23 de abril de 2010

Trágico sem catarse

Sou um brasileiro médio. Estou fadado à esta concepção de reducionismo.
Estar ao meio, não referido ao centro, mas no meio das escalas, impostas pelos índices de vergonha e controle social a encontrar nossa identidade em números escalonados, ligeiros e diretos. Identificando, assim, nossa natureza.
Fui educado em boas escolas, com sacrifício da minha geração anterior, sob o discurso da mobilidade social através dos papéis que se acumula, porque ninguém, em tempos atuais, chegará a reconhecer talentos, se não lhe deram, na vida, os mecenas contemporâneos.
O óbvio do reconhecimento a curto prazo, ao meu ver, vem: ou você nasce muito bonito (ou feio o suficiente para ser achincalhado); ou você tem talento para o futebol ou é artista nato. E não se pode pensar na genética em favor de dons que a nação ovaciona; - se alguém souber, grita, por favor, que é preciso catalogar. Há outro talento que não vale ovacionar - diante das educações cristãs familiar e escolar que recebi -, no entanto não pode passar em branco: é bom lembrar aqueles que circulam nas rodas da fama, mas por trás deles está a esperteza do roubo institucionalizado, porque não dá para circular, pomposo, se você é ladrão médio.
O Brasil tem ídolos que são uma verdadeira tragédia para quem consegue olhar com aval da consciência crítica.
Eu optei por estudar, seguir a herança da honestidade e peleja por um espaço, que só se compra com papéis. Estudar por obrigação tem sido difícil, mas aos poucos vamos identificando afinidades com as leituras e a coisa pode ficar mais prazerosa. Ultimamente tenho lido sobre a tragédia, porque estou projetando uma pesquisa sobre o trágico (mimético) no cinema de um contemporâneo do cinema pernambucano.
Face à preguiça, há um prazer em ver a tragédia nas relações humanas, algo inerente à qualidade de nordestino que vive tão próximo à realidade que vai parar nas telonas e faz sucesso (por vezes, polêmica) entre a crítica, dando ao tal cineasta reconhecimento por sua arte.
O irônico de tudo isso é, que nos estudos que tenho lido, saber o tanto que me identifico é a parte mais cruel e, de certa forma, paradoxal: "O surpreendente progresso científico e técnico que nos torna 'senhores e possuidores da natureza', como queria Descartes, nos dá ao mesmo tempo a sensação de que beiramos a catástrofe a todo instante."

Imagem: Medeia, de Paul Cézanne (capturada em: http://www.paul-cezanne.org)

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