24 de agosto de 2017

Coqueiro só


Coqueiro só. Ali, contemplando a beleza do mar de Jatiúca, na cidade de Maceió. Foi hoje, o vento balançava o topo, sua copa; ele partia quase ao meio a paisagem paradisíaca, desabitada naquelas proporções de um por um da fotografia. Ondas mansas, a maré rasa, o céu azul, pincelado com o branco das nuvens repousadas sobre o horizonte. Até onde a vista alcançava. Os corais enegreciam o azul turquesa que se misturava ao verde esmeralda num balé de cores, que o concreto da calçada, passadeira sem passante, completava o visual do fim da manhã.
Coqueiro só. Ali, fazendo sombra para ninguém, fazendo sentido para a areia que recebia todos os raios quentes de um dia soalheiro. Alguma coisa nesta paisagem tinha de fazer sentido. Pelo menos aos olhos que se entremetiam, como pronomial verbo de servir de estorvo para a calmaria toda deste dia desperdiçado à espera de que os olhos recebessem qualquer sinal de conflito: poderia ser a chuva repentina que faz dias caem sobre a capital alagoana ou poderia ser o dilúvio que se espera para terminar diluído em águas mornas os matizes plangentes da alma.
Coqueiro só. Aqui, sem frutos a dar, sem coco para atirar sobre as cabeças de quem por baixo caminha e, acidentalmente, tem uma rajada da natureza: com sol, com coco, com chuva, com qualquer esperança que caia de cima, do céu. Um descrente que nunca espera do acaso motivo para ruptura de paisagens tranquilas.
Coqueiro só. Aqui, só, vai estar. Só aqui também faz sentido, diante deste mar bonito, diante deste azul infinito. Mas o coqueiro continua diante de tudo isso, e só. Imóvel.
Coqueiro só. Não vai longe, não vai a lugar algum. Posa para uma fotografia, no máximo, a fotografia que paralisa o tempo, que corre o mundo, mas o coqueiro segue sozinho esperando que sua sombra dê sentido para algum passante que encontre sob ele o descanso de seus conflitos.
Coqueiro só. Coqueiro que tomei para mim metáfora que, dentro desta beleza quadrada da fotografia, tem mais a dizer de quem o fotografou do que de si mesmo. Às vezes as coisas dizem mais de nós do que delas mesmas. Mas há uma diferença entre o dito - quer na imagem, quer nas letras - e o que realmente se cala. O coqueiro calado que segue só e eu me aproprio a dizer dele e de nós.
Coqueiro só. De hoje. Maceió

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