Ontem, domingo, fui à casa do meu tio para celebrar, junto aos meus familiares, seus sessenta e poucos anos. Ele, solteirão, frustrado na vida (qualidade de ser humano que me persegue também), mora sozinho, na casa da minha avó, que nos deixou em vida em 2011. Entre risos e aquela comilança toda de irmãos, primos, tias, filhos, ficamos revendo as fotos de arquivo. E entre elas, tinha uma da minha avó, quando jovem, posando em frente a um muro de uma casa. Foto comum de quem, como ela, vaidosa, adorava imagens. No verso da foto em preto e branco, havia um escrito quase apagado, de caneta vermelha, que ela fez em já idosa. No que consegui ler, ela relatava quanto era interessante ser jovem e bonita, uma época bem mais prazerosa do que a velhice, que era triste.
Por causa daquele adjetivo que ela deu à vida, parei para pensar na velhice.
Eu, hoje, a dois dias de fazer trinta e dois anos, decidi escrever o último texto do ano, e quiçá o último deste blog. Assunto: velhice.
Longe de estar velho, mas já tendo passado pela juventude chego à mesma conclusão que minha avó. É chato mesmo envelhecer. No entanto, inevitável, ainda que alguns nem consigam chegar a isso, a carga de experiência de vida e reverência à cronologia, com orgulho para tantos, é o peso implacável a suportar-se seja com qualquer expressão momentânea que uma fotografia possa registrar e remeter.
Não sei nem se envelhecerei, mas já passei dos melhores anos da vida. Quando decidi ser jornalista. estudei e me graduei para isso e, finalmente, frustrei-me com a profissão, que pouco exerci e não faço ideia se volta a tê-la, nem em sonho.
Agora que passei de algumas etapas escolares que minha falecida avó sequer chegou, reflito suas palavras no verso de uma fotografia sobre sua juventude. O amadurecimento chegou com a idade e o respectivo tempo, mas me esfriou de uma forma a desacreditar em sonhos. Cheguei ao tempo de acreditar na realidade que, para muitos, é cruel e, para outros, é despercebida, apenas.
Sinto que o emaranhado vocabulário que só se ganha com o tempo, hoje, eu perdi no jogo de arrumá-lo, de torná-lo mais legível, de dar gosto em dizê-lo. E como o texto, antes-sonho, sempre foi meu objetivo profissional, digeri-lo se fez amargo e no finalzinho o dissabor de recorrer a trabalhar só para sobreviver. Como recompensa, além do enobrecimento já crivado na poesia, corporativamente o retorno financeiro, como para alguém como eu, deixar de reclamar na prosa e gastar todos os vinténs na distração medíocre que uma agência de viagem pode proporcionar. Usar o tempo das férias, como exemplo, para esquecer o cotidiano da labuta, mergulhando em uma praia que ainda não se conheça ou cruzando o oceano para requisitar felicidade momentânea em alguma cenário urbano que aquela mesma agência de viagem - seguindo a lógica do mercado - ofertou como pacote perfeito para dias de repouso e... solidão. Sim, solidão porque as cidades estão cada vez maiores, caras e poluídas. Sim, porque as pessoas interagem para fazer o mundo acender suas luzes, gastar sua energia, produzir matéria e a maior parte, quando sim, espreitar-se nos menores cômodos de um apartamento.
O tempo me cansou... mas já? É que meu pessimismo espirituoso, ainda bem, faz-me ver o relógio e dar conta da tarefa que tenho que cumprir, o prazo que foi estabelecido, a fim de terminar tudo bem ou bem aos olhos de outrem.
De todos os lados tem alguém me cobrando e do lado de dentro tem a minha cobrança maior, essa corrosiva, legado cronológico.
Envelheci, ó, a ponto de, na consciência, pesar que escrever por prazer é só mais um desabafo, ruína do eu exposto ou somente uma perda de tempo.
Os velhos são os mais lindos, enfim. Mas só os jovens gostam de si nas fotos... Eu gostava de mim antes, novo e disposto a escrever.
Até que gostava de ler o que eu mesmo escrevia.
Acho que chegou a vez de escutar...
Imagem: Jorge
23 de dezembro de 2013
14 de outubro de 2013
Estado do ser
Voltar a casa que não é mais lar
Lá onde quis
Onde lá se foi a casa,
O caso mais concreto
Do projeto de lar.
Voltar depois de idas e vindas
Ali onde eu quis estar,
Onde eu quero estar,
Onde o meu estado de espírito
Não soube responder se mais feliz
Ou mais quis do que tive.
Estado além de particípio
É unidade autônoma.
E em tudo o que estive empenhado
Não resultou autonomia,
Mas volto, assim, subdividido
Entre estar e ser dali.
22 de agosto de 2013
DOS MODISMOS GLACIAIS DO FACEBOOK. (Ou, sob vinte graus abaixo de zero: obrigado(a) por lembrar de mim!)
Por meio de uma redação oficial (há muitas modalidades de texto a se determinarem), algumas personalidades públicas, pessoas jurídicas (indústrias, empresas - sejam de quais ramos forem essas: hospitais, bancos, siderúrgicas, hotéis, etc.), usam palavras para divulgação de seus empreendimentos, lançar alguns novos produto ou serviço ou até gerenciar crise devido a algum ato que comprometa a imagem daquela pessoa e/ou marca; elas se utilizam das diversas modalidades de texto para sua finalidade.
Na Faculdade de Comunicação, aprendemos mecanismos, tipos de texto para cada situação, adequando a linguagem à plataforma e ao público a que queremos nos dirigir.
Após o texto pronto, há utilização dos meios de comunicação de massa desejados para se alcançar o objetivo, e, manter esses meios, implica geralmente organizações amplas, complexas, envolvendo uma grande quantidade de profissionais, a fim de concluir seu produto/serviço que sempre será o texto falado ou escrito, sem esquecer-se também da comunicação feita por imagens.
Para tanto, uma empresa jornalística envolve o trabalho de redatores, fotógrafos, jornalistas, operadores de câmeras, diagramadores, ilustradores, gráficos, entre outros. E por ter grandes custos, que envolve desde pessoal especializado na atividade até material para sua produção, uma empresa de comunicação depende dos imperativos de consumo, por assim desejar garantir a máxima circulação; angariar o maior número de audiência e, quase em regra, aliar-se à venda de publicidade, no caso dos tracionais veículos comunicação. Ademais, há custo também com o aparato tecnológico para o registro de sua atividade e a multiplicação das mensagens impressas, gravadas ou difusas ao vivo.
Em todo o processo de produção e manutenção de uma empresa de comunicação, a tecnologia se tornou aliada da comunicação humana, além de participar da rotina da humanidade ao longo de seu desenvolvimento. Atualmente, fala-se numa era de convergência digital – uma integração de vários formatos de mídias oferecidos num só ambiente (canal) -; assim avalio o comportamento que está se tornando muito comum no Facebook ou outras redes sociais, que possibilitam a integração das mídias.
Poderíamos administrar a comunicação humana (uma comunicação em menor escala, entre uma pessoa e outra, sob a prevalência de laços mais fraternos entre nós, amigos) e não usar as redes sociais - salvo exceções de necessidade específica - como comunicação de massa, onde uma grande quantidade de receptores recebe ao mesmo tempo a mensagem que parte de um único emissor.
Acredito, assim, que após a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a inconstitucionalidade de haver exigência de diploma de Jornalismo para prática de atividades jornalísticas, parece que, no Brasil, nasceu o ímpeto comunicólogo em cada indivíduo. Essa minha análise veio após certa observação no comportamento da maioria no Facebook: quão seus textos estão parecendo – já quase unanimidade – com esses sistemas de comunicação num único sentido.
Observando o comportamento geral, percebo que já virou mania, ademais dos cumprimentos matinais ou noturnos e muitas vezes felicitações que seria a uma pessoa, apenas (ao ensejo, já se incluem os demais para tal fim), estão se tornando comuns nesta rede social a divulgação em grande escala de mensagens. Desejar feliz aniversário, por exemplo, a uma pessoa, dedicando-lhe alguns segundos ou minutos de seu tempo e aproveitando a comodidade e economia desta plataforma, perdeu a paridade de condições entre emissor e receptor, associada à possibilidade de ouvir (ler) o outro e ser ouvido (lido), com a informalidade mútua de entendimento.
Ao desdobrar esse hábito, a cada dia mais comum, concluo com uma avaliação negativa e lanço desaconselhamento sobre o agradecimento em massa aos votos que você recebe exclusivamente em sua rede social. Ainda que se critique com base em etiquetas virtuais nas relações pessoais, essa nova mania de texto de agradecimento A TODOS, como se fosse uma nota técnica, pelos votos positivos, desejos fraternos, etc, causa uma estranha frieza e homogeniza a linguagem, ao passo em que desmerece a atenção personalizada daquela amiga, daquele ente, daquele colega de trabalho ou daquela querida companheira de turma do Ensino Médio que há anos não se vê...
Portanto, que não nos deixemos embarcar sob o viés de distanciamento com requintes da política diplomática, na forma de texto “educadinho”. Ele soa falso, breve e econômico demais para quem lhe tem apreço.
13 de agosto de 2013
Ir e vir
Voltei.
Não como um pássaro
Nem como uma borboleta.
Voltei como homem.
Ando com minhas pernas,
Junto com minha ética.
A vida é mais que uma metáfora.
Ela é dura como mais nada
Que um eufemismo pode aliviar.
Não como um pássaro
Nem como uma borboleta.
Voltei como homem.
Ando com minhas pernas,
Junto com minha ética.
A vida é mais que uma metáfora.
Ela é dura como mais nada
Que um eufemismo pode aliviar.
20 de junho de 2013
Protesto em Campinas
Pouco antes do sol se pôr, neste 20 de junho de 2013, as ruas centrais de Campinas estavam tomadas por uma multidão que segue reivindicando seus direitos. Jovens, crianças, idosos, gays, mulheres, negros, trabalhadores, desempregados, estudantes, todos a fim de protestar contra a banalização que viraram as decisões políticas no país. Pessoas fantasias, vestindo verde e amarelo, branco, azul, portando bandeiras e faixas em tom de manifestação contra tarifas de transporte público, corrupção, investimentos direcionados a eventos em detrimento da educação e saúde, tão deficientes no Brasil. O povo campineiro e quem se radicou na cidade, formava um coro que cantava palavras de revolta e consciência da necessidade de mudança.
A passeata seguiu pelas principais avenidas do Centro da cidade, até a Avenida Anchieta, onde fica o Palácio dos Jequitibás, sede da Prefeitura de Campinas. Ali, uma barreira policial intimidava os ânimos mais acalentados, revoltosos, com todo equipamento bélico para conter a multidão. Ainda assim, nós seguíamos até à porta do paço municipal para gritar nossos lemas de ordem e mudança. Entre os milhares que sacudiam vozes e corpos contra um sistema que privilegia alguns, deixando a mercê a maioria da população, havia um pequeno grupo, formado por umas dezenas de adolescentes e adultos que distavam dos propósitos desse movimento em favor da democracia e respeito aos nossos direitos.
O pequeno grupo, em discrepância com a ideia central do nosso protesto, começou a depredar as paradas de ônibus, quebrando seus vidros, depois jogavam pedras, pau, garrafas de bebida nas vidraças da Prefeitura, causando um grande quebra-quebra.
Em contrapartida ao vandalismo, as vozes que protestavam, também pedia para que esse pequeno grupo não depredasse o patrimônio público, que também é nosso. Entre todos, havia uma resistência dos menores em ouvir, e continuavam a quebrar tudo o que podiam à frente.
Para conter o frisson de vândalos, a Polícia Militar, que estava aparentemente com um déficit de pessoal, um contingente muito pequeno para conter a grande massa, começou a lançar suas bombas de efeito moral, assim o gás lacrimogênio se espalhou pelo ar naquelas ruas entorno à Prefeitura e todo mundo sofria com seus efeitos. O cheiro insuportável descia à garganta, as vias respiratórias, fazia-nos chorar. Eram lágrimas junto ao ódio à repressão que nós sofríamos por responsabilidade do pequeno grupo, cuja luta era inconsciente e mais parecia estar em plena festa do horror.
Pessoas corriam, caíam, machucavam-se, enquanto o tumulto no meio do que se tornou na verdadeira praça de guerra, comprometendo a mobilização da maioria. Nós não desistíamos, e voltávamos a gritar os nossos direitos, a reclamar as nossas angústias por sermos tão explorados e enganados pelos que nos representam nos poderes que demos a eles um dia.
Mais uma vez, entre nós, a maioria pacífica que apenas se revolta contra a banalização política em que se encontra nosso país, também existiam os vândalos persistentes nas depredações. A repressão continuava e todos sofriam os impactos do gás lacrimogênio e spray de pimenta.
Enquanto eu estive no meio da multidão, presenciei aproximadamente uns dez momentos de tumulto pela ação policial mais severa. Às vezes, até distante 500m a 1km dali, ainda sentia o cheiro forte do gás, como também escutava o estouro das bombas que a PM jogava no meio do povo. Uma cena terrível, uma trincheira que ora revoltava grande parte de nós pela repressão milica, ora pelo descomprometimento dos maloqueiros que prejudicavam a visibilidade da nossa luta.
Já era quase 21h quando presenciei um grupo de saqueadores arrombando um supermercado na Av. Anchieta. Vi que alguns homens e mulheres carregavam salgados, refrigerantes e cerveja. Faziam a festa, como se a luta desses fosse por uma comida gratuita, pela subversão de invadir uma propriedade privada que em tempos normais é tão vigiadas por homens e câmeras. Assim, entendi que a luta deles é por muito pouco, é inconsciente, sem motivação política, sem desejo coletivo de mudança. Lutam, pra não dizer que vandalizam, por conta de bebidas e comidas, que não podem comprar. Entendi, também, que são infiltrados, pela falta de formação política, vítimas de um sistema que os marginalizam há décadas, portanto compreende que a situação vem a favorecer uma ação criminosa pelas leis que nos regem. Aproveitam o foco do poder que nos controla em cima de conter nossos ânimos por uma mudança histórica e, assim, saqueiam estabelecimentos comerciais, igualando-se a tantos outros ladrões que estão ornados de representantes do povo.
Infelizmente, tive de abandonar o protesto porque não quis correr tanto da PM, respirar seus gases repressores porque o vandalismo pequeno, mas destruidor, incumbe o movimento pacífico de pagar por esses atos contrários ao nosso bem maior. Acredito que esses poucos homens e mulheres sempre estarão entre nós, prejudicando mobilização, mas devo confessar que uma das sensações mais bonitas e saber que estamos reconhecendo equívocos e temos urgência em mudar a conjuntura social.
A passeata seguiu pelas principais avenidas do Centro da cidade, até a Avenida Anchieta, onde fica o Palácio dos Jequitibás, sede da Prefeitura de Campinas. Ali, uma barreira policial intimidava os ânimos mais acalentados, revoltosos, com todo equipamento bélico para conter a multidão. Ainda assim, nós seguíamos até à porta do paço municipal para gritar nossos lemas de ordem e mudança. Entre os milhares que sacudiam vozes e corpos contra um sistema que privilegia alguns, deixando a mercê a maioria da população, havia um pequeno grupo, formado por umas dezenas de adolescentes e adultos que distavam dos propósitos desse movimento em favor da democracia e respeito aos nossos direitos.
O pequeno grupo, em discrepância com a ideia central do nosso protesto, começou a depredar as paradas de ônibus, quebrando seus vidros, depois jogavam pedras, pau, garrafas de bebida nas vidraças da Prefeitura, causando um grande quebra-quebra.
Em contrapartida ao vandalismo, as vozes que protestavam, também pedia para que esse pequeno grupo não depredasse o patrimônio público, que também é nosso. Entre todos, havia uma resistência dos menores em ouvir, e continuavam a quebrar tudo o que podiam à frente.
Para conter o frisson de vândalos, a Polícia Militar, que estava aparentemente com um déficit de pessoal, um contingente muito pequeno para conter a grande massa, começou a lançar suas bombas de efeito moral, assim o gás lacrimogênio se espalhou pelo ar naquelas ruas entorno à Prefeitura e todo mundo sofria com seus efeitos. O cheiro insuportável descia à garganta, as vias respiratórias, fazia-nos chorar. Eram lágrimas junto ao ódio à repressão que nós sofríamos por responsabilidade do pequeno grupo, cuja luta era inconsciente e mais parecia estar em plena festa do horror.
Pessoas corriam, caíam, machucavam-se, enquanto o tumulto no meio do que se tornou na verdadeira praça de guerra, comprometendo a mobilização da maioria. Nós não desistíamos, e voltávamos a gritar os nossos direitos, a reclamar as nossas angústias por sermos tão explorados e enganados pelos que nos representam nos poderes que demos a eles um dia.
Mais uma vez, entre nós, a maioria pacífica que apenas se revolta contra a banalização política em que se encontra nosso país, também existiam os vândalos persistentes nas depredações. A repressão continuava e todos sofriam os impactos do gás lacrimogênio e spray de pimenta.
Enquanto eu estive no meio da multidão, presenciei aproximadamente uns dez momentos de tumulto pela ação policial mais severa. Às vezes, até distante 500m a 1km dali, ainda sentia o cheiro forte do gás, como também escutava o estouro das bombas que a PM jogava no meio do povo. Uma cena terrível, uma trincheira que ora revoltava grande parte de nós pela repressão milica, ora pelo descomprometimento dos maloqueiros que prejudicavam a visibilidade da nossa luta.
Já era quase 21h quando presenciei um grupo de saqueadores arrombando um supermercado na Av. Anchieta. Vi que alguns homens e mulheres carregavam salgados, refrigerantes e cerveja. Faziam a festa, como se a luta desses fosse por uma comida gratuita, pela subversão de invadir uma propriedade privada que em tempos normais é tão vigiadas por homens e câmeras. Assim, entendi que a luta deles é por muito pouco, é inconsciente, sem motivação política, sem desejo coletivo de mudança. Lutam, pra não dizer que vandalizam, por conta de bebidas e comidas, que não podem comprar. Entendi, também, que são infiltrados, pela falta de formação política, vítimas de um sistema que os marginalizam há décadas, portanto compreende que a situação vem a favorecer uma ação criminosa pelas leis que nos regem. Aproveitam o foco do poder que nos controla em cima de conter nossos ânimos por uma mudança histórica e, assim, saqueiam estabelecimentos comerciais, igualando-se a tantos outros ladrões que estão ornados de representantes do povo.
Infelizmente, tive de abandonar o protesto porque não quis correr tanto da PM, respirar seus gases repressores porque o vandalismo pequeno, mas destruidor, incumbe o movimento pacífico de pagar por esses atos contrários ao nosso bem maior. Acredito que esses poucos homens e mulheres sempre estarão entre nós, prejudicando mobilização, mas devo confessar que uma das sensações mais bonitas e saber que estamos reconhecendo equívocos e temos urgência em mudar a conjuntura social.
Atraso
Talvez esteja faltando repertório para prosseguir com um sonho que tive desde criança. Sonhei um dia em escrever exaustivamente e que isso trouxesse um ganha-pão para eu não precisar de pensão. Sinto-me desatualizado com o mundo. Esse em trânsito frenético e eu em desistência de acompanhá-lo. Um amigo agora há pouco me falou que é como cozinhar feijão, uma prática diária, escrever sem tempero não dá. Eu estou insistentemente em um dissabor, esqueço do sal e destempero minha culinária, ela é ruim. Não cozinho só pra mim, já tive vontade de alimentar o mundo.
Desprendi-me das ocasiões oportunas: podia ela ser um curso de gastronomia ou uma realização técnica em construção civil. Não edifico nem a calçada que piso. Fico sem chão a maior parte das vezes. Olho pra trás e percebo que eu deixei de mim todo aquele gosto de café da manhã pra começar o dia. Procuro açúcar em vão, confiando na minha doçura. E me sobra o amargo da tarde e a noite sem cheiro de sono. Passo os dias assim, desqualificando qualquer período.
Comecei a tomar consciência do meu atraso quando não sabia mais o que dizer quando alguém me perguntava sobre algo que no passado eu defendia com vigor. Tornei-me o acaso de todas as coisas, por acaso, porque olho pra os lados e só espero que esses não se tornem mais uma prisão para mim. Estou em dívida comigo faz meses. Não sei o saldo negativo dessa porra toda, portanto é fácil xingar de tudo quanto é baixo calão, meus verbetes de quem resmunga.
Assim, decidi retornar para onde vim. Porque quem sabe ali comece tudo de novo e reconheça o repertório de quem está aprendendo a falar, andar, sorrir... Um bebê chorão que verbaliza em sons abertos, os gritos, a exprimir a dor, a vontade de comer ou a necessidade de chamar atenção.
Já é a hora de partir pro começo; quando se diz recomeçar, minhas mãos tremem de medo. Minhas pernas acompanham, bambas, o temor de ver tudo outra vez para reaprender a se reconhecer entre o mesmo sotaque, sob o mesmo calor, os costumes familiares e a exatidão repetida de aprendiz que insiste a falar seus primeiros monossílabos. Ah, presumo que gente parecida dá mesmo medo do que gigante numa terra de pé de feijão, esse que já não sei mais cozinhar. Não é à toa que a todo instante me pego olhando o relógio pra saber que horas são. Almoçar tem sido a melhor parte do meu dia.
Desprendi-me das ocasiões oportunas: podia ela ser um curso de gastronomia ou uma realização técnica em construção civil. Não edifico nem a calçada que piso. Fico sem chão a maior parte das vezes. Olho pra trás e percebo que eu deixei de mim todo aquele gosto de café da manhã pra começar o dia. Procuro açúcar em vão, confiando na minha doçura. E me sobra o amargo da tarde e a noite sem cheiro de sono. Passo os dias assim, desqualificando qualquer período.
Comecei a tomar consciência do meu atraso quando não sabia mais o que dizer quando alguém me perguntava sobre algo que no passado eu defendia com vigor. Tornei-me o acaso de todas as coisas, por acaso, porque olho pra os lados e só espero que esses não se tornem mais uma prisão para mim. Estou em dívida comigo faz meses. Não sei o saldo negativo dessa porra toda, portanto é fácil xingar de tudo quanto é baixo calão, meus verbetes de quem resmunga.
Assim, decidi retornar para onde vim. Porque quem sabe ali comece tudo de novo e reconheça o repertório de quem está aprendendo a falar, andar, sorrir... Um bebê chorão que verbaliza em sons abertos, os gritos, a exprimir a dor, a vontade de comer ou a necessidade de chamar atenção.
Já é a hora de partir pro começo; quando se diz recomeçar, minhas mãos tremem de medo. Minhas pernas acompanham, bambas, o temor de ver tudo outra vez para reaprender a se reconhecer entre o mesmo sotaque, sob o mesmo calor, os costumes familiares e a exatidão repetida de aprendiz que insiste a falar seus primeiros monossílabos. Ah, presumo que gente parecida dá mesmo medo do que gigante numa terra de pé de feijão, esse que já não sei mais cozinhar. Não é à toa que a todo instante me pego olhando o relógio pra saber que horas são. Almoçar tem sido a melhor parte do meu dia.
14 de junho de 2013
Manipulação midiática no trato de notícias sobre protestos em São Paulo
Até que ponto chega a manipulação do debate, a exemplo da Globo News, no programa Entre Aspas, que está rolou nesta quinta-feira à noite.
Repare, não desmerecendo instituições como o IBMEC/RJ e a Puc-SP, mas levar dois representantes de instituições privadas, de característica predominantemente elitizada, regidas sob o aval da igreja católica, para analisarem os protestos em São Paulo, é uma falta discrepante de diversificar opiniões.
Obviamente, com essas três vozes, a criminalização da manifestação é a via unilateral.
Primeiro, erram no que diz respeito a comparações entre gerações antes e pós-governo democrático. Seguido a isso, sinalizam de forma equivocada que antigamente não havia tanta violência e conseguiam mobilizar maior número de pessoas. Mas, de que violência eles falam? Claro, da parte da minoria fomentada: os manifestantes. Desde quando o período da ditadura militar teve menos danos à sociedade do que os protestos deste mês? E as torturas por parte dos militares? E ações dos grupos anti-golpe militar, como sequestros de embaixador, envolvendo grandes nomes da política nacional? E as invasões a casas e repressão até de livros marxistas sob pena de tortura e prisão?
Voltando aos convidados ao debate, representante da classe média alta, interessada no status quo, com seus lemas em direção à moral cristã e defesa da economia com menos intervenção do Estado...
Estão malhando as pessoas, dizendo que elas não representam os trabalhadores, que são estudantes de classe média. Mas qual o trabalhador tem tempo pra sair às ruas e protestarem, sob o risco de perderem seu emprego que mal dá pra pagar uma tarifa absurda, acima do índice da inflação?
Francamente, entendo toda a manifestação contrária ao repúdio ao aumento de tarifa por parte de alguns espectadores dessa violência urbana: são pessoas que prezam apenas pelo sossego da maior e mais rica cidade do País, sustentada por todos os brasileiros, não só o povo paulistano, porque querem se manter nesse patamar de "a" metrópole brasileira, de tão acostumados com a separação de classes, esse vício que privilegia apenas alguns, segundo o poder de consumo inconsciente.
Quebrou-se, sim, muito de São Paulo, essa cidade importantíssima, mas a capital paulista há muito tempo quebrou o sonho de tanta gente e concentrou olhares; o poder público em sua parceria com o privado, como sempre, não respeita todos os cidadãos brasileiros que ajudam a São Paulo ser a cidade que é.
O dano maior é ficar como estava: sociedade apática, apenas confiando no poder do voto e sendo a todo instante explorada pelos caciques do dinheiro.
Repare, não desmerecendo instituições como o IBMEC/RJ e a Puc-SP, mas levar dois representantes de instituições privadas, de característica predominantemente elitizada, regidas sob o aval da igreja católica, para analisarem os protestos em São Paulo, é uma falta discrepante de diversificar opiniões.
Obviamente, com essas três vozes, a criminalização da manifestação é a via unilateral.
Primeiro, erram no que diz respeito a comparações entre gerações antes e pós-governo democrático. Seguido a isso, sinalizam de forma equivocada que antigamente não havia tanta violência e conseguiam mobilizar maior número de pessoas. Mas, de que violência eles falam? Claro, da parte da minoria fomentada: os manifestantes. Desde quando o período da ditadura militar teve menos danos à sociedade do que os protestos deste mês? E as torturas por parte dos militares? E ações dos grupos anti-golpe militar, como sequestros de embaixador, envolvendo grandes nomes da política nacional? E as invasões a casas e repressão até de livros marxistas sob pena de tortura e prisão?
Voltando aos convidados ao debate, representante da classe média alta, interessada no status quo, com seus lemas em direção à moral cristã e defesa da economia com menos intervenção do Estado...
Estão malhando as pessoas, dizendo que elas não representam os trabalhadores, que são estudantes de classe média. Mas qual o trabalhador tem tempo pra sair às ruas e protestarem, sob o risco de perderem seu emprego que mal dá pra pagar uma tarifa absurda, acima do índice da inflação?
Francamente, entendo toda a manifestação contrária ao repúdio ao aumento de tarifa por parte de alguns espectadores dessa violência urbana: são pessoas que prezam apenas pelo sossego da maior e mais rica cidade do País, sustentada por todos os brasileiros, não só o povo paulistano, porque querem se manter nesse patamar de "a" metrópole brasileira, de tão acostumados com a separação de classes, esse vício que privilegia apenas alguns, segundo o poder de consumo inconsciente.
Quebrou-se, sim, muito de São Paulo, essa cidade importantíssima, mas a capital paulista há muito tempo quebrou o sonho de tanta gente e concentrou olhares; o poder público em sua parceria com o privado, como sempre, não respeita todos os cidadãos brasileiros que ajudam a São Paulo ser a cidade que é.
O dano maior é ficar como estava: sociedade apática, apenas confiando no poder do voto e sendo a todo instante explorada pelos caciques do dinheiro.
6 de junho de 2013
Catástrofe
Um câncer em cada esquina.
O mundo é uma trincheira de quarteirões,
Cada um com sua gangue.
Hostilidade em nome da superioridade
Do seu Deus, seus guardiões .
Que Deus destrua Campinas,
São Paulo, Quixeramobim, Tel Aviv,
Sodoma, Nova Iorque e Gomorra;
Que o terreno de todos se afogue
Em um dilúvio de porra!
O mundo é uma trincheira de quarteirões,
Cada um com sua gangue.
Hostilidade em nome da superioridade
Do seu Deus, seus guardiões .
Que Deus destrua Campinas,
São Paulo, Quixeramobim, Tel Aviv,
Sodoma, Nova Iorque e Gomorra;
Que o terreno de todos se afogue
Em um dilúvio de porra!
16 de maio de 2013
O Abismo Prateado
Entre os fragmentos de sua dor, uma mulher se encontra abandonada pelo marido. Como pedaços espalhados, esses fragmentos emergem num cenário urbano de sons perturbadores e trânsito em contramão. Há lugar de passagem, um luto e um destinar-se a algum lugar, iniciando no resgate, sua busca. A perda é evidente, muito mais nas sensações do que em suas palavras, que estão presas e/ou engolidas pelas sofreguidão e hostilidade urbana.
Violeta, personagem de Alessandra Negrini, no mais recente longa-metragem de Karim Aïnouz, desloca-se num plano exprimido, num close-up nas suas feridas, no que sangra, e rodeada de turvo angustiante sem avais de liberdade, a priori. Existem, ainda, a permanente agonia, pergunta sem resposta, a ligação literal e metaforicamente não correspondida e a dissidência para emergir a vicissitude necessária até alcançar o plano geral.
Baseado na canção Olhos nos Olhos, o roteiro do filme segue as estrofes da poesia de Chico Buarque, em que as sensações daquela mulher cujo marido a deixou, quase enlouquecida, exprime a linearidade do desconforto até o momento de refazer-se.
Violeta, presa no mundo que parecia construir a dois e, em face ao abandono, sozinha - mas numa tentativa de recuperação do enlace - estabelece diálogo maniqueísta em que o bem e o mal travam disputa pós-abandono.
A protagonista mergulha nos arredores do caótico, aqueles espaços verdes (de cores da necessidade de um alívio) em contrapartida dos ruídos de equipamento odontológico ou de uma construção civil, fugindo da sua ansiedade; e o mal, que reside dentro do que está partido, entra numa regurgitação provocadora de choros intercalados, breves e, uma vez mais, engolidos, como refluxo que vem à tona e depois desce corroendo e expondo o olhar insuportável de quem sofre.
A protagonista mergulha nos arredores do caótico, aqueles espaços verdes (de cores da necessidade de um alívio) em contrapartida dos ruídos de equipamento odontológico ou de uma construção civil, fugindo da sua ansiedade; e o mal, que reside dentro do que está partido, entra numa regurgitação provocadora de choros intercalados, breves e, uma vez mais, engolidos, como refluxo que vem à tona e depois desce corroendo e expondo o olhar insuportável de quem sofre.
Aos poucos, Violeta, uma transeunte de destino incerto, traça uma linha reta de sentidos que se opõem: do desespero à tranquilidade. Assim, ela toma iniciativa de controlar, através da respiração funda e na contagem crescente e cardinal, seu rumo e recompor-se nesse caminho aparentemente vazio, onde o ludíbrio ainda a remete, algumas vezes, ao pânico.
Quando, então, as experiências fugidias da dentista poem-na nos recantos transitórios como hotel, boate, aeroporto, levando-a a encontrar(se) ou até mesmo despedir-se do sentimento corrosivo por não conseguir permanecer em casa ou exercer seu cotidiano profissional. Então, nesse trânsito contínuo, suas observações e contatos lhe trazem a amplitude do mundo, talvez por soma de espaços e tempo, oferecendo-lhe um movimento com mais autonomia e, sobretudo, ampliando sua abrangência.
4 de abril de 2013
Labor
Meu amor vitalício,
Bem-querer efetivo no meu pensamento,
E que o sonho seja apenas um adicional noturno
No trabalho constante de querer
Que um dia seja real.
A você, meu mais suado expediente.
Bem-querer efetivo no meu pensamento,
E que o sonho seja apenas um adicional noturno
No trabalho constante de querer
Que um dia seja real.
A você, meu mais suado expediente.
3 de abril de 2013
Bem-me-quer mal me coloriu
Dia de insônia é tudo igual. É claro o suficiente pra incomodar os olhos que anseiam dormir. É escuro o bastante pra não ver nada além do que a preocupação de sempre: o dia seguinte.
Eu planejei uma viagem sob desculpas pra vida inquieta. Inventei uma paisagem de concreto e muita tinta sobre os muros pra colorir minha passagem em terras que poderiam revelar um futuro brilhante. As cores verdadeiras não são, ao menos, acetinadas. Eu vi no fosco da ocasião um brilho que não existe. E cair em si é a melhor tintura pra o pensamento. Então pensei em desistir, não colorir mais nada, não acreditar em gentileza, e não precisar de favor. Venho vivendo de favores...
Caí na noite que não enxerga o sono. Pensei em tudo antes de ir, na lembrança a regalar, na vontade de chegar, sobretudo, onde não é meu lugar, nem nunca será, o fosco não me agrada. Escuro o bastante pra não ver o dia posterior, pois ele não existirá da forma que eu imaginei. Imaginação vai além, mesmo, a única coisa e é à toa.
Ir armado de bom moço que sou não é a melhor fantasia, porque nem mais preciso me fantasiar, nem mais preciso ter medo. Vivido o necessário pra saber que vida mais que a minha só importa se for a ela se fundir ou, como legado mínimo, compartilhar, daqui e de lá, um pouco de cada nuança. Essas cores do dia seguinte só não me fazem acreditar que monocromia hoje está aquilo que pensei diversificar.
Assim tem uma aquarela, uma possibilidade real, e ela não parte da ausência de cores; jamais um branco faria tão interessante o que a demão dos dias, ultimamente, faz-me perceber que escureceu o bastante pra não me preocupar com o de sempre. Quem sabe um dia seja mais claro, mas não em razão de uma insônia, senão pelo trato de uns dias de sol do lado de cá, que eu sempre quis pra mim.
Imagem: Aquarela de Gabriela Seltz
7 de março de 2013
Eduardo Galeano: A demonização de Chávez
Senti muitíssimo a partida de Hugo Chávez, porque, ademais de um grande presidente para a Venezuela, pude me corresponder, durante quase uma década, com uma senhora venezuelana sobre a vida e, sobretudo, a vida em seu país. Portanto, sei, como testemunha distante, o quanto pessoas inteligentes e sonhadoras por uma nação melhor - assim como conheço diversos brasileiros - que atrás de uma pressão internacional muito cruel, há indivíduos que nos trazem a verdade à tona. E por ter esse olhar privilegiado, transcrevo, aqui, o texto do jornalista uruguaio Eduardo Galeano.
Hugo Chávez é um demônio. Por quê? Porque alfabetizou 2 milhões de venezuelanos que não sabiam ler nem escrever, mesmo vivendo em um país detentor da riqueza natural mais importante do mundo, o petróleo.
Eu morei nesse país alguns anos e conheci muito bem o que ele era. O chamavam de “Venezuela Saudita” por causa do petróleo. Havia 2 milhões de crianças que não podiam ir à escola porque não tinham documentos… Então, chegou um governo, esse governo diabólico, demoníaco, que faz coisas elementares, como dizer: “As crianças devem ser aceitas nas escolas com ou sem documentos”.
Aí, caiu o mundo: isso é a prova de que Chávez é um malvado malvadíssimo. Já que ele detém essa riqueza, e com a subida do preço do petróleo graças à guerra do Iraque, ele quer usá-la para a solidariedade. Quer ajudar os países sul-americanos, e especialmente Cuba.
Cuba envia médicos, ele paga com petróleo. Mas esses médicos também foram fonte de escândalo. Dizem que os médicos venezuelanos estavam furiosos com a presença desses intrusos trabalhando nos bairros mais pobres. Na época que eu morava lá como correspondente da Prensa Latina, nunca vi um médico.
Agora sim há médicos. A presença dos médicos cubanos é outra evidência de que Chávez está na Terra só de visita, porque ele pertence ao inferno. Então, quando for ler uma notícia, você deve traduzir tudo.
O demonismo tem essa origem, para justificar a diabólica máquina da morte.
Foto: Aporrea.org
27 de fevereiro de 2013
Da maternidade ao cemitério: o sabor do sal na mão.
"Nem muitas águas conseguem apagar o amor; os rios não conseguem levá-lo na correnteza. Se alguém oferecesse todas as riquezas da sua casa para adquirir o amor, seria totalmente desprezado"
Cantares de Salomão 8:10
A quem acusar de traição quando o pensamento se prostra a entregar à lembrança, ainda que no descanso, o tempo que já não existe? Ainda posso atribuir a falha aos meus antigos desejos suscitados por um recente caso de observação de mim, por outros olhos, não meus? Entrego a Deus, o senhor misterioso de segredos, pro fim que nem como quem decide acalentar-se, toda minha agonia de sentir à memória de fatos vividos e um toque, meu pedido, a mais nesse corpo carente de saúde que, porém, exala a vitalidade da mente sã, traiçoeira das minhas noites, por vingar-se dos dias que encubro das demais coisas: sua necessidade de pedir aquilo que só o tempo curto soube decifrar para além dos dias.
Eu me entreguei ao divino poder por não achar razão que soubesse me enganar tão bem; por ela não decidir, por mim, aquele trato em cuidar de uma só pessoa, a necessária, numa casa insalubre: a minha. Ao pai eterno, como um filho tenro e temente, meus dias de caos sob suas mãos poderosas, só elas para aliviar meus aflitos e posteriores dias. Dou-lhe as horas mais sagradas que já perdi, em meio à inteligência que não me serviu de coisa alguma além de contestar minha própria existência, o deslumbre com a poeira farta, reluzente e que engana, e até minha coleção de papéis sofríveis certificando o obsoleto.
Entro em crise anos após anos, por não saber narrar, por falta nome, por defrontar-me com o perdido - acho que escondi de mim mesmo - sentimento sem veredicto.
Acordo no meio de cães latindo, vendo sempre o copo d'água e as duas doses de ânimo sobre o improvisado salva-vida das manhãs solitárias. Dois venenos completos que ainda conseguem me aliviar do anseio de ruir. Duas drágeas representando minha vida e a da coisa mais amada nesses instantes de perfídia, dela, novamente, a mais bela peçonhenta, a qual cria a imagem, remanesce o cheiro, ludibria o som dos cães inquietos para que sobressaia o sorriso daquele que desde ontem se calou.
Por assim dizer, trago do velho testamento, ressuscitando a minha vontade, de incluir diversas vezes o antigo no seio do cemitério. Se um lugar fosse perfeito, melhor que morrer velho, e me dado à escolha, neste mundo fora do útero: maternidade - eu diria. Porque só as mães são felizes e, com a minha, foi unicamente a melhor e mais confortável sensação do amor.
24 de fevereiro de 2013
Da porta fechada
O quase-lá, um falta-pouco
Desde quando não subtrai
Fica o sufoco!
De subtração
Perco as contas.
Dedo aponta pra há Via Não.
Rua das mazelas,
Número improvável.
Estabeleço meu endereço
E esqueço do passado.
Quando vejo lá em frente,
Novamente,
Falta pouco.
Repetidas vezes,
Um de grão em grão.
Estou cheio de papo reto.
Papo cheio, curvilíneo,
A sombra do meu pescoço aponta o nó.
Olha, jamais me acusaria de perdas
Se os danos causados eu contasse...
Pouco.
Eu perdi mais uma vez
Pra encontrar eu-outro;
Achar que é novo
O endereço que passei
À porta.
Se a vida fosse máquina registradora,
Em cada soma de pouquinho:
[sinal de igualdade]
Números díspares.
Quantos zeros à esquerda?
Quanta destra mão a bater nessa porta!
Uma maçaneta que canhotos braços,
Esticados, bem-vindos de frontais encontros,
Entrelaçariam nos meus ambos cúmplices
Braços estes que se lamentam:
"Dois são poucos."
Distribuir abraços,
De porta em porta,
Como se fosse um dia de boas-vindas
Infindas a aliviar sinais desabrigados.
Um pouco mais.
[sinal de soma]
Quanto melhores e mais forem sinais
E a razão pela qual se conta nos dedos...
O sinal de igualdade anuncia:
Fechado para conferir saldo.
Desde quando não subtrai
Fica o sufoco!
De subtração
Perco as contas.
Dedo aponta pra há Via Não.
Rua das mazelas,
Número improvável.
Estabeleço meu endereço
E esqueço do passado.
Quando vejo lá em frente,
Novamente,
Falta pouco.
Repetidas vezes,
Um de grão em grão.
Estou cheio de papo reto.
Papo cheio, curvilíneo,
A sombra do meu pescoço aponta o nó.
Olha, jamais me acusaria de perdas
Se os danos causados eu contasse...
Pouco.
Eu perdi mais uma vez
Pra encontrar eu-outro;
Achar que é novo
O endereço que passei
À porta.
Se a vida fosse máquina registradora,
Em cada soma de pouquinho:
[sinal de igualdade]
Números díspares.
Quantos zeros à esquerda?
Quanta destra mão a bater nessa porta!
Uma maçaneta que canhotos braços,
Esticados, bem-vindos de frontais encontros,
Entrelaçariam nos meus ambos cúmplices
Braços estes que se lamentam:
"Dois são poucos."
Distribuir abraços,
De porta em porta,
Como se fosse um dia de boas-vindas
Infindas a aliviar sinais desabrigados.
Um pouco mais.
[sinal de soma]
Quanto melhores e mais forem sinais
E a razão pela qual se conta nos dedos...
O sinal de igualdade anuncia:
Fechado para conferir saldo.
23 de fevereiro de 2013
O réu imperfeito: dizente.
Cara Perfeição,
Faz algumas décadas que a procuro e não encontro. Vejo que muitos dos meus amigos andam comentando sobre sua estada com eles, e me sinto enciumado de não a ter tão próxima quanto eles. Aliás, acho até que são comentários absurdos sobre sua aparição, mas desconsidero, muitas vezes, por motivos meus, porque acredito que seja uma projeção banalizada de propriedade. No entanto, isso causa alguma tristeza por achar que a mim não leva a sério o reclame.
Assim, decidi escrever pretensamente esse sentimento de orfandade e entregar-me, por meio desta, para que, se não vier aqui, ao menos envie um de seus subterfúgios corriqueiros; porquanto me satisfizerem os desejos, estarei um pouco mais feliz.
Sei que não estou me humilhando em troca de seu olhar mais atento, pois tenho me esforçado, com a experiência de alguns anos, a espanar a poeira que sua antagonista insiste em deixar sobre meu cronológico empório de coisas vãs. Induze-me ao ato de proclamar uma liberdade alheia à sua companhia, caso não queira estar comigo um dia de vida sequer. Estou necessitado da independência ao seu abandono decisivo. Se for esse, em sua consciência, o máximo que alcançarei até o fim do meu calendário, permita-me então saber, de uma vez por todas, que seu sinal está longe, diante de suas observações, do meu aparato de captação em prol da nossa sintonia.
Ainda reitero que me esforcei pela conveniência de um dizer sem grande intimidade, visto que estou ciente que o seu canal dista de tudo o que alcancei até hoje. Portanto, desculpas, sinceramente, em contar de alguma maneira que lhe pareça pretensiosa.
Para finalizar, justifico esta necessidade, uma vez mais, porque a essa altura da pequenez humana, eu jamais ousaria engrandecer outro aspecto, devido às comprovadas evidências que tudo em mim foi falho. Desdigo, se necessário, representando qualquer grupo que me pertença, a soberba de garantir sua presença no semblante de um perfil o qual, indigente, relacione sua existência com a arrogância de não ser e querer aparentar.
Aqui, faço votos de sublime importância para estrada onde anda e que uma encruzilhada respeite sua passagem quando, da sua vontade, não for colidir.
Em trânsito, espero que não julgado,
Seu mais suplicante,
Réu.
Faz algumas décadas que a procuro e não encontro. Vejo que muitos dos meus amigos andam comentando sobre sua estada com eles, e me sinto enciumado de não a ter tão próxima quanto eles. Aliás, acho até que são comentários absurdos sobre sua aparição, mas desconsidero, muitas vezes, por motivos meus, porque acredito que seja uma projeção banalizada de propriedade. No entanto, isso causa alguma tristeza por achar que a mim não leva a sério o reclame.
Assim, decidi escrever pretensamente esse sentimento de orfandade e entregar-me, por meio desta, para que, se não vier aqui, ao menos envie um de seus subterfúgios corriqueiros; porquanto me satisfizerem os desejos, estarei um pouco mais feliz.
Sei que não estou me humilhando em troca de seu olhar mais atento, pois tenho me esforçado, com a experiência de alguns anos, a espanar a poeira que sua antagonista insiste em deixar sobre meu cronológico empório de coisas vãs. Induze-me ao ato de proclamar uma liberdade alheia à sua companhia, caso não queira estar comigo um dia de vida sequer. Estou necessitado da independência ao seu abandono decisivo. Se for esse, em sua consciência, o máximo que alcançarei até o fim do meu calendário, permita-me então saber, de uma vez por todas, que seu sinal está longe, diante de suas observações, do meu aparato de captação em prol da nossa sintonia.
Ainda reitero que me esforcei pela conveniência de um dizer sem grande intimidade, visto que estou ciente que o seu canal dista de tudo o que alcancei até hoje. Portanto, desculpas, sinceramente, em contar de alguma maneira que lhe pareça pretensiosa.
Para finalizar, justifico esta necessidade, uma vez mais, porque a essa altura da pequenez humana, eu jamais ousaria engrandecer outro aspecto, devido às comprovadas evidências que tudo em mim foi falho. Desdigo, se necessário, representando qualquer grupo que me pertença, a soberba de garantir sua presença no semblante de um perfil o qual, indigente, relacione sua existência com a arrogância de não ser e querer aparentar.
Aqui, faço votos de sublime importância para estrada onde anda e que uma encruzilhada respeite sua passagem quando, da sua vontade, não for colidir.
Em trânsito, espero que não julgado,
Seu mais suplicante,
Réu.
19 de fevereiro de 2013
Falta nome
Tudo se chocando, o mundo perdido;
Cada um olhando pro próprio umbigo,
Alcançando seu monte de coisa,
Aglomerando situações e pedrinhas,
Criando gerúndios invencíveis
Para sentir permanentemente ativos.
Um nome não importa.
Dois nomes são qualidade coletiva?
Três é montante.
Quanto mais se vê,
Mais se engana.
Tenho tudo aquilo que eu quis
E não tenho o que preciso.
Ou uma coisa ou outra.
Opções.
Alternativas padecem
No meio das outras
Mãos perdidas
Tateando para encontrar
Mão perdidas.
Quando me vejo cego,
Quando escuto tua voz,
Sinceramente,
Tu não és nada mais que eu;
Eu já não sou -
Faz tempo -
O mesmo desde quando tu eras um pouco eu.
E atendias por outro nome.
Assim nem sei como me chamo
Quando pronuncio teu nome.
14 de fevereiro de 2013
Papo de Anjo
A canção de Baby ressoa
há dias na minha cabeça,
sem coro, coração folião relembra:
"Papaparicando um papo de anjo
Pé-de-moleque malandro
Papaparicando parecendo o tal
No meio de baile de carnaval
Cupido flechou meu coração
Menino, você é um artesão
Seu rei mandou falar de amor
Agora eu sei qual o sabor que tem."
O carnaval acabou.
Tudo aparência momesca:
Risos com dias contados
E dias passados se vão quando a máscara
de pierrô e colombina voltam pro fundo do baú.
Um rosto qualquer um.
Qualquer dia desses terá carnaval
E um outro sabor.
24 de janeiro de 2013
Amor via Facebook
Quando cair a lágrima
Não se esqueça de postar.
É nossa saudade que avisa
Tão bandida,
Que sumiu da minha vista o olhar.
Linha do tempo marca presença
Nesse bom dia que me darás;
Manhãs plenas de cereais, frutas e...
O melhor filtro para app dizer:
Comi, amor.
Um prato cheio são as declarações que digo.
Olha, meu coraçãozinho treme
Só de pensar que à noite
Vou continuar dormindo sozinho.
Vou ligar pra quem sabe... quem ouve
E dizer que boa noite...
Que se foi um dia assim:
Sem ninguém.
Vou querer conectar assim,
Ao acordar,
Todos os dias.
Mania de perseguir a seta do teu álbum
E ver tuas fotos do passado
Sabendo que ali jaz meu condenado futuro.
Posso ficar revendo tudo amanhã.
Ninguém duvida.
Vou amar de novo,
E, de novo, vou contar pra minha mãe
Estou sem emprego, mas consegui amor.
E ela vai lembrar,
De novo: -
Ó, mãe querida!
- Pão com ovo é coisa que detesto na vida, né?
Gostei do estilo de escrever aquela legenda,
Apaixonei-me novamente pela mirada perdida.
Uma foto de perfil,
O rosto de lado.
De frente,
Ignoro novamente o tanto que ficou pra trás.
Quando, permite-me, eu anexar arquivo:
Minha emoção vai junto.
Mais um link.
Quer dizer, nada a ver com meu sonho.
Então me vejo perdido.
Mamãe já sabia.
Passei uns dias aí
Desintegrando orgulho,
Disfarçando coisas,
Banindo universo -
O cibernético.
Pela culatra saiu toda poeira
Que resultou daquele tiro no escuro.
Assim sendo,
Mesmo querendo,
A gente sabe de que transmissão estava vivendo.
Até o próximo perfil que automaticamente foi sugerido.
Quem conta pra o amigo assim:
- Recebi uma cutucada.
Parece que amor não é mesmo um sol poente?
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