Estou no engarrafamento, parado num trânsito maluco. Pessoas estão buzinando com pressa, estressadas porque têm seus compromissos e ficar presas lhes causa agonia. O que essas pessoas estão fazendo? Eu não entendo que elas culpam as outras por esta situação se isso foi causado por todos nós, porque somos condutores neste caminho.
Estou agonizando com elas, não é minha pressa, mas pelas coisas que vejo daqui - no cárcere automotivo -, observando situações confusas, impotente sem poder mudar muito, a não ser quando sair daqui.
O retorno na Saída 2 não dá mais... Onde está aquele viaduto para sair por cima? Quem me dera poder simplesmente abandonar a geringonça que me sustenta tão mal para eu dizer apenas que estou indo...
Os vidros estão fechados, para evitar o máximo esse desconforto sonoro, essa poluição de máquinas que, em sua combustão, lançam seus reagentes no ar que eu respiro. Enquanto isso, tento me distrair com o som alto do radio, o maior volume que consigo, para evitar meu grito agonizante e não prejudicar minhas pregas vocais, que logo serão necessárias para minha comunicação sobrevivente.
Meu corpo já transpira muito, o calor aqui dentro é insuportável - não posso abrir os vidros - o sistema de ventilação foi danificado pela última carona que se meteu e saiu impune. Quase sufocante.
E tudo que eu gostaria neste momento era poder voar, mas "não diga que fui eu que voei."
Vou sair de dentro desta estufa de solidão sob a pressão de buzinas por todos os lados, correr desse trânsito no qual atrevi meter-me. Quanto aos meus pés, falarei deles quando estiver sobre os próximos ovos os quais pisarei.
*Menção à música de Otto
Imagem: Capturada de Rio Real News Blogspot
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