Acusaram-me, num e-mail, de metade de mim ser amor e a outra metade também. Ledo engano! Eu tenho muitas partes deste todo e por ele tenho cultivado sentimentos diversos para ser o mais completo possível e ter a parte que a cada um cabe. Não são muitas faces, mas expressão do sentimento que convém. Ah, mas a verdade é que tem muito amor em mim para premiar, para doar, mas outras vertentes, em caso de vingar-se ou para estar simplesmente desligado, indiferente, quando puder.
Se tem uma palavra com a qual me identifico bastante é Amor. Mas não sou todo dele e nem ele meu. É questão apenas de predileção e tentar nortear o caminho pelos exemplos positivo que atitudes bem sucedidas resultaram da força deste verbete, quando em sua versão mais poderosa: pulsante e vivo. No entanto, o que me acaba é a prévia amorosa, que atende pelo nome de paixão. Ah, quantas eu tenho! Perdi a conta! Acho que me apaixonaria todo dia caso fosse sempre abandonado no fim da noite. Acordaria procurando a paixão até no armário que guarda minha escova de dentes. Acho que até antes disso, sob o lençol que me cobre ao dormir. E toda vez que estou apaixonado chego a ser irritante. É o pensamento constante, a vontade de dizer bom dia bem antes das 4h da manhã, porque pareço perder o tempo e todo tempo é muito pouco para se dizer tudo que penso. Então me torno o poeta irritante, o que dissemina o sorriso e a tensão a todo instante. Os amigos já não aguentam frase de praxe, recursos inalterados, sempre; mudando apenas o vocativo, pelo qual, um nome, chamo.
Irrito mais ainda a quem chamo pelo nome. Arrependo-me de ser propositadamente irritante e continuo a sê-lo na sequência após o intervalo silencioso em que nos calamos porque... haja paciência! Enfim, torno-me um ridículo, com a sensação de que sou menos, a cada ano que passa, romântico do que antes. Mas me sinto ridículo ainda, com sensação de quem, a qualquer momento, será mandado para o mais sujo dos lugares do organismo. Até que percebo que isso não acontecerá se a sintonia for a mesma, mas quando não, acuso-me: ridículo, irritante, repetitivo e sem vergonha nenhuma na cara que só se apaixona.
O tempo que der, a paixão queima e, na hora em que a chama apaga, saio à procura de novo fogo aquecedor, como quem não tem aprendido nada sobre orgulho bobo, sobre arranhões na alma. Quero mais uma vez me estrepar todo, nessa oscilação vadia que me faz elevar minhas feridas ao alto posto da importância (somente a mim mesmo, ainda que seja) e ter certeza de que se eu não fosse apaixonado assim, eu não seria o mesmo que tanta gente já se apaixonou.
Imagem: www.unoriginal.co.uk
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