3 de abril de 2010

Um dia

Gosto desse barulho da chuva, gotejando no telhado, numa madrugada fresca. Acontecer numa noite solitária é improvável tanto quanto o verbo. Nada acontece e começar a apreciar este nada, ainda que num tédio imenso chamado solidão. Estou gostando de vê-la da forma mais diferenciada possível, pelo ângulo bom, e ser assim: incontestável, sem queixas demais. Retroceder na lembrança dos casos deste dia: o cotidiano barato, mas não jogado à economia da vivência. Viver é o precioso estado; desmerecido o que economiza vida.
Saber que numa noite, que terminaria cansando, por um fast food sexual, o cabível destino, mudado sem esforço de palavras... aos animais não precisa usar a filosofia; basta uma palavra imposta ou um olhar de desdém sobre situações sem o poder de acrescentar algo além do trivial em qualquer esquina, em qualquer lugar.
E no comecinho da noite, um papo científico, com o humor das nossas afinidades, cogitando um problema para pesquisa que pode até mudar meu caminho profissional. A noção do trágico em tal cineasta, sugere o amigo, um estudo para relevância de quem faz a arte com um olhar peculiar. Vou estudar o nordestino que me tocou com seus filmes, sob meu olhar amador à época, hoje experimental? No futuro, quero o falar como mestre.
Mais à tardinha, um ou dois telefonemas para reparar danos causados pela audição escassa de voz que já é familiar. E na hora do almoço, pouco antes, à mesa, estava eu e meu alimento de dar àgua na boca, só de lembrar.
E porque tenho sede é que bebi aquela água - ai, que trivial -, após acordar do meu sono diurno, porque cheguei de uma noite divertida, mas ainda diante de casos comuns, sem ter por que esperar mais do que só muda o dia, nada mais.
Mais cedo ainda, nos primeiros raios do sol que o povo campineiro via; enquanto uns acordavam, eu ia dormir, numa sexta-feira - feriado nacional
Eu pensei muito sobre o dia de ontem, porque ele se atolou no tédio, na falta do que fazer, na repetição do que comumente chamo de dias longe de casa, pois não sou, mesmo, daqui e nem sei por quanto tempo vou ficar. E os detalhes desta passagem caberiam num diário o qual me recuso a escrever. Eu quero lembranças não-linerares, provocadas por sensações que não me remetam ao tempo cronometrado, calculado; isso arde e pode virar livro banal.
Antes deste, houve outro dia: algumas coisas triviais ainda precisam ser ditas.

"Todo dia, eu só penso em poder parar. Meio-dia, eu só penso em dizer não. Depois, penso na vida pra levar, e me calo com a boca de feijão."

Um comentário:

  1. Olá meu caro Cristiano!!! Adorei e o seu blog, teus posts são ricos de análises e pensamentos viajantes. Já estou lhe seguindo.

    Bjs gaúchos

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