde você é branco, rapaz?" -, de obrigações nômades e, contradito, libertado ao ir-e-vir obrigatório, à luz de um lassez faire, laissez aller, laissez passer quimérico, aplicado às relações humanas muito além do que se reduz à moeda de troca: minha condição fica mais à deriva do que eu queria.
Para fugir de mais um horizontal expurgamento familiar, nada mais atenuante que o empuxo feminino, fortemente sentido como golpe: baixo de onde advinde. Perto da data limite, pensar, sob pressão de prazo estipulado com tolerância à mercê da boa vontade, é ruído estrondoso na mente que precisa mais-que-silêncio-das-paredes-companheiras. Então, parti.
Este abril despedaçado, então, é outro marco que me arremessa à posteriori, antecipa meu inicio de demarcação de espaço pela grana com destino inerente - minha antessala com malas espalhadas, quando eu bem queira - e minha imersão no Universo Paralelo.
Estou em 'Barão', posso me cuidar. Aqui, os escravos do café já fizeram história. Remeto à memória de muitos que não puderam, como eu, agora, brincar com todas as ironias do destino, escrevendo prosa, satirizando História e, com o humor que a vida me deu, pedindo a Deus um brinde com Pepsi-Cola.
Foto: Distrito de Barão Geraldo, Campinas-SP (fonte: divulgação)
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