30 de junho de 2010

Hibernação

Quanto mais ao Sul, em direção ao polo, a coisa vai esfriando. Tudo vai congelando: as extremidades, depois um pouco mais ao centro e, no meio do corpo, instala-se a geleira oportunista.
Tempo de hibernar.
Vem aquela sonolência a dominar o corpo; a inércia faz a mão parar de digitar códigos de um bem-querer que, por ora, deixam-se dominar pelo caráter animal à qual somos submetidos desde que optamos por este jogo de oscilação - chamado vida - entre ebulição e condição irreparável em determinado tempo. Não podemos ser diferentes em casos de perda temporária de sensibilidade, como se conhece por letargia. Há um processo metabólico, respondendo aos impulsos do frio, que faz os batimentos do coração diminuírem, e respirar sonhos não é mais incessante.
Recolhemo-nos no mais alto grau da temperatura alcançada, por necessidade de proteção e vigor até o momento em que possamos pôr de novo a cara de fora, a bater, porque é importante reagir ao clima e aí, sim, recomeçarmos com atitudes que partam da vontade, indo além das reações, apenas. Um dia agiremos, claramente, sob o sol vibrante e caloroso.
No entanto, é preciso ainda bombear o sangue, levando necessidade vital a todas as partes do corpo, ainda que com essa geada a qual lança seus cristais de gelo sobre a pele desprotegida.
Nossa relação com a natureza externa é muito mais impressionante do que possamos acreditar. Se o mundo muda, por que não nós?
E quando os lábios ressecados, do extremo frio, cessam suas mais empolgantes articulações, então o pensamento pronuncia, disfônico, sua queixa duvidosa: há algum coração aquecido como abrigo para quem cansou de uma cidade fria?

Imagem: Chema Madoz

3 comentários:

  1. Gosto muito da intensidade das suas palavras... E, sempre que leio um post seu, sinto necessidade de deixar um comentário. Não que isso vá acrescentar muita coisa ao que foi postado. Na verdade, acontece de nem acrescentar nada. Mas é uma maneira de dizer que, aqui do outro lado, tem alguém que, de alguma forma, se identifica bastante com as coisas que você escreve.

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  2. Também gosto da ideia de que somos influenciados pelas mudanças da natureza. E senti uma vontade de te abraçar, sabe? Você, que tantas vezes me serviu de abrigo...

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  3. É dificil buscar algo quente em meio a tanta frieza: da cidade, das pessoas e de seus corações. Mas existe. Procure mais um cadinho. :)

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