16 de dezembro de 2010

Dúvida indevida e dívida duvidosa

Há alguns dias que, antes que o sol nasça, não consigo pregar os olhos. Ansiedade que beira ao silêncio da madrugada: isso parece fazer um bem. O ruído da rua pela manhã, associado à turbulência interna das minha aptidões feirantes, seria explosão de decibéis de me tornar um surdo pelo resto da vida. Portanto, venho equilibrando sons, pois eles incomodam meu intuito canônico de me sentir são por duas horas, que sejam.
Preciso do relógio próximo para saber que horas ele vai ligar, que horas eu ligarei para ela e contarei que está tudo bem, que é hora do paliativo de vida, que minutos antes eu poderia ter feito tudo diferente...

Eu tenho que me preocupar ultimamente até com meu pessimismo denunciado por um amigo a mais de 90km de distância. Tento não me preocupar com a distância de minha mãe. Preocupo-me com a aproximação da virada de ano e com o balanço obsessivo das datas que marcam porra nenhuma.
Então, vem-me o fim da picada, o começo do fim e o fim das contas. O Bradesco me liga de três em três dias, cobrando-me uma dívida (e quem me deve mais?). Eu me cobro sempre um pouco menos, mas preciso me cobrar mais do que três em três dias da minha dívida comigo mesmo, do tempo passar e eu assumir cabelos brancos precocemente.
Um passo à frente não seria apenas um a mais, posto que há sinal de cujas coisas estão andando como devem ser encaminhadas, mesmo que apareçam diversos caminhos entre o destino dos confins ou a viela proposital que sempre dá ma parede dessa
via crucis.
Parece sempre que estou em prova e que luto para que o gabarito se assemelhe, percentualmente significativo, aos pontos corretos da verdade. Parece mesmo que estou num concurso ingênuo onde a vaga disputada é para vida. Vida? A vida vem se tornando um transtorno onde a próxima saída fica a léguas daqui. Quando foi que aprendi a medir léguas? Já nem reparo na distância porque não quero acumular mais uma.
Caso eu pudesse acelerar, voltar ou parar o tempo, minha opção seria, ainda assim, nula. Onde eu quero chegar, não pode ser acelerado. Voltar não seria o caso de rever insinuações de sábados peniciosos, semanas violentas e domingos apaixonados pela cegueira, hoje já curada. Parar o tempo me restaria para ajustar? Não preciso nem dizer que da forma que venho andando, percebi que o ponteiro do relógio me empurra como quem diz que tempo perdido é atrasado sinalizado.
Agora sei que é compreensível que eu note e relate o caminho entre a dúvida e a dívida, com esse ar pateticamente depressivo, porque se eu vivesse gritando a felicidade, certamente seria alvo de inveja. Ninguém vai arrematar um homem individado, tampouco, como dúvida se opõe à certeza de um bom negócio, sobra prazo para apertar os parafusos soltos da cabeça.
Assim, exploro a hipoteca desses dias porque a maneira de me sentir vivo e animado na hora de despertar é essa consciência de que todo dia tem um leão para matar e um capricorniano para lapidar aos moldes do meu anti-esoterismo.


Imagem reporduzida: La Noyée, de Stanley William Hayter

Um comentário:

  1. Cuidado! os vampiros conseguem sugar todo mundo, até os menos "óbvios". Os pessimistas e auto-martires possuem a falta de ego como alvo perfeito de gente ruim tambem...

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